Erros e Acertos
Dizem que o tempo soterra os erros cometidos. Não concordo. Nós somos o que esta em nossa memória, o que acumulamos de experiência na existência. O que fizemos de nós. Creio que os erros cometidos se acumulam e se sedimentam, dando forma ao que somos.
Tenho mais de vinte cadernos lotados de anotações, fragmentos de poesias, pensamentos, introduções, pesquisas, estudos, textos inteiros, cenas, personagens e muitos textos inacabados. Muita coisa inédita, um depósito de idéias anotado. Tem muita coisa que não deu certo enterrada lá como em um cemitério. Mas sempre que tenho um texto de peso para escrever, dou uma passada de olhos por lá. Vasculho os cadernos em busca de idéias, inspirações, conteúdos e até formas. Às vezes nesse garimpo, encontro fragmentos que diluem o vácuo de idéias e o texto acaba ganhando vida e dinâmica própria.
Creio que esses erros acumulados são como esses meus cadernos que, como cemitérios, enterro coisas que não ousei publicar (possíveis problemas desnecessários, ou ruim demais), coisas que não deram certo, erros comuns e enganos.
É vasculhando no cemitério de nossos erros que encontramos as sepulturas que nos interessam abrir. A experiência que vai nos proteger para não cometermos os mesmos erros novamente. Formam a base de nossos radares existenciais, já que nossa mente funciona por meio de associações. Parece que é sabendo evitar erros já cometidos, ao fazermos nossas escolhas, que vamos encontrando os caminhos dos acertos. Por exemplo, sabemos que nada, absolutamente nada nos vem de graça. Tudo tem um preço, por mínimo ou simbólico que seja. Caso algo surja assim do nada a nos oferecer vantagens indevidas, lucro fácil e rápido, só nos envolvemos se nossos olhos ficarem maiores que a nossa capacidade de raciocinar. O preço, geralmente, não vale o produto.
Ao concluir essa reflexão, percebo então que o tempo nos cumula das experiências que nossos erros têm a nos ensinar. Quanto mais nos tornarmos capazes de aprender com nossos erros, mais habilitados estaremos para acertarmos. Exatamente por isso que não é quem mais erra que tem mais chances de acertar, mas sim quem mais aprende com seus erros. O erro é um acerto, no tempo. É óbvio que há graduação nos erros e nos acertos. Erros menores e acertos pela metade. Erros e acertos absolutos só existem a nível teórico, porque a ciência explica: nada é absoluto ou para sempre. O erro, ao fim e ao cabo, tem a mesma importância que o acerto porque viver é errar e acertar.
**
Luiz Mendes
09/07/2013.