Trip Transformadores 2012
Assista a premiação na íntegra e conheça melhor os homenageados da sexta edição do prêmio
Por Redação
em 26 de outubro de 2012
Leia abaixo sobre os homenageados e veja nos mini docs acima um pouco mais sobre o trabalho de cada um deles.
ANA BEATRIZ PIERRE PAIVA
Escritora e co-autora, com outros sete jovens, do livro “Mude Seu Falar Que Eu Mudo Meu Ouvir”
Ana Beatriz Pierre Paiva abriu uma porta que só ela, portadora de síndrome de Down, poderia abrir. Com outros seis jovens com deficiência intelectual, escreveu e publicou em 2011 o livro Mude o Seu Falar Que Eu Mudo Meu Ouvir, uma cartilha que traz dicas sobre como se portar e interagir com deficientes mentais. Foi o primeiro livro sobre acessibilidade escrito por deficientes intelectuais no Brasil. A importância desse marco justifica o fato de ter sido lançada na sede da ONU, em Nova York, em versões em inglês e português. Um dos objetivos principais do livro é garantir os direitos dos deficientes mentais, previsto em acordos internacionais ratificados pelo Brasil. Mas seu poder vai além. Mais do que ampliar a inclusão à sociedade de milhares de portadores de deficiência mental, a conexão criada abre olhos e ouvidos de todos para a riqueza da experiência de estar vivo. Com sua atitude, Ana Beatriz nos mostra que é possível explorar todo o potencial que mora em cada um de nós.
MARCOS EVANGELISTA DE MORAIS, CAFU
Jogador de futebol, criador da Fundação Cafu
Marcos Evangelista de Morais, o Cafu, é quem mais vestiu a cobiçada camisa amarelinha na história do futebol brasileiro. Jogou em três finais de Copa do mundo e, na última, em 2002, levantou a taça como capitão da seleção. Foi nesse momento, auge máximo de sua carreira, que Cafu revelou-se transformador. Em meio à formalidade da cerimônia, declarou a plenos pulmões seu amor à esposa Regina e fez questão de homenagear suas origens: no peito da camiseta que usava, em letras manuscritas, escreveu: “100% Jardim Irene”, bairro da periferia de São Paulo em que o jogador cresceu. Era a coroação de uma ação iniciada um ano antes, quando criou no seu bairro a Fundação Cafu, nascida do seu desejo de contribuir para a transformação do bairro e criação de oportunidades para crianças e jovens da região. A sede foi construída em 2004. Desde então, realiza atividades culturais e esportivas, de reforço escolar, de geração de renda e de formação profissional. O capitão do penta frequentemente acompanha pessoalmente muitas das atividades.
EVELYN IOSCHPE
Socióloga, jornalista e presidente da Fundação Iochpe
Socióloga e jornalista, Evelyn Ioschpe é presidente da Fundação Iochpe, cujo foco são projetos de educação e qualificação profissional de jovens. Engajada em construir pontes entre empresas e terceiro setor, foi cofundadora e presidente do Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), marco do investimento social privado.
Com formação em Museum Education, Evelyn é casada com Ivoncy Ioschpe, presidente do conselho da Iochpe-Maxion, empresa de porte global, especializada em peças automotivas e ferroviárias, que instituiu sua fundação. Nela, Evelyn está à frente de programas como o Formare, em que o ensino técnico profissionalizante é realizado dentro da própria fábrica, tendo funcionários voluntários como professores.
Criado em 1988, hoje o programa é reconhecido pelo MEC e não se restringe ao ambiente da Iochpe-Maxxion, sendo aplicado em mais de 50 empresas, da Nívea à Duratex; e já formou mais de 10 mil alunos. A outra iniciativa da Fundação é o Instituto Arte na Escola, voltado para a melhoria do ensino de arte do ensino público por meio da formação de professores. Através de parcerias com universidades de todo o país, a iniciativa já beneficiou 13 mil professores.
