No último ano, o ator protagonizou quatro filmes que faturaram R$ 92,5 mi. Aos 41 anos, acaba de passar por uma redução do estômago, que levou seus 150 quilos para 115. Nessa entrevista, diz o que pensa sobre peso, saúde, a prisão do pai e política
O ator e comediante Leandro Hassum está perdendo quilos e ganhando dinheiro.
Aos 41 anos, a silhueta está 35 quilos mais fina, e a conta bancária milhões mais gorda. Em 2014, Hassum estrelou as maiores bilheterias do cinema nacional. Protagonizou quatro filmes assistidos por 8,1 milhões de espectadores, que faturaram R$ 92,5 milhões. Até que a sorte nos separe 2 levou 4 milhões de espectadores ao cinema e arrecadou sozinho R$ 45 milhões. Foi o único filme brasileiro a fazer frente aos blockbusters americanos que dominaram a lista dos 20 filmes mais assistidos no país, capitaneada pelos 6 milhões de espectadores de A culpa é das estrelas.
A segunda maior bilheteria nacional de 2014 também foi estrelada por Hassum. O candidato honesto levou ao cinema 2,24 milhões de pessoas e faturou R$ 25 milhões. Vestido para casar, por sua vez, foi assistido por 1,27 milhão de espectadores com bilheteria de R$ 15 milhões. Os caras de pau em o misterioso roubo do anel atingiu 618 mil pessoas, com renda de R$ 7,5 milhões. O sucesso de público, no entanto, não encontra respaldo entre os críticos de cinema. "Caguei para a crítica. Continuo cagando e vou cagar sempre. O que incomoda a crítica é o fato de ser popular. Dizem que é humor rasteiro, sem mensagem política, sem refinamento. Para mim, a piada funciona se você riu. Se não riu, não funcionou. Pode ser elaborada pra caralho e não funcionar", fala.
Novo estômago
Números impressionantes também o perseguem na balança. Após cirurgia de redução do estômago, levou seus 150 quilos para 115 em três meses. Espera em breve cruzar a barreira dos 100 quilos. "No momento, acho que não tenho mérito nenhum de ter emagrecido. Ainda tenho preguiça de fazer exercícios", comenta.
Hassum fez a gastroplastia redutora, também conhecida como cirurgia de FobiCapella ou bypass gástrico. É um processo que reduz drasticamente o tamanho e o volume do estômago, diminuindo consequentemente a ingestão de alimentos. Com o uso de um grampeador cirúrgico, o estômago é dividido em dois segmentos: um, menor, servirá de "novo estômago", e outro, maior, será excluído da passagem dos alimentos. Parte do intestino é desviada para que haja absorção menor dos alimentos ingeridos. O volume diário de comida passa a ser em torno de 20% do de antes da operação. Com a diminuição forçada da ingestão de calorias, a perda de peso ocorre de forma acelerada.
Enquanto emagrece, Hassum dá sequência à carreira, que começou aos 16 anos, quando entrou num curso de teatro para extravasar a excitação da adolescência depois de ter sido expulso de três escolas. Nascido e criado na Ilha do Governador, na zona norte do Rio de Janeiro, Hassum dividiu a carreira de ator com outras profissões, como garçom e professor de inglês. Chegou a ser Papai Noel em shopping center. Em 2015, completa 25 anos como ator, e há 20 anos vive exclusivamente dos papéis que interpreta.
Há 15 anos, foi contratado pela Rede Globo para atuar no Zorra total. Tinha duas falas e recebia R$ 700 por mês. Quando já mantinha dois quadros no humorístico, saiu para estrelar o próprio programa, Os caras de pau, em que atuou com Marcius Melhem e que ultrapassou a faixa dos 100 episódios. Agora, Hassum está às vésperas de estrear nova série na Rede Globo. Chapa quente, na qual contracenará com Ingrid Guimarães e Thiago Abravanel, estreará em abril no horário nobre, ocupando a vaga de A grande família.
Carreira internacional
Uma semana antes de passar pela cirurgia de redução de estômago, o pai de Hassum enfartou. Morreu 15 dias depois, quando o ator ainda se recuperava da operação. Saiu do hospital para o cemitério, encerrando uma relação dramática com o pai.
