As empresas precisam (e muito) do feminino

por Carol Ito

Dizer que a mulher “lidera como um homem” não é elogio. Raj Sisodia, um dos fundadores do Capitalismo Consciente, defende o equilíbrio entre valores masculinos e femininos nos negócios

Numa época em que a economia, o meio ambiente e até a saúde mental das pessoas parecem estar à beira do colapso, fica a dúvida: o que perpetua esse desenvolvimento insustentável, que parece condenar a humanidade a um futuro sombrio? Para o consultor de negócios indiano Raj Sisodia, os valores exageradamente masculinos que regem o capitalismo – e, por consequência, o mundo do trabalho – são a fonte do problema.

O livro Liderança Shakti (HSM, 2017), escrito por ele em parceria com a indiana Nilima Bhat (palestrante internacional, iogue e instrutora de negócios conscientes), aborda o desequilíbrio de valores – ou “energias”, como preferem dizer - masculinos e femininos que afeta negativamente pessoas em cargos de liderança e alimenta os níveis de estresse e depressão no ambiente de trabalho.

A ideia é apresentar um outro modo de encarar os negócios, mais empático e cooperativo, associado ao princípio feminino de Shakti, ligado à criação e ao cuidado na tradição iogue indiana. Os autores foram convidados pela Tpm para o bate-papo “Quem precisa do feminino?”, realizado no Civi-co, em São Paulo, na última quarta-feira.

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Eles explicam que o modelo de liderança dominante, criado pelo patriarcado, valoriza comportamentos baseados em hierarquia, competição, recompensa e punição. Do outro lado, características ditas femininas, como vulnerabilidade, intuição e gentileza são, muitas vezes, menosprezadas e isso acarreta um enorme atraso na construção de um sistema mais justo.

“Pensar em masculino e feminino não é sobre gênero, é sobre energias que estão presentes tanto em homens como em mulheres. Grandes líderes como Dalai Lama e Martin Luther King, por exemplo, equilibravam competências positivas masculinas (como racionalidade, estabilidade, disciplina) com as femininas (empatia, compaixão, cuidado)”, diz Raj.

A busca é pelo equilíbrio. “Quando líderes de ambos os sexos aprenderem a adotar essa mentalidade, poderemos recuperar a sanidade, elevar a humanidade a um novo plano e curar o planeta com consciência”, explicam os autores no prólogo do livro. Nesse sentido, dizer que uma mulher “lidera como um homem” está longe de ser elogio.

Dinheiro consciente

Além de consultor, Raj é professor de negócios globais na Babson College, nos Estados Unidos, e um dos idealizadores do movimento Capitalismo Consciente, que propõe a reformulação dos valores que permeiam o mercado. Ele e o empresário norte-americano John Mackey são autores do best-seller Capitalismo consciente: como libertar o espírito heroico dos negócios (HSM, 2013), que orienta mais de 40 organizações pelo mundo, em 14 países, incluindo o Brasil.

As empresas, de acordo com esse conceito, devem ter propósitos que atendam a necessidades reais da comunidade, promover relações de trabalho mais justas e proporcionar um ambiente saudável. “Um negócio é sobre pessoas não sobre lucro a qualquer custo. Temos um ditado na Índia: ‘O dinheiro não tem sentido se você não respeita a forma como você ganhou’”, reflete o indiano. “O negócio consciente tem impacto na saúde, educação, meio ambiente e daí por diante”, completa.

Créditos

Imagem principal: Layla Motta

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