Dá para viver uma vida saudável longe de comida cozida, processada e se alimentando de frutas? Adeptos da dieta frugívora provam que sim
O frugivorismo é uma dieta que se baseia no consumo de frutas in natura (ou minimamente processadas) e livres de qualquer cozimento. Como só de fruta ninguém vive (ao menos não saudavelmente), os frugívoros complementam a alimentação com hortaliças (alface, couve, brócolis e família) e oleaginosas (como as castanhas), tudo cru e nada de origem animal. Ou seja: carnes, ovos, mel, leites e derivados ficam de fora.
Segundo os adeptos do estilo de vida, a cocção dos alimentos diminui a quantidade de vitaminas e nutrientes disponíveis. E, no caso de algumas frituras, o excesso de calor pode gerar substâncias cancerígenas, como a acrilamida. Entre os nutricionistas, a dieta é polêmica, mas pode ser saudável. "Qualquer tentativa de consumir alimentos frescos e naturais trará inúmeros benefícios à saúde", afirma Aline Camargo Vieira. "Com o devido acompanhamento profissional, o frugivorismo é totalmente viável", recomenda a nutricionista.
Mas na prática, frugívoro come o quê? Na foto acima, Kristina exibe algumas de suas refeições: melancia (e não é pouca, não), bacias de frutas orgânicas, um jarro bem servido de suco e saladas das mais diversas. Em seu site, FullyRaw, a americana ensina receitas de pratos feitos sem cozimento e à base de frutas, como esse simpático sorvete de banana com morangos.
O carioca Eduardo Corassa, frugívoro há 9 anos, conta que come frutas - muitas, diga-se - durante o dia e à noite opta por saladas bem servidas. "Antes de ir para a faculdade, como 22 bananas, às vezes meia melancia, varia muito. À noite, faço uma salada caprichada com alface, brócolis, abobrinha e outras verduras. Também consumo castanhas e algumas frutas desidratadas", conta à Trip. Em seu blog, Saúde Frugal, também ensina receitas frugívoras.
Desde que adotou a dieta, Eduardo se tornou uma referência no Brasil e viaja pelo país para divulgar o estilo de vida saudável, livre de alimentos cozidos e de origem animal. Já são 5 livros publicados, entre eles “Saúde Frugal - O guia ao Crudivorismo e à Higiene Natural” e “Revolução Vegana”, onde defende a causa animal e também explica porque abandonar o fogão.
Antes da mudança de vida, era chegado em fast food, não fazia exercícios e, por conta disso, acumulava problemas de saúde. “Eu não me sentia bem e percebi que meus hábitos estavam colaborando para isso. Como a medicina tradicional não trouxe resultados, resolvi procurar alternativas e fui muito bem sucedido”, conta.
Ao contrário do que família e amigos pensavam, o carioca não definhou e nem morreu. Vai muito bem, inclusive. “Eu jamais fico doente. Nunca imaginei ser possível me sentir tão bem. Estou dentro do peso, me sinto mais disposto e tenho excelente desempenho físico”, afirma.
A adoção de uma dieta diferenciada trouxe benefícios, mas também dificuldades. Há 9 anos, as informações eram limitadas e lidar com o estranhamento de outras pessoas foi inevitável. “Hoje em dia, com tantos resultados benéficos que se refletem no meu físico e no meu comportamento, passaram a me respeitar e se inspirar em mim”, explica.
Corassa não é o único. Na casa de Anna Krassuski, adepta do frugivorismo há 3 anos, não entra nada cozido. Ficar mais saudável foi a maior motivação dela e do marido, Raini Pachak. “Estava cansado se ser viciado em sal e gordura. Era hora de mudar”, conta ele, também frugívoro. Desde então, os benefícios foram inúmeros, mas Anna destaca que a maior conquista foi o bom humor. “Eu sou uma pessoa mais calma. Minha clareza mental e criatividade aumentaram sem precedentes”, diz.
O casal também precisou lidar com poucas informações disponíveis na época e com a dificuldade de aceitação. “Meus amigos acharam que eu havia sofrido uma lavagem cerebral”, brinca a curitibana. Assim como Eduardo, com o passar do tempo Anna e Raini se adaptaram com tranquilidade à nova vida.
Apesar de frugívoros, ambos saem com amigos e convivem com a família normalmente. Raini diz que quando precisa sair, leva umas frutinhas para a viagem ou já vai com o estômago preparado. Eduardo afirma não se importar tanto com o que irá comer. Quando necessário, traz consigo algumas castanhas ou pede algo do menu compatível com a dieta. “Na nossa sociedade, a comida não é algo secundário em confraternizações, mas para mim é. Saio para encontrar pessoas queridas, não para comer”, afirma.
Para Eduardo, Anna e Raini, o segredo de uma dieta frugívora bem sucedida é informação e planejamento, já que os hábitos diferenciados requerem maior cuidado com a alimentação. De acordo com a nutricionista Aline Camargo Vieira, o acompanhamento profissional é imprescindível, pois nem sempre não ter sintomas significa estar completamente saudável.
Segundo ela, apesar dos estudos mostrarem que a dieta crua e vegana é saudável, há quem não reaja bem à alta ingestão de fibras ou sinta necessidade de comer alimentos cozidos para obter conforto emocional, por exemplo. “Não existe uma dieta perfeita para todos, mas sim uma dieta que seja boa para você”, diz. Já o nutricionista George Guimarães recomenda a suplementação - embora a maioria dos frugívoros dispensem - e a inclusão das oleaginosas, ricas em proteínas e calorias, para praticar a dieta sem prejuízos para a saúde.