Carlos Alberto da Costa Moreira também era conhecido como Carlinhos da Lelé. Ele foi preso na semana anterior ao Natal de 1994, acusado de ser o diretor financeiro de um cartel internacional de drogas, com ligações com traficantes colombianos de Cáli e com traficantes da máfia italiana. Carlinhos da Lelé era dono de uma concessionária de veículos importados, que seria usada para lavar dinheiro obtido com o tráfico de drogas.
Em agosto de 1995, foi condenado a 20 anos de cadeia sob a acusação de tráfico internacional e formação de quadrilha. Hassum tinha 21 anos. Era um ator em começo de carreira. Fez visitas ao pai no presídio Frei Caneca, mas depois romperam por diferenças de temperamento, como afirma. "Até acontecer o problema de ele ir preso, ele fez questão de nos preservar. Não sabíamos de nada. Para nós, meu pai era um empresário bem-sucedido e de repente...", comenta Hassum, com gravidade.
Para o futuro, o ator planeja carreira internacional. Quer usar a fluência em inglês para se apresentar em bares e teatros americanos. "Quero desbravar esse mercado", anima-se. Nada mal para quem coleciona uma lista de personagens no cinema com apelidos como Gordo, Sapo, Barba Azul, Zé Mané e Zé Grilo. Neste ano, acrescenta Capitão Gay à lista, ao estrelar filme dirigido por José Henrique Fonseca.
Hassum falou à Trip em seu apartamento dúplex na Barra da Tijuca, no qual se destaca na parede um autógrafo de Jerry Lewis e a roupa que o comediante norte-americano usou em uma gravação com o ator brasileiro.
Trip. Como é a vida 35 quilos mais magro?
Leandro Hassum. A gente fica um pouco debilitado, mas não sei o que é sentir fome. Estou num ritmo de me alimentar de 3 em 3 horas. É importante comer por conta da absorção pequena que tenho hoje de proteína e vitamina.
Pode comer de tudo? Fiz a cirurgia justamente para não ter restrição alimentar. Porque estar de dieta é muito chato: nunca mais coma glúten, açúcar; nunca mais tome álcool. Mas a gente quer ter prazer na vida. Quer comer um brigadeiro, uma picanha, um pãozinho quente com queijo na chapa. Hoje posso comer de tudo.
O corpo emagrece, mas a cabeça continua como antes? A cabeça é de gordo, mas o que muda é que começa a buscar a gordice em coisas mais saudáveis. Tenho um estômago muito pequeno. Do tamanho de um ovo. Depois da redução de estômago, emagreço por três motivos. Com o estômago do tamanho de um ovo, ingiro pouco alimento e estou satisfeito. O segundo motivo é que, com a mudança no intestino, a digestão é mais rápida e não retenho tanta caloria. Também não retenho muita vitamina. Tenho de tomar suplemento vitamínico o resto da vida. Com o estômago reduzido, não produzo uma substância chamada grelina, que alerta para a fome. Como ela não é mais produzida, eu não sinto fome. Não tem frustração, não tem trauma.
O gordo fica triste quando emagrece? Muita gente diz que todo gordinho que emagrece fica mais triste. Ser comediante é mais do que colocar um gordo vestido de malha. Ser comediante é ter a respiração da comédia. Ter a comédia como raciocínio principal. Ser gordo era uma das minhas piadas. Usar meu físico era uma das piadas. Mas tenho muitas outras.
Por que decidiu fazer a cirurgia? Estava com 150 quilos, agora estou com 115. A saúde estava perfeita, colesterol em ordem. Decidi fazer a cirurgia num churrasco na casa do André Marques [ator e apresentador da Rede Globo, perfilado aqui]. Foi a primeira vez que o vi depois que ele havia emagrecido em razão da mesma cirurgia. Somos muito amigos. Temos os mesmos medos. Eu sempre fui gordo, desde pré-adolescente, 11, 12 anos. O André não era. Foi um cara que engordou. Sempre tivemos medo de morrer. Sentia falta de ar e achava que estava enfartando. Sentíamos essa coisa parecida. Ele contou que a cirurgia era simples e marcou a minha primeira consulta. Saí desse churrasco decidido a operar.
