Como Cubatão, outrora a cidade mais poluída do mundo, virou exemplo de controle ambiental
Os hospitais de Cubatão eram fábricas fúnebres em 1984. Bebês anencéfalos em número bem
maior que o aceitável dividiam espaço com pacientes que, em 50% dos casos, morriam por doenças respiratórias. Fora dali, favelas apinhadas com metade da população da cidade se espalhavam pelas encostas da Serra do Mar, próximas a mangues ou ao redor de indústrias. Na Vila Socó, à beira de uma unidade da Petrobras, um incêndio matou mais de 500 pessoas e contribuiu um pouco mais para o ar fétido, denso e escuro da cidade. O “maior polo industrial da América Latina” se tornara o “Vale da Morte” – e um apelido era causa do outro.
“Foi um conjunto de fatores: miséria, falta de saneamento básico e as emissões de poluentes”, diz hoje Marcos Cipriano, engenheiro ambiental e gerente da Agência Ambiental de Cubatão da Cetesb. A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo chegou à região em 1982, numa ação do então governador Franco Montoro. Em meio à abertura política no país e a denúncias de ambientalistas do mundo todo, a cidade com a sexta maior arrecadação fiscal do Brasil não poderia mais esconder a sujeira.
Na época, as indústrias locais despejavam no ambiente aproximadamente 30 mil toneladas de poluentes, somados a dejetos venenosos, como amônia, lançados nos rios e no solo. “Nessa época foram identificadas 320 fontes poluidoras, mas hoje todas estão regularizadas”, afirma Marcos.
Basicamente, as chaminés das fábricas receberam filtros que reduziram sensivelmente a quantidade de gases tóxicos emitidos. Medições de 1990 já indicavam maior qualidade do ar na área urbana, com índices de poeira respirada próximos a 50 mg/m³ por dia, como recomenda a Organização Mundial da Saúde. Dois anos depois, na conferência Eco-92, Cubatão ganharia reconhecimento da ONU como exemplo mundial de recuperação ambiental.
Além do controle das fontes poluentes de ar, água e solo, um programa de reflorestamento contribuiu para o reequilíbrio ecológico da região, que voltou a ver até espécies animais desaparecidas.
Marcos Cipriano coordena uma equipe de sete técnicos que atua nas fábricas de Cubatão e Bertioga. Cabe a eles fiscalizar e autuar – multar em até
R$ 200 mil por dia – as indústrias que descumpram a lei. “Houve uma revisão no decreto em 2013 e ele está mais restritivo”, diz Marcos. A medida é importante: apesar de todos esses avanços, a poluição não foi totalmente eliminada.