A produtora norte-americana Ark Music Factory é a nova fábrica de hits do YouTube
Que Motown que nada! Hitsville, USA, mudou de endereço e deixou a gelada Detroit e seu passado de grandes fenômenos de popularidade para viajar até Hollywood, mais especificamente na Melrose Avenue, onde dois produtores parecem ter encontrado a galinha dos ovos de ouro na era da popularidade relâmpago do YouTube. O nome da nova fábrica de hits? Ark Music Factory.
Se você tem acesso à internet, certamente já ouviu o mais novo sucesso-chiclete que dominou a timeline do Twitter e do Facebook nos últimos dias. A pegajosa Friday, da cantora adolescente Rebecca Black, de apenas 13 anos, caiu no gosto pelo trash dos internautas e levou a então desconhecida garota a um louco passeio na montanha russa do cyberespaço, aquela que sempre deixa o "astro" no limite entre a admiração e a galhofa total e completa. Seu vídeo já tem mais de 12 milhões de views e seu nome não sai dos Trending Topics do Twitter há dias.
Mas o que torna a Ark Music diferente das outras centenas de produtoras musicais que investem em jovens talentos no mundo todo? Eles estão no mercado para realizar sonhos de popstars, não para formar astros de verdade. O negócio da Ark é muito simples: colocando um preço na produção de seus artistas, os produtores atraem pais orgulhosos que adorariam ver seus filhos engrenando uma carreira musical e transformam o "maior talento da casa da mamãe" na nova sensação da internet. Como? Com todo o Auto-Tune do mundo.
Máquina de hits
O sistema criado e encabeçado pelos produtores Patrice Wilson e Clarence Jey é muito simples: a dupla recebe o investimento dos pais esperançosos de jovens (especialmente meninas) entre 8 e 17 anos. Com a estrela escolhida, Wilson e Jey escrevem e produzem o "single" e atolam a voz da garota no mais comprimido dos autotunes. Depois partem rapidamente para a produção de um clipe usando o máximo de Chroma Key possível, preparam um download de ringtone, sobem o vídeo para o YouTube e voilà, está lançada mais uma bomba nessa casa da mãe Joana chamada internet.
O catálogo de estrelas dos senhores Patrice e Clarence já está recheado de aspirantes pré-adolescentes a cantoras, cada uma delas com uma música que já nasceu candidata a webhit. A fórmula se repete mil vezes no trabalho dos produtores, que se não vão criar em seu quintal o próximo American Idol, ao menos vão deixar felizes seus investidores primários, com pais totalmente orgulhosos de poderem alimentar a vaidade das meninas.
Se os novos artistas vão decolar é difícil dizer. Mas temos de dar o braço a torcer para o tino empresarial de Wilson e Jey. Em seu canal no YouTube, /trizzy66, é possível ver dezenas de seus popstars mirins pré-fabricados.
"It's Fraah EE Daayee"
Por mais insuportável que a música de Rebecca Black seja e por pior que seu clipe possa parecer, os produtores da Ark Music encontraram, enfim, uma equação funcional para o problema "quanto vale investir no lançamento de um novo artista". De acordo com o sistema da dupla, não é preciso gastar nada. Pelo menos, não do bolso deles.
Afinal, de onde vocês acham que veio todo esse dinheiro para alugar estúdios, contratar equipe de filmagem, alugar espaços para festas de lançamento e contratar músicos? Vai me dizer que a venda de ringtones de Friday pagou por tudo isso? Fato é que essa dupla de visionários tapou o buraco por onde toda a indústria musical está sendo sugada ao apelar para o mais primário tipo de investimento e de crença no trabalho de um novo cantor ou cantora. Os confortáveis fundos do "paitrocínio" da classe média alta dos Estados Unidos e o amor incondicional de mãe e pai, que não deixa de amar nem mesmo quando encara algo tão nefasto como esse refrão de Friday.
Se você é um dos poucos sortudos que ainda não sabe do que eu estou falando, clique no vídeo abaixo e decida se quer ir no banco da frente ou no banco de trás, essa dúvida tão cruel que pressiona a cabeça da jovem Rebecca Black.