GABRIELA LEITE
Fundadora da Daspu, grife cuja renda financia ações de afirmação da cidadania das prostitutas
A jornada de Gabriela Leite começou na década de 1970 como a de muitos jovens que largam os estudos para trabalhar. A diferença é que ela largou a faculdade de filosofia, na USP, em São Paulo, para se tornar prostituta. O segundo passo decisivo ocorreu em 1987, quando ousou promover o Primeiro Encontro Nacional de Prostitutas e passou a liderar a luta pelo reconhecimento dos direitos das mulheres que exercem a profissão mais antiga do mundo. Cinco anos de ativismo depois, Gabriela criou a Davida, uma das primeiras organizações sociais de apoio às prostitutas, que serviu de modelo país afora. Mas a notoriedade veio em 2005, quando a organização criou a Daspu, uma grife cujo nome irreverente parodiava o de uma marca famosa e gerou uma ameaça de ação judicial. A concorrente, enrolada em acusações de sonegação de impostos, endividou-se a ponto de quase falir e foi vendida. Já a Daspu, cuja renda financia as ações da Davida, continua promovendo desfiles, lançando coleções e desafiando a hipocrisia geral. Em 2009, escreveu sua história no livro Filha, mãe, avó e puta, que acabou sendo adaptado para o teatro. Em qual desses papéis ela mais se realiza? “Eu gosto muito de ser avó. Mas também gosto muito de ser puta.”
ISABEL FILLARDIS
Modelo e atriz, fundadora da Força do Bem e Doe Seu Lixo
A atriz Isabel Fillardis é um exemplo de que não é preciso passar por uma experiência grandiosa ou traumática para despertar. No caso dela, tudo começou em 2002, pela leitura de uma reportagem sobre a crise ambiental que o mundo enfrenta. Sensibilizada, ela e o marido decidiram agir. Foi assim que nasceu a Doe Seu Lixo, organização sediada no Rio de Janeiro que hoje é referência na reciclagem de resíduos e na melhoria das condições de vida de catadores. Em 2003, ela já sabia que era possível transformar a realidade à sua volta quando seu filho, Jamal Anuar, nasceu com a síndrome de West, uma doença rara que afeta o desenvolvimento psicomotor da criança e exige cuidados intensivos e caros. A luta para tratar Jamal e a vontade de ajudar outras mães com filhos especiais, particularmente as que têm pouca condição para cuidar das crianças, estimulou Isabel a criar sua segunda ONG: “A Força do Bem”. A entidade desenvolveu o primeiro banco de dados brasileiro de pessoas com deficiência, que conta com mais de um milhão de cadastros. A ideia é buscar apoio para realizar o atendimento dos cadastrados.
JOÁS BRANDÃO
Ativista em período integral, ajudou a criar o Grupo Ambientalista de Palmeiras
Não há quem não o conheça nas cidades que circundam o Parque Nacional da Chapada Diamantina. Joás Brandão, 43 anos, três casamentos, quatro filhos, é uma lenda vida, alimentada, de um lado, pelo jeito de maluco, um sujeito que por anos só andava descalço pela mata, raramente corta o cabelo e é capaz de gestos impulsivos para defender o que acredita. De outro lado, o mito se mantém vivo por sua entrega quase total à paisagem exuberante do lugar e pelo resultado efetivo que alcançou, a partir de nada mais que um amor profundo pelo ambiente. Se hoje a Chapada Diamantina reúne incontáveis grupos de voluntários altamente organizados para monitorar e combater os incêndios, isso se deve a Joás. Já nos anos 80, quando cerrado era “mato” e floresta era promessa de carvão, Joás decidiu, em um impulso, combater as chamas que destruíam as paisagens para dar lugar a plantações e pastos. O parque nacional nem existia. Aos poucos, reuniu outras lideranças e com elas criou o Grupo Ambientalista de Palmeiras (GAP), que ampliou o escopo de ação e hoje leva coleta de lixo aonde as prefeituras não chegam e planta mudas para recuperar áreas degradadas. Seu exemplