Dormir para aprender

por Sidarta Ribeiro
Trip #225

Neurocientista explica por que o sono é um aliado fundamental para melhorar o aprendizado

A ciência demonstra que o aprendizado é otimizado sob regimes adequados de sono, nutrição, exercícios aeróbios e exposição à novidade. Tão importante quanto comparar pedagogias ou discutir métodos de ensino é garantir que crianças, jovens e adultos em ambiente escolar disponham das condições fisiológicas para aprender. O sono, em particular, tem enorme potencial para melhorar o aprendizado humano. Dormimos mal, pouco e aos pedaços, engolimos comprimidos para perder consciência e nos esquecemos dos sonhos. Dormimos, sobretudo os pobres, em espaços exíguos em que o sono não tem sossego, cheio de TV e gente. Se fosse apenas descanso e esquecimento, o sono já faria falta. Mas, sendo também um estado fisiológico de processamento, estocagem e recombinação de memórias, o sono é um companheiro do qual ninguém pode se separar.

No início da noite predomina uma fase de sono caracterizada por ondas cerebrais lentas, durante a qual os pensamentos reverberam sem chegar a acender o teatro dos sonhos. Mesmo assim, é nessa fase que são consolidadas as memórias sobre eventos, pessoas, lugares, enfim: todos os seres e objetos do mundo. Na fase seguinte, chamada sono REM (de rapid eye movement), entramos em intensa atividade onírica, com ondas cerebrais rápidas semelhantes às da vigília. O sono REM desempenha um papel importante no processamento de memórias motoras e emocionais.

Clarões

Os mecanismos responsáveis pelos efeitos benéficos do sono na cognição envolvem inicialmente a reverberação de memórias, observada como repetição de padrões de atividade elétrica neuronal. Em seguida, são aumentados os níveis de proteínas fundamentais para a estocagem de longo prazo da memória. A ativação repetida desses mecanismos através do ciclo sono-vigília promove a migração de memórias dentro do cérebro, talvez impedindo que memórias novas e antigas compitam pelos mesmos espaços. Por fim, o sono desempenha um papel importante na reestruturação de memórias, aumentando a criatividade, a geração de novas ideias, os clarões da mente.

É preciso incorporar o sono ao cotidiano do aprender. Em vez de inimigo do professor, o sono pode ser um aliado poderoso em sala de aula, caso aprendamos a utilizá-lo com sabedoria. Uma mente cansada de noite insone precisa dormir. Uma mente saturada de novas informações precisa dormir. Menos bocejos e mais sonhos, a escola do futuro será.

*Sidarta Ribeiro é neurocientista, professor titular e pesquisador do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

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