Não aceito ser modelo de nada. Todos modelos provam-se falsos. Não há certezas em se tratando de seres humanos. Presume-se que, se eu encontrei uma saída, os outros devam encontrar também. E, absolutamente não é assim. Não sou melhor que ninguém. Alias se for ver bem, fui muitas vezes pior que a maioria das pessoas que estão presas.
Dizem que possuo talento para escrever, que sou culto e inteligente. Não nasci assim. Também nem sou tudo isso que se possa dizer. Só dá para rir disso porque me sinto igual a todo mundo. Com todas as fraquezas, limites e fragilidades que todo mundo tem. Arde em meu coração o mesmo tumulto que acontece no coração de todos.
Mas penso naqueles que não têm ninguém por eles, sem uma profissão, totalmente alienados, em profundo descompasso com o tempo e tão desarmados para enfrentar o preconceito social aqui fora. Penso também naqueles que não conseguiram encontrar os apoios e as forças que tornaram suas vontades imperiosas.
Hoje muitas pessoas gostam de mim, reconhecem minha luta e me aprovam. Talvez eu até tenha conseguido provar que é possível confiar em mim. São oito anos de luta para chegar a esta posição. Mas sou como qualquer uma das 200 mil pessoas que estão atrás das grades neste instante. Sou como qualquer pessoa livre ou presa.
Sou humano. Preso a este instante e que vai morrer hoje ou amanhã. Uso o banheiro como todos. Erro, acerto (às vezes...), ando pelas ruas e uso meu cartão de crédito.
O destino devia ser coletivo. Os incentivos, os apoios, a força de vontade, a capacidade de concentração, o amor aos livros, o desejo por honra, nobreza e elegância de atitudes, o tesão pela generosidade, a ânsia conhecer e amar pessoas, e essas noções que orientam vontades, devia existir para todos. Estamos entrelaçados na mesma condição humana. Sofremos, choramos; somos alegres e tristes do mesmo jeito. O que sangra em mim sangra em qualquer um. A vida não é justa, por isso não aceito ser modelo de nada.