Não pensou no lado empresarial? A imagem de gordo estabelecida junto ao público? Não pensei porque acho que já mostrei para o público a minha qualidade de trabalho. Crítica vai haver sempre. Vai ter sempre gente que não gosta do meu humor. Não gosta do meu, mas gosta do Fábio Porchat, ou gosta do Paulo Gustavo. Ou do Marcelo Adnet. Que bom que há essa diversidade. Cheguei num momento da minha carreira que não tenho dúvidas sobre o meu trabalho. Vou continuar a ser engraçado e a fazer meu público rir.
É comum humoristas lembrarem de um período em que o Jô Soares ficou magro e, segundo alguns, ficou triste. A questão do Jô todo mundo pergunta. Existe uma diferença muito grande em fazer dieta e fazer a redução de estômago. Se alguém disser que não pode comer o que gosta, você vai ficar puto. Dieta eu fiz todas que você pode imaginar: proteína, com bola, sem bola, com anfetamina, sibutramina, de Atkins, da Califórnia, de South Florida, o médico milagroso, xarope de raiz de uma batata da Índia. Eu fiz de tudo. Tenho 41 anos. Tive tempo de fazer todas as dietas. O gordo ou está entrando, ou está saindo do regime. E regime dá mau humor. Voltei a fumar, infelizmente. Tinha parado havia cinco meses e voltei agora. Fumo desde os 18 anos. Começa muito estresse, muito trabalho, tenho de fumar. Não tenho mais a comida como fuga, voltei para o cigarro. Não é estar magro que deixa menos feliz. É estar com restrição de coisas de que você gosta.
Por que o gordo é engraçado? Não acho todo gordo engraçado. Sou engraçado porque tenho uma disposição à comédia. Fui professor de teatro muito tempo. Ser comediante ninguém ensina. Você ensina técnica, aprimora. Mas a respiração do humorista vem com a gente. Eu respiro de forma diferente. A questão do gordo ser engraçado é uma piada. Colocar um gordo vestido de bailarina é uma piada. Mas se não tiver um texto bom, uma sustentação, tudo desmorona.
Foi um gordo engraçado quando adolescente? Era engraçado na escola, na adolescência, não por ser gordo. A adolescência é cruel com o tipo físico. Minha forma de lidar com isso era ser engraçado para ser interessante. E não ser o gordinho. A ideia era que esquecessem que eu era o gordinho e não sofresse bullying. Nunca tive problema com mulher, porque era divertido, animado, espirituoso. Não me excluíam. Promovia campeonato de lambada, de piada, de arroto. Era o representante de turma. Nunca pensando em usar minha gordura. Quando você é gordo e comediante, você está no nicho. Isso é bom e é ruim.
Você praticava esportes? Nunca fui de esporte coletivo como futebol. Já surfei, mas na adolescência eu gostava mais de skate. Ainda ando bastante, em especial em Miami. Lá é meu meio de transporte.
Você se define como ator ou comediante? Sempre ator. As pessoas me conhecem como comediante, mas acima de tudo sou um ator. Sou ator em busca de personagem. Tenho uma marca, um rótulo chamado Leandro Hassum. Quando as pessoas chamam o Leandro Hassum esperam que ele seja o Leandro Hassum. Obviamente não me incomoda. Comecei minha carreira e construí minha história sendo ator. Fazendo peças clássicas, com dramaturgia estruturada. Tenho prazer em construção de personagem. Fui diretor de teatro, professor de teatro. Minha história é de ator. Começa com 16 anos e vai até hoje. Qualquer trabalho que faço, mesmo que seja de comediante, é isso. Nunca fui moda. Nunca houve a moda Leandro Hassum. Fiz meu trabalho degrau a degrau. E, como nunca fui moda, não saio de moda.
O ator pode estragar a piada de um comediante? O comediante vai falar uma frase pensando na piada. O ator pensa em contar uma história, onde precisa chegar. O comediante pensa em onde está a graça da história. Lê colocando tom e respiração de humor. Um bom comediante faz um papel dramático muito bem. Um bom ator nem sempre consegue fazer um bom comediante.
