por Luiz Alberto Mendes

Porque a vida é feita de quantas dores forem necessárias, e, no final das contas, nada disso é inútil

Às vezes chego a ter certeza de que somos movimento. Sinto o vento me envolvendo e a história se abrindo para nos abrigar. Dou o nome de vida a esse fenômeno de deslocamento existencial. Morte é cessação de movimento. Por mais consigamos acalmar nossa alma, com a coluna ereta e a mente quieta, ainda assim, há movimento.

Às vezes rodopiamos até ficarmos estupidificados de alegria, em êxtase. Como podemos conter tamanho contentamento? Como é bom termos a capacidade de sermos felizes! O que não fazemos para atingir esse nível acima de ser-apenas, e ser-feliz? Fomos capazes de cometer atrocidades, verdadeiras loucuras, para chegar a esse nível de existência. Consequências, consciência ou o respeito pelo outro, não são limites. Por vezes parecem ser até estímulos.

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Ser feliz é um sentimento ou uma plenitude de ser? Podemos justificar todas as dores e riscos que se possa ter sofrido ou enfiado a cara para dar sentido real, palpável, à nossa existência. O passado morre, as dores tornam-se insignificantes e perdemos a memória para tristezas. Ligamos nosso "achômetro" e achamos que nada fizemos de verdade para merecer tanto. Para nós, o que damos é sempre menor do que o que recebemos. Nos valorizamos tão pouco... Chegamos a pensar que tem algo errado no script. Erraram o nome, o endereço, talvez...

Quando o guarda veio me avisar que eu havia "ganho" a liberdade, depois de mais de 31 anos de prisão cumpridos, não acreditei. Entrei em pânico. O que fazer, o que fazer, o que fazer... e tudo rodopiava à minha volta. As pernas amoleceram e ameaçaram me deixar em falta naquela hora tão minha. O primeiro pensamento foi de não acreditar; o segundo de não me achar merecedor; e o terceiro, o que faço agora? Liberdade era muito para minha cabeça há décadas literalmente presa. A alegria me engolfava, não me permitia vivê-la. Por muito pouco não vomitei, o gosto do café com pão da manhã veio na boca. Era grande demais, como se as portas do inferno tivesse sido aberto e eu saísse de lá explodindo labaredas, qual dragão de fogo.

Outras vezes nos encolhemos em uma pequenina concha que cabe no meio de nossa mão. Ali escondidos, ficamos a ouvir os ruídos do mundo, a selecionar aqueles que julgamos nos ameaçar; que sentimos, podem nos fazer mal. A tensão e medo são nossas atitudes frente aos desafios da vida. Às vezes a dor é tamanha, a angústia tão fixada nas paredes da alma, que acordamos gritando, agoniados. Pesadelos, torturas mentais e físicas. Horrores, perseguições e desesperos.

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Ah! De quantas dores é feita a vida de cada um de nós? Infinitas, talvez. Provavelmente, de tantas quantas forem necessárias. Nada me parece inútil na economia universal. A cada cabeça, a sua consequência, responde a vida.

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