Batalha sem fim, por Luiz Mendes

Precisamos nos esforçar por melhorar nosso caráter, nossa maneira de compor com o outro e com o planeta. Essa luta não cessa: vai até o dia da nossa morte

Fala-se em novos tempos, novos ares. Na história percebo que sim, tudo mudou, mas quase imperceptivelmente. O que me leva a pensar que a vida não dá saltos, segue paulatina e segmental. Nem liga para o que imaginamos ser necessidade urgente. Imaginamos que sabemos, que controlamos o mundo e principalmente a nós mesmos. Mas, ao refletir sobre a fluência da vida, percebemos de modo claro que estamos profundamente enganados. Não sabemos nem até onde não sabemos. O que acontece de real, transformador mesmo, não está sob nosso poder. A vida vai acontecendo e nós, perplexos, vamos nos adaptando a ela. Fenômenos ocorrem aos montes e a história nos mostra, depois, que são encadeados e seguem para um destino que nos é desconhecido.

Sim, novos ares ocorrem, mas alheios à nossa vontade. Tudo muda, mas muda em si e por si mesmo. Creio que, como nós, as coisas e o mundo são produtos deles mesmos e a nossa parte é somente ultrapassar a nós mesmos. Minha impressão é que estamos em uma escola cuja administração não nos diz respeito. E essa não é uma afirmação de caráter místico, transcendental ou algo que o valha.

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A única coisa que temos a fazer de fato é, como alunos que somos, estudar e assimilar. Absorver e acumular conhecimentos sobre a existência e ir aplicando como exercício para fazer em casa e na rua. Porque as pessoas que convivem conosco são as que mais necessitam de nós. Não creio que haja algo mais importante na vida do que aprender a tratar as pessoas com respeito, carinho e certa doçura. Depois que conheci o modo educado, terno e afetuoso do relacionamento humano, passei a eleger esse como sendo o principal objetivo de minha existência.

Felizes juntos 

Quanta satisfação em viver encontramos quando trocamos sorrisos sinceros... As crianças podem nos ensinar essa simples lição: vivem a brincar e a sorrir e assim se tornam felizes, alegres e agradáveis para si e para todos que as rodeiam. Alegria é a base da vida de toda criança sadia e bem-cuidada.

Imaginamos que esses novos ares tragam tempos difíceis para nosso país e sua população mais carente. É o que tudo indica. Mas a administração real do mundo não está em nossas mãos. Fenômenos podem ocorrer embaralhando todas as cartas novamente. Quem tem o poder real ainda tem os “macetes” e joga de mão, como sempre. Mas somos seres humanos e, como tal, estamos comprometidos com o que fazem os humanos. Se há desonestidade, falta de ética, oportunismo, interesses pessoais, estamos todos envolvidos. Porque ou nós compactuamos ou nos calamos e permitimos que assim fosse.

O que é ser humano? É o certo e o errado, o justo e o injusto, a verdade e a mentira, numa tentativa nem sempre frustrada de estar melhor a cada dia. É viver em permanente preocupação com o bem-estar das pessoas que nos cercam. É ter um coração que, às vezes, é sacrifício de nossas vontades e sonhos. É a consciência de que não se está sozinho, mesmo que sozinho se esteja.

Acho que só três coisas são absolutamente certas. Precisamos nos esforçar por melhorar nosso caráter, nossa maneira de compor com o outro e com o planeta. Essa luta não cessa: ela vai até o dia de nossa morte. E, por último, somente indo ao encontro das pessoas podemos encontrar o que nos falta para sermos felizes. Não porque o outro encerre nossa felicidade. Mas sim porque é nesse encontro que se revela a possibilidade de sermos felizes juntos.

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