Devo não, nego
Mark Mothersbaugh, fundador do Devo, fala sobre sua aventura no cinema das tábuas e rodinhas como compositor da trilha de Nothing but the truth, primeiro filme de skate da Nike
Por Redação
em 5 de dezembro de 2007
Por Filipe Luna
Mark Mothersbaugh é o oposto da involução (do inglês devolution) que inspirou a banda que fundou, o Devo. De pioneiro da new wave, o rapaz aventurou-se pelo cinema compondo trilhas sonoras, fotografia, pintura e outras formas de arte. Tanto ocupou-se que este mês desembarca no Brasil carregado de novidades. Além de vir com sua antiga banda para o festival Planeta Terra, dia 10/11, está lançando um livro de fotos, Beautiful mutants, e compôs a trilha do primeiro filme de skate da Nike, Nothing but the truth – a ser lançado em 23/11. Tirando o “Não perturbe” da porta, desocupou sua agenda para cinco minutos de conversa por telefone com a Trip.
Quando criança você andava de skate? Sim, tenho uma foto da minha primeira comunhão em que um monte de crianças estão todas arrumadas, exceto pelo último da fila, eu, que tinha caído de skate e batido a cabeça no meio-fio. Estava com dois olhos roxos e pontos na testa. Parecia um Frankenstein de 12 anos. E, no vídeo de “Freedom of choice”, muitos dos Z-boys participaram das filmagens.
Foi o primeiro filme de skate que você fez? Não. Tinha feito a trilha do Lords of Dogtown, que não foi muito legal. Quando a Nike me chamou fiquei muito animado, porque a maioria dos skatistas veio ao meu estúdio e participou na trilha. Alguns até escreveram letras para as músicas.
Por que vocês voltaram? O que fizemos todos entendem hoje. Estávamos 25 anos à frente do nosso tempo. O irônico é que me divirto mais em turnê hoje do que antigamente. Apesar de estarmos gravando um disco novo, só tocamos as músicas antigas.
Vão mesmo tocar no Brasil? Vamos sim, claro! Quer ouvir algo engraçado? Sou dono de um prédio que é um dos poucos em Los Angeles projetados por Oscar Niemeyer. Quando comprei nem sabia que era dele, mas sempre gostei da aparência. Precisava de um lugar para colocar meu estúdio e tinha esse prédio circular com cara de nave espacial na Sunset Boulevard. Pintei ele de verde para ficar parecido com um brinquedo de criança. Acho que Oscar iria gostar.
Ainda acredita na involução? É difícil não acreditar. Quem está involuindo mais rápido que os americanos? Olha quem elegemos presidente! Ficamos chocados com a velocidade com que aconteceu, esperávamos estar errados [risos].
Você tem feito algo para melhorar isso? Adotei duas crianças chinesas. Temos gente demais no mundo, precisamos de pessoas para educá-las direito. Acho que elas gostam, elas me chamam de pai [risos]. Adotamos a segunda porque ela tem um problema de visão, estava ficando cega de um olho por causa de glaucoma. Teremos que monitorá-la pelo resto da vida para que não aumente. Ela enxerga como se estivesse olhando por um tubo de papel higiênico. Mas é uma ótima artista ainda assim.
Você também teve problemas de visão na infância… É, mas comigo foi diferente. Achavam que eu era doido porque falava com as pessoas colado na cara delas. Comecei a ter problemas na escola… Mas achava que eu era normal, não sabia que não podia enxergar. Nunca vou esquecer o dia em que usei óculos pela primeira vez. Só via a parte de baixo das coisas, não sabia que tinha uma parte em cima. Vi os telhados das casas, pássaros no céu, fios de eletricidade. Fiquei muito impressionado. Não sentia que tinha perdido nada, era como se tivessem me dado um bônus. Espero que um milagre como esse aconteça para essa garotinha.
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