A pergunta que antecede a corrupção

por Luiz Alberto Mendes

’Quem sabe se investigarmos pessoas como Suplicy e descobrirmos porque ele é incorruptível, possamos escolher políticos e administradores com suas características?’

Partindo do princípio de que todos somos imperfeitos e que todos, por conta disso, erramos, é possível que uma pessoa que é eleita para representar a maioria, política ou administrativamente, realize seu trabalho sem cometer erros, já que é imperfeita?

Acho que essa é a pergunta que antecede qualquer ideia sobre corrupção. Sim, porque há pessoas que, mesmo sujeitas aos erros que cometemos, são incorruptíveis. Claro que poucas, mas sem dúvidas elas existem. O ex-senador Eduardo Suplicy é exemplo disso.

Até no Japão, onde se, pegos em corrupção, os políticos são obrigados a se suicidarem, existem incidências. Em outros países, como a China, onde o fuzilamento sumário dos roubam dinheiro público é a norma, a corrupção ainda ocorre.

Do que se sabe, países onde a cultura é mais antiga e onde o investimento na educação é privilegiado, o índice de corrupção é sensivelmente menor, mas não deixa de existir. Houve tempos em que se acreditava na religião. Julgava-se que pessoas tidas como religiosas seriam menos suscetíveis a roubo de cofres públicos. Porém, o mito caiu nessa legislatura no país. Na bancada tida por evangélica, mais da metade esta sendo processada pelo uso indevido dos capitais públicos.

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O pior é o grupo dos partidos que comandam a política nacional e que têm todos seus líderes citados em processos de corrupção, ativa ou passivamente. Pessoas que determinam a política nacional há décadas estão todas envolvidas ou em vias de serem processadas na recente Operação Lava a Jato — alguns com prisão já recomendada por Juízes do Supremo Tribunal, inclusive. "Ilustres" senadores e até um ex-presidente da República, raposas velhas que inviabilizam governos e são flagradas conspirando juntas para desmobilizar operações como a acima citada. E o pior: ainda continuam no poder, discutindo, brigando e querendo ter razão.

Como no caso mais escrachado e comentado por toda nação, do ex-presidente da Câmara dos Deputados, cuja corrupção é mais que comprovada. E não podemos esquecer que ele é um dos chamados "religiosos" evangélicos da Câmara, daqueles que faziam oração antes de começarem as seções, essa experiência que comprovadamente não deu certo. O sujeito esta afastado do poder, mas detém o poder da chantagem e afirma com todas as letras que, se for preso, leva junto metade do congresso. Todos escutamos tal afirmação, juízes comuns, desembargadores, juízes da corte suprema, delegados federais, promotores, deputados, senadores, governadores, industriais. E ninguém se mobiliza para prendê-lo. Por que? Só da para concluir que ele esta falando a verdade: tem a todos em seus arquivos. Vivemos em um país onde a corrupção dá as cartas e joga de mão. Às vezes me parece que não há saídas. Maluf foi o precursor dessa prática política.

Caso se promovam novas eleições, a estupidez, a ignorância de quem vota, a influência e o dinheiro falarão mais alto. Provavelmente, as empreiteiras não financiarão mais seus políticos, mas esse vazio de poder será devidamente preenchido. As igrejas evangélicas elegerão os "pastores" evangélicos ou a quem indicarão. Os reacionários elegerão a bancada da bala, os ruralistas idem, e tudo voltará a ser como antes. Ah, sim, claro! O PT estigmatizado como se só eles fossem corruptos, elegerá poucos.

A solução? Quem sabe se investigarmos pessoas como Suplicy e descobrirmos porque ele é incorruptível, possamos escolher políticos e administradores com suas características? Ou então não existe, se partirmos do princípio de que o homem é imperfeito e sujeito a erros e falhas. Mas há como minimizar a ação nefasta da corrupção. Auditorias em cima de auditorias; fiscalização em cima de fiscalização; polícia federal em cima de polícia federal. Depois auditorias sendo auditoradas, fiscalizações sendo fiscalizadas e polícia policiando polícias, terminando com a presidência sendo a auditoria, fiscalização e policiamento mor. Tanta gente de olho em cima de gente que ficaria inviável corromper a tantos.

Só de uma coisa eu sei com certeza: ficar como está, não dá. É completamente inviável para um país que se quer nação.

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