Tem planos de fazer personagens tidos como sérios? Como espécie de resposta à crítica que só vê o lado de comediante popular? Se for um trabalho bom de personagem, seja comédia ou drama, eu faço. Não tem esse papo de que agora quero fazer uma coisa séria. Quero fazer o que me dê prazer. Caguei para a crítica. E continuo cagando e vou cagar sempre. A crítica com que me importo é do meu público. Das pessoas para as quais faço meu trabalho. Não é que não aceite críticas. Leio todas. Respeito os pontos que acho significativos, agregadores, que posso melhorar. Mas o que incomoda a crítica muitas vezes é o fato de ser popular. Humor rasteiro, sem mensagem política, sem refinamento. Para mim a piada funciona se você riu. Se não riu, não funcionou. Pode ser elaborada para caralho e não funcionar.
Essa crítica de falta de refinamento não é uma característica do stand-up, mais voltado à comédia de costumes do que para as piadas ditas inteligentes? Discordo de que stand-up seja um humor não inteligente. Nem me incluo como stand up. Faço show de humor, o que é outra coisa. O comediante de stand-up é observador refinado do dia a dia. Já fui a stand-up no Brasil e fora do Brasil. O cara fazer dez piadas sobre a mesinha e fazer você rir dez vezes sobre um assunto que não o interessa nem nunca parou para pensar não é fácil, não. Acho humor de observação inteligente. Talvez não seja um humor crítico do qual vá tirar uma lição. É para se divertir. Chris Rock faz stand-up e tem uma puta bandeira ligada ao racismo. O George Lopez tem uma puta bandeira ligada ao povo latino. Bill Cosby tinha um stand-up baseado em observação da família que era genial. Seinfeld fez um programa inteiro baseado no nada.
Qual a razão do sucesso dos seus filmes? Faço comédia popular, voltada para a família. Nos meus filmes, você pode levar o filho, a filha, a sogra, o sogro, a mulher. Só aí são cinco, seis, sete ingressos. O que tem de respeitar é o movimento que a comédia está fazendo de levar o público às salas de cinema. Até hoje o cinema é assim. Encontro gente na rua que diz que se divertiu nos meus filmes e diz: "E olha que não gosto dessa merda de cinema nacional". O cara se divertiu, mas foi com preconceito. Não vai com o mesmo preconceito assistir ao Adam Sandler, que gasta US$ 100 milhões para fazer um filme com a mesma qualidade que faço. Passei uma temporada nos EUA, estudando cinema, fazendo curso de direção, em Los Angeles. O que falta para a gente é qualificação técnica. Equipamento e criatividade, temos tanto quanto eles. Em qualidade de equipamentos somos melhores do que Sony, Warner... Os estúdios da Globo são melhores. Temos talento, criatividade. Falta um pouco de disciplina. Os autores lá ficam sentados na sala acompanhando a reação do público. Aqui ainda temos muito o que desenvolver. Fora que temos no Brasil 2.500 salas de cinema. Esse é o número de salas só na Flórida!
Como recebe as críticas? A crítica tem que existir para a gente não se achar acima do bem e do mal. Mas a crítica tem de ser mais justa, menos pessoal, menos rancorosa. Mais uma comédia que é só para diversão, dizem. O que há de ruim nisso? Não tenho culpa se estão dando mais dinheiro para a comédia. Não sou eu que estou indo lá pegar o dinheiro. Os outros filmes não têm espaço? Não é culpa minha. É dos donos de cinema, dos donos de sala. É mercado. Compra e venda. Quem vende mais tem mais exposição. A gente vende mais. Mas forma plateia. Sou formador de plateia que está levando gente para ir ao cinema assistir a filme nacional. Vê a comédia e talvez depois vá ver um filme com mais embasamento.
Quais as críticas que o incomodaram? Disseram que somos a nova chanchada. Não quero fazer chanchada. É um erro isso. Foram ver no dicionário e se tocaram. Falar que somos a nova chanchada é de uma estupidez atroz. A chanchada é consagrada, estudada, uma forma de fazer. O que a gente faz não é chanchada nem de longe. Estamos fazendo comédia. Filme de humor. Queriam usar para depreciar. O que a gente faz não é chanchada, mas fico honrado. Oscarito e Grande Otelo faziam chanchadas. Vou me sentir lisonjeado, mas é burrice dizer. Estou bebendo na fonte das comédias americanas? Pra caralho. Isso sim estou fazendo.
