Estreia o filme Uma noite em 67, retrato de um marco na história dos festivais no Brasil
O longa Uma noite em 67, de Ricardo Calil (diretor de redação da revista Trip e crítico de cinema) e Renato Terra abriu o festival de documentários É Tudo Verdade, em São Paulo. Em 21 de outubro de 1967, noite da qual se trata o filme, acontecia a final do III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, que marcou a história da música brasileira como um de seus momentos mais importantes. Entre os finalistas estavam Caetano Veloso (vaiado ao apresentar "Alegria, Alegria", hino da Tropicália), Gilberto Gil, Chico Buarque e Edu Lobo.
Carlos Nader, diretor do documentário Pan-cinema permanente e colunista da Trip e cineasta, escreveu na Trip #185 sobre o filme. Leia abaixo:
Uma noite eterna
Uma noite em 67 gira em torno dessas apresentações. É um documentário sobre seis canções. Simples assim. O complexo, na história do filme e do Brasil, é que em torno dessas apresentações giraram e ainda giram as questões mais essenciais da nossa cultura popular. Popular ou pop? Engajada ou alienada? Enraizada ou antenada? As polaridades que desde sempre energizam nossas manifestações artísticas colocaram-se no palco da Record com uma clareza e uma vitalidade tão únicas que já levaram muita gente a rotular aquela noite como “a mais importante da MPB”.
É de Gilberto Gil a participação que traduz mais inteiramente o clima milionário de contradições da época. Lá pelas tantas, o filme nos mostra que ele realiza a duvidosa proeza de participar de uma caduca passeata antiguitarra em SP pouco tempo antes de colocar Os Mutantes, com a guitarra de Sérgio Dias, ao seu lado no palco. Num depoimento emocionante, ele afirma essa e outras contradições, dizendo que a soma transcendente delas é, sempre foi e sempre será o signo de sua música. Nesse sentido, ele encarna com malemolente exatidão um Brasil não só daquela época, mas de todas. E dá sua contribuição ao documentário de Terra e Calil que, nesse diapasão, pinta uma só noite para ser eterno.