Bob Burnquist assume a bronca

por Nathalia Zaccaro

Em meio a crise olímpica, skatista é eleito novo presidente da CBSK e promete usar sua influência política para desenrolar a participação brasileira na Olimpíada de 2020

Sem concorrentes, Bob Burnquist foi eleito por aclamação novo presidente da Confederação Brasileira de Skate (CBSK) no último dia 30, em São Paulo. Em meio às comemorações, Adalto Elias, presidente da Federação de Skate do Paraná, pediu a palavra: “Eu queria agradecer ao Bob por assumir esse pepino!”. 

Pela primeira vez na história do esporte, o skate fará parte da Olimpíada de 2020, em Tóquio. O que seria uma boa notícia se transformou em problema quando o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) reconheceu a Confederação Brasileira de Hockey e Patins (CBHP), e não a CBSK, como representante do esporte durante o ciclo olímpico. O motivo da confusão é burocrático: a CBSK teve seu pedido negado sob o argumento de não ser associada a uma entidade internacional filiada ao Comitê Olímpico Internacional.

Diante da falta de disposição da CBHP e do COB em resolver a questão, alguns dos principais skatistas do país declararam boicote aos Jogos de Tóquio caso a CBSK não seja reconhecida. Pedro Barros, Sandro Dias e Rony Gomes são alguns deles. Em crise, a CBSK precisava de reforço. “Entendi que poderia ajudar nesse momento sensível, vi a importância de trazer meu nome diretamente para essa questão, fazer pressão política para que a CBSK seja ouvida e reunir os skatistas em torno da causa”, explica Bob, que, depois de três dias esquentando a cabeça com a ideia resolveu topar. Sandro Dias, o Mineirinho, assumiu como diretor de esportes. O vice de Bob é Eduardo Musa, ex-agente de Neymar. “Ele tem experiência em marketing esportivo, patrocínios e me deu confiança para lidar com os trâmites executivos”, explica.

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Trocamos uma ideia com o novo presidente da CBSK para entender quais suas estratégias para resolver a treta olímpica e o que o cargo muda na carreira de um dos melhores skatistas do mundo.

Você assumiu um pepino? É como uma cadeira de juiz, eu nunca ia querer ser juiz. É uma cadeira quente, você entra em uma posição de crítica. Se a confederação estivesse cheia de recursos, com tudo redondo, todo mundo ia querer entrar. Mas vivemos um momento de dificuldade, a realidade é uma emergência olímpica. Senti que ou eu aceito essa nova fase, essa responsabilidade, coloco a mochila de pedra nas costas e sigo em frente ou nada vai acontecer e depois não vou poder reclamar. Eu já tenho uma responsabilidade dentro do skate. Pensei bastante.  Falei com todo mundo a minha volta e me senti muito amparado. Pode ser o pepino que for, a gente vai fazer acontecer e botar a casa em ordem.

De quem foi a ideia? Há muito tempo rola esse papo “ah, o que você vai fazer depois do skate?”, sempre foi meio natural. Mas não tem essa de depois do skate, até porque continuarei competindo, fazendo meus projetos. Mas pensei seriamente nisso durante uma conversa com o Duda [Eduardo Musa] em que estávamos pensando caminhos para ajudar a CBSK com recursos, patrocínios e ali entendemos que estar lá dentro traria força política. Mas eu disse que precisaria dele junto. Como ele não é skatista, sabia que existiria uma resistência, mas comigo junto deu uma aliviada.  

O que significa para o skate participar de uma Olimpíada? Já que estaremos lá, vamos tentar fazer da maneira que a gente acha que tem ser feito. Temos que manter a representatividade e credibilidade do skate. O primeiro passo é garantir que a CBSK seja a representante. Não tem por que não ser. Vamos articular uma estratégia. Essa é a emergência.

E qual vai ser essa estratégia? A estratégia internacional foi feita. A criação da World Skate [fusão da Federação Internacional de Skate e da Federação Internacional de Roller Sports, que aconteceu em setembro] vai trazer mais representatividade. Mas existem ainda algumas leis que temos que analisar, não queremos fazer nada fora da lei. Já temos precedentes de casos como o nosso que terminaram bem, no Canadá e na Austrália, por exemplo. Existem caminhos e não estamos fechados a nenhum. Vamos conversar com todo mundo e encontrar a solução. 

Se nada der certo, vai rolar o boicote? Existe sim esse pensamento. Se eu estivesse competindo, a minha posição seria essa. Se não for com a CBSK, o que é que vou fazer lá? Temos que lutar para que seja a CBSK para não perdermos a oportunidade de ter os melhores skatistas brasileiros competindo.

Para além dessa questão olímpica, você tem outros planos para a CBSK? Eu tenho receio que o skate agora vire só park e street, que são as modalidades olímpicas. Quero que o esporte evolua como um todo, existem muitas modalidades diferentes. Se você tá com um skate no pé, é skate. Estou empolgado por poder fugir da casa e abraçar o esporte de forma criativa.  

Em julho, você anunciou sua aposentadoria do X Games em um vídeo bastante emocionado. E agora veio essa notícia da CBSK. Essas decisões foram casadas? Não, eu ainda não sabia sobre a confederação. Eu já fazia um certo movimento político, de construir pistas e me envolver, mas agora será oficial. Foi natural, não tenho mais como escapar. Mas meu negócio é andar de skate, continuarei evoluindo, construindo rampas, produzindo conteúdo, isso continua muito vivo dentro de mim. Parei com o X Games porque me senti estacionado. Você acorda, ganha uma medalha, acorda, ganha uma medalha. Eu queria progredir. Eu nem imaginava me emocionar tanto naquele momento, mas passou toda uma história de sofrimentos e conquistas, juntou tudo e não consegui segurar.

Você se reaproximou do Brasil em um momento de crise generalizada. Você pensa sobre isso? Eu sempre tive esse pensamento. Se não eu ficaria lá em casa, na Califórnia, andando de skate. É muito mais tranquilo. Sempre quis incentivar o Brasil, trazer as marcas pra cá, construir pista, dar esse suporte no lugar onde eu aprendi a andar, para que a próxima geração tenha mais oportunidades do que eu tive. Tenho essa vontade de, quando muitos correm, voltar pro meu país e pensar o que pode ser feito de positivo. É fácil pensar “ai, que depressão, deixa o Brasil pra lá” , mas quero entender como vamos lidar com essa crise porque a molecada ta aí, sonhando como eu sonhei também. Vamos aproveitar essa empolgação olímpica para disseminar o esporte.

Créditos

Imagem principal: Júlio Detefon/Divulgação

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