por Apex-Brasil

O deficiente não sou eu

apresentado por Apex-Brasil

A designer Paula Dib sempre dizia: “Uso a minha visão de maneira integral”. Agora ela mudou de ideia – prefere fechar os olhos para conseguir enxergar melhor.

Já imaginou a sua vida completamente no escuro? Um mundo em que o sentido da visão é totalmente corrompido, e a audição, olfato, tato e paladar se tornam seus maiores aliados. Feche os olhos. O que você vê?

Recém-chegada ao Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, a exposição Diálogo no Escuro apresenta uma experiência sensorial impactante. Durante pouco menos de uma hora, pessoas de diferentes idades e estilos vivenciam o mundo como um deficiente visual. De posse de uma bengala e atentos à liderança de um guia cego, grupos de até oito pessoas seguem rumo ao desconhecido, sob os auspícios de basicamente três sentidos: olfato, audição e tato. São eles os motores de novas sensações, em que é possível enxergar sem ver. Geralmente com menos barreiras e muito mais compreensão.

A Trip e a APEX-BRASIL, patrocinadora do projeto que já rodou mais de 40 países, convidaram a designer Paula Dib para viver essa experiência. 

Qual é a sua relação com a visão? Eu sou designer e um dos motivos para escolher essa profissão é porque a visão sempre foi essencial para mim. Percebo os lugares por formas, volumes, cores. Imagino que o que vai mudar é a forma como eu enxergo as pessoas com deficiência visual. Acho que é a mudança mais imediata, como dizem por aí: [quando você] “veste o sapato do outro”, nunca mais caminha da mesma forma.

O que perguntaria a um deficiente visual? Qual o próximo sentido?

Como foi a experiência para você? Primeiro, é uma convocação de todos os sentidos. Eu disse inicialmente que a visão era integral para mim, e eu percebo que na verdade, não. Fiquei me questionando se de fato vejo alguma coisa. Isso é muito surpreendente. Quanta coisa a gente deixa de ver por não tocar, por não encostar, por não chegar?

Paula, qual é o próximo sentido? Falei que a audição seria o segundo sentido mais importante. E de fato é, porque logo no primeiro momento senti uma claustrofobia como se estivesse presa no meu próprio corpo, uma aflição, e a partir do momento que você fala, tem a dimensão do espaço. E muda tudo. Mas eu acho que o sentido mais importante na sequência é o tato. Óbvio, o braile é pelo tato, mas eu senti que uma dimensão absolutamente nova se abriu a partir do momento em que comecei a tocar nas coisas. É como se eu virasse a deficiente por não poder experimentar o mundo com tanta intensidade. Vou começar a fechar o olho mais vezes para poder ver.

Vai lá:
Museu Histórico Nacional. Praça Mal. Âncora S/N – Centro, Rio de Janeiro, RJ
Unibes Cultural. Rua Oscar Freire, 2500 – Sumaré, São Paulo, SP 

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