O Crack e a Verdade
Às vezes fico muito confuso ao pensar no que acontece e em possíveis soluções. As estatísticas indicam que 98% das cidades brasileiras enfrentam problemas relacionados ao crack. Em cerca de 20 anos, a droga mais lesiva ao cérebro humano em consumo no país (heroína só em círculos restritos), dominou o mercado.
O crack é a droga que mais tem a ver com o momento de nossa sociedade. Uma sociedade imediatista, em busca de resultados, sem valores e que tem pressa. Uma substância rápida que, quando queimada vão direto ao ponto da loucura, alienação e fuga. O usuário foge instantaneamente. Mergulha em uma espécie de nada acolchoado e aconchegante. Com o tempo de uso o viciado não quer mais voltar ao mundo duro e conturbado que não consegue mais enfrentar.
Vivemos sob muita pressão e envoltos em mentiras ultrapassadas que já não preenchem nossas necessidades de entendimento e consolo. Talvez a solução fosse colocar todas essas mentiras contra a parede e exigir delas a verdade. Quem sabe sabendo que nada sabemos de fato, não consigamos relaxar e viver mais satisfatoriamente.
Milhões de pessoas ainda crêem na gênesis bíblica. Assim como outros tantos milhões de pessoas acreditam no “céu” do Alcorão com huris nuas dançando a dança dos sete véus. Conhecemos tão pouco do pouco que se sabe que chega a espantar. E o que conhecemos nos vem malhado de verdadeiros “chutes” e armações de nossos antepassados que se diziam conhecedores. Como acreditar na Doutrina dos Eleitos, tão cara à teologia católica quanto protestante? Alguns nascem destinados a serem salvos. Outros, nem que a vaca comece a voar (parodiando Ruth Rocha) se salvarão. Outra é a tal da Santíssima Trindade: pai, filho e espírito santo em um só ser. A infabilidade papal faz parte desse conjunto de absurdidades aceitas sem questionar, pela maioria das pessoas. Como hoje ainda é possível viver sob o encarceramento da verdade dos tais Dogmas?
O problema é que ninguém sabe o que seria o contrário disso tudo. Dá para entender, pela lógica e pela razão que assim como é acreditado não tem sentido. Mas o que tem sentido então? Talvez o mais sensato seria nos calar, se não temos outras certezas ou soluções.
Tudo bem, até posso me calar. Mas me recuso a para de racionar. Será que não é o peso de tanta mentira, tanto desconhecimento e tanta dificuldade para se saber ao certo, o que ajuda a formar essa pressão social que os mais frágeis não suportam? O momento é de muita incerteza e insegurança. Tudo flutua e flui sem ritmo ou pulso.
Não estaria ai, também a origem do uso da droga? Porque não é a droga que deve ser combatida. Enquanto houver procura, haverá oferta; é lei de mercado. Antes devemos estudar por que o ser humano usa drogas. Parece claro que drogas têm muito a ver com o momento de uma sociedade. Resta descobrir o que há de errado e combater esses motivos.
**
Luiz Mendes
15/12/2010.