Vários atores, como Adam Sandler e Will Ferrel, que você admira, fizeram papéis dramáticos como resposta às críticas por suas comédias. Todos fizeram papel sério. Jim Carrey tomou porrada mas foi um gênio em Brilho eterno de uma mente sem lembranças. Comediante é sempre criticado. Não penso em fazer filme sério para mostrar outro lado. Quero ser feliz. A Suzana Pires e o Walther Negrão estavam criando uma série em que eu seria um mau-caráter. O projeto não andou. Tenho um policial que estou escrevendo. Quero contar histórias. Sou mais visto como o cara que conta histórias engraçadas. Mas não me fecho para nada.
Você filmou com Jerry Lewis em Até que a sorte nos separe 2. Como foi? Ele é uma das minhas referências desde a Sessão da tarde. É um dos grandes. Em 2012, tinha assistido a um show dele em Las Vegas. Fiz até uma pergunta, mas ele meio que me cortou na dinâmica do show. Falei que era comediante do Brasil, que queria contracenar com ele. Mas morreu o assunto. Quando decidimos fazer o filme dois em Las Vegas, o cara do hotel, que é um brasileiro amigo nosso, disse: "E se eu conseguir uma participação do Jerry Lewis?". Respondi: "Eu morro". Ele conhecia a nora do Jerry Lewis, que é uma brasileira, Patty Ascher, que é uma cantora de bossa nova. Ela fez o meio de campo. Só acreditei quando estava na frente dele filmando. Eram muitas exigências de produção. Muitas cláusulas. Filmamos de uma vez só, de 10 da manhã às 6 da tarde. Mistura de sentimento bom com ruim. Era muito bom estar ali com ele, mas não consegui relaxar. Depois ele me deu uma caneta de prata com o rosto dele talhado, um cartaz autografado e a roupa de bell boy com que atuou. Mandei emoldurar.
E a nova série para a Globo? Vai se chamar Chapa quente e ter uma pegada política, social. Vamos entrar na faixa de A grande família, que falava de um país que estava entrando no mundo do PT. Este novo programa fala do calor, da falta de água, da corrupção. É a grande família falida.
Você interpreta na série um personagem nascido em São Gonçalo, depois que viralizou um vídeo em que faz piada com os moradores da cidade. Há dez anos que sacaneio São Gonçalo no meu show. Sou suburbano da Ilha. Morei em Niterói. Quando fiz na TV, a piada ampliou. A internet é a arma dos covardes. Você não coloca o rosto e fala o que quiser. Posso dizer que você é um merda, porque você não tem como me achar. No começo do Twitter, eu achava que tinha de responder. Perguntava: "Bicho, por que está me tratando assim?". Aí o cara colocava: "Caraca, o Hassum falou comigo". O cara queria me xingar, me ofender para eu puxar conversa.
Seus vídeos são assistidos por milhões na internet, mas são produções rudimentares. Pensa em concorrer num nível mais profissional como o Porta dos Fundos? Acho que o Porta é uma renovação. Acho genial. Assisto a todos. Como treinamento, faço uns vídeos. Há interesse para eu começar a dirigir no cinema. O Porta dos Fundos vem com um tipo de humor anárquico, que é difícil de correr atrás. Qualquer coisa que faça agora, vão dizer: "O Porta é muito melhor". É melhor mesmo. Porque eles encontraram uma chave, tem um profissionalismo ali que fez virar um grande negócio. Isso ainda não explorei. Mas vai haver oportunidade. Está só começando.
Um dos seus sucessos de bilheteria é sobre um político corrupto que, de uma hora para outra, desaprende a mentir. Como acompanhou as manifestações de março pelo Brasil? Não fui à manifestação, não. Torço para uma mudança de comportamento. Sou totalmente sem partido. A briga é pelo Brasil. É meio piegas, mas é isso. É meio ingênuo achar que a coisa vai mudar, que não vai haver mais político corrupto. Hoje em dia está tudo entrelaçado. As formas de combater estão erradas. Por mais ator que a gente seja, os políticos são muito melhores. Infelizmente, fazendo um filme de merda em que a gente se fode no final. Sobre O candidato honesto, seria injusto não dar o crédito ao roteirista Paulo Cursino. Falei que gostava de O mentiroso, do Jim Carrey, de quem sou megafã. O Cursino disse: "Por que não fazer a versão brasileira?". Mas tem de ser com político. O que o americano acha do advogado, no Brasil a gente enxerga nos políticos. Lançamos o filme na véspera da eleição. Tem uma pegada crítica, mas apartidária. Fala da CPI da mesadinha. Disseram que o filme é chapa-branca. É uma comédia, para divertir. Se tirar uma mensagem, abrir o olho de um jovem, porque às vezes ele não se interessa em abrir o jornal, estou feliz. Estou cagando se é PT, se é PSDB. Mas quero que o país ande.
O politicamente correto atrapalha o humor? O humor no Brasil está ficando careta. Gordo você pode falar. Mas se falar "viado", "neguinho", "português burro", fodeu. Falar da Igreja católica, da evangélica, fodeu. Tem sempre alguém se levantando contra. Nos Estados Unidos, há liberdade de expressão. Pode falar de quem quiser. Apesar de eles serem conservadores para caramba. O presidente Obama vai ao programa de humor se autossacanear. Já viu a Dilma fazer isso? O Lula? O Fernando Henrique? Nunca. Chegou um momento em que o humor não podia falar de política por causa da lei eleitoral. Os comediantes foram até para a rua. Eu não fui. Não tenho vontade de ir, mas acho bacana.
E sobre a intransigência com as piadas sobre religião, cujo ápice foi a invasão do jornal satírico francês Charlie Hebdo que terminou com 12 mortes? A sociedade está intolerante. Isso está encaretando o humor para caralho. Eu faço piada em meu show sobre religião. É um dos momentos mais engraçados. Sacaneio a Igreja católica, a evangélica, todo mundo. Mas tenho carisma para fazer essa piada. Me coloco como um igual. Ninguém saiu ofendido por isso do meu show.
E as críticas ao beijo na boca da Fernanda Montenegro com a Nathalia Timberg na novela das 9? Pura hipocrisia. Tem de mostrar que é normal. Fazia uma peça na Lapa, zona central do Rio, e ia de ônibus. Via carrões com senhores de gravata pegando os travestis. Reprimiam a sexualidade deles em casa para pegar travesti na rua, fazendo sem proteção. Não faça com que a pessoa que está em casa seja vítima do seu estrangulamento sexual. Por isso a TV tem que mostrar a homossexualidade. Mostrar que o momento é esse e é normal.
Você é a favor da liberação das drogas? Sou a favor da legalização da maconha. Os países desenvolvidos estão fazendo isso. Não fumo, não tenho vontade, mas sou a favor. Minha droga é o cigarro. Mas tenho medo se, com a corrupção do jeito que está, será para o bem ou usado para outros fins.
Seu pai foi preso sob acusação de tráfico internacional de drogas quando você era jovem e desconhecido. Como lidou com isso? Sempre tive uma relação boa com meu pai. Não gosto muito de falar desse assunto. O maior respeito que tenho por meu pai foi que, até ele ir preso, ele fez questão de nos preservar. Não sabíamos de nada. Para nós, meu pai era um empresário bem-sucedido que de repente... Eu tinha 21 anos. Visitei meu pai na cadeia. Tivemos discordâncias de convívio e me afastei. No final da vida, estávamos juntos, ele em casa, com minha mãe. Estava bem. Sempre teve carinho pela minha mãe, sempre tive respeito por esse homem que meu pai foi. Discordava muitas vezes da forma de ele pensar, como ele discordava da minha. Não éramos próximos, mas respeitava muito. Tive uma sensação muito louca quando ele morreu, e até hoje tenho, um cara tão forte, dono de uma verdade dele, que até hoje é difícil de acreditar. Sofreu um infarto em casa, uma semana antes de eu operar. Morreu uma semana depois. Sentiu dores e achava que era dor de estômago. Tive de ligar para ele para convencê-lo a procurar o médico. Quando chegou lá, não o deixaram sair. Estava infartado. Tinha 74 anos. O problema do meu pai era o cigarro, era sedentário.
Quais os seus planos agora? Estou começando a tentar explorar um mercado fora, internacional. Já fiz apresentações em Boston, Nova York, Flórida, Nova Jersey. A maioria da plateia era brasileira. Mas como falo inglês fluente, fui professor de língua, estou criando um show em inglês. Vou testar em apresentações de 5 minutos em bares de Nova York, em casa de comédia em Los Angeles. Quero desbravar esse mercado.