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A barca de Noel

Noel - O poeta da Vila

A barca de Noel

Por Redação

em 9 de novembro de 2007

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O diretor de publicidade, artista plástico, designer e agora cineasta Ricardo Van Steen, como muitos, se apaixonou à primeira vista pelo compositor carioca Noel Rosa. Decidiu fazer um filme biográfico. De lá para cá, passaram-se quase 15 anos, mas o projeto não ficou parado não. Passou por todo o sofrido processo necessário para se conseguir fazer cinema de qualidade no Brasil. Enfim, Noel – O Poeta da Vila ficou pronto – e com primor. Do jeito que Ricardo queria. E em tempo, já que esse ano, quando o longa-metragem finalmente conquista a grande tela, comemora-se 70 anos da morte de Noel. A seguir, Ricardo conta um pouco sobre essa epopéia tão cinematográfica quanto musical.
por Endrigo Chiri | fotos Alexandre Ermel

Como surgiu sua paixão por Noel Rosa? A biografia do Noel caiu na minha mão em 1994 e me apaixonei muito rapidamente porque me identifiquei em vários aspectos com o Noel. Por exemplo, ele não sabia se enfiava o pé na jaca todo dia ou segurava a onda, o que era uma problemática grande porque Noel andava em lugares muito promíscuos, e naquela época haviam muitas doenças. Outra coisa do Noel com a qual me identifiquei foi a fantasia de manter vários relacionamentos com várias mulheres ao mesmo tempo. E ainda por cima, o Noel era meio publicitário e, na ápoca, eu tava querendo deixar de ser publicitário. E dá pra falar também da coisa da produção compulsiva, que todo artista quer poder ter, produzir muito e com alguma qualidade.

Porque demorou tanto tempo para fazer o filme? Eu não fiz escola de cinema então tive que bater cabeça em tudo para aprender. Foi difícil, mas acabou que foi uma boa escola. Aprender a entrar na lei de incentivo, a fazer roteiro, a captar recurso, a arrumar produtora. Esse processo poderia ter sido mais rápido, mas, se não tivesse feito a trajetória que fiz, não teria acesso a tanta técnica de cinema. Acho que acabou sendo um caminho bacana.

O longa-metragem pode ser considerado uma biografia? O filme é biográfico já que é livremente inspirado na biografia escrita pelo João Máximo. Digo livremente porque o cinema me obrigou a certas licenças poéticas, mas a princípio sou muito fiel. Por exemplo: ele teve 20 parceiros musicais e todos não cabem num filme. Tive que escolher cinco ou seis. O mesmo aconteceu com as mulheres. São essas concessões que fogem da biografia e os cricris vão pesar na minha orelha.

Pensou em fazer um documentário sobre ele? Nunca quis fazer documentário. Meu interesse sempre foi encontrar soluções poéticas e visuais pra obra do Noel, e isso em documentário não rola.

Qual o papel de Noel na música popular brasileira? Ele é seminal, bem ao pé da letra da expressão. Ele é um divisor de águas, ou um catalisador, porque representa o modernismo, o pensamento moderno, e a simpatia de querer misturar isso com o ritmo dos negros. Até então essa conexão não tinha acontecido, do pensamento moderno com a música nativa dos negros. Ele é cabeça de chave, inventou uma categoria, estabeleceu os princípios da linguagem, junto, claro, com seus vinte parceiros. Noel compôs 259 canções em sete anos, uma produção estúpida.

Tem uma passagem do filme que seja sua preferida? É engraçado, mas os momentos de que mais gosto são os interpretativos, os momentos em que não estou necessariamente explicando o que ele fez no dia tal. Gosto mais desse lado de ilustrar as emoções, a hora que deixo de ser didático para ser puramente criativo.

Tem alguma história que deu pena de deixar de fora da edição final? O fato dele ter praticamente ajudado a inventar a publicidade, o spot de rádio, junto com o Casé, avô da Regina Casé. A história de como o Noel inventou o merchandising e ajudou a estabelecer as normas de como ganhar dinheiro no rádio. As histórias dele na escola também ficaram de fora, e são muitas e boas. Odiei não ter podido falar do cinema, que ele fez muita trilha para filmes, como por exemplo, o Cidade Mulher. Tem uma cara que lançou um livro agora só sobre a infância do Noel. O meu registro é muito particular. Dá pra fazer mais cinco filmes sobre o Noel Rosa.

Trailer oficial de Noel – O poeta da Vila

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