Futuro/Presente
A história não vai acabar porque um homem disse que vai. Por mais inteligentes sejam os japoneses, Fukuyama erra longe ao afirmar o fim da história. Ao fim e ao cabo, o homem não é a história, mas tudo o que ele faz é cultura e, portanto, história. É só concluir: dois mais dois é quatro (por mais a física quântica a tudo contradiga); é óbvio que o fim da história só acontecerá com o fim do homem.
E a história que temos feito não parece muito boa, já que vivemos insatisfeitos, infelizes e ansiosos. Parece que por mais que nos desdobramos, o resultado ainda assim é caótico e desorientado. Na verdade, do que vejo, há uma fragmentação, tudo ficou no ar, flutuando sem raízes. Perdemos muito de nossa fé no homem, principalmente. Estamos em dúvidas até quanto a nós mesmos. Questionando, desconfiados e inseguros sobre nossa capacidade de revertermos a direção que as coisas estão tomando. Parece que tudo foge ao controle. A chuva da tarde virou tempestade e tem inundado nossas ruas, nos ilhando. A água que antigamente não se negava a ninguém, hoje tem preço e fica cada vez mais cara de acordo com o mercado flutuante. Pior é que já começou a ser racionada em algumas cidades (em São Paulo vivemos sobre o maior aquífero do mundo!); o nível de água do reservatório da Cantareira ainda esta em estado crítico (apesar das tempestadades que assolam a cidade). O trânsito ficou absolutamente a prova de racionalidade com a volta às aulas. Ninguém anda, nos arrastamos por ruas e estradas feito lesmas, metro a metro. A violência, hoje já incontrolável, percebemos que não tem raiz somente na precariedade de meios existenciais. Hoje pais matam filhos e filhos matam pais; irmãos matam irmãos e todo mundo mata todo mundo. Talvez estejamos em guerra. O que não sabemos é contra quem ou contra o quê; atiramos para todos os lados, a esmo.
Até agora vivemos centrados no futuro. Achávamos que ele seria como nós o havíamos projetamos. Coitados de nós, quanta ingenuidade: julgávamos ter ciência e conhecimento para dirigir o tempo. O que aconteceu é que trocamos a fé pela razão, essa moeda que nos parece tão mais forte. Estamos começando a concluir que nenhum homem pode nos representar. Talvez os arnaquistas estivessem com a razão. Homem algum resiste ao poder; seja o político ou o policial. Todos claudicam. O primeiro se corrompe e participa da patifaria geral até para não destoar do sistema. O policial aprende a matar friamente, institucionalmente sem nada sentir, e sai matando mais que a peste negra. E todos impunimente.
Embora a história não tenha acabado, o futuro já não pode mais guiar nosso presente, como até agora o fez. Talvez essa seja a grande virtude do radicalismo de Fukuyama: nos avisar que tudo tem que ser feito agora para o agora, para que o futuro não seja mera consequência do presente.
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Luiz Mendes
04/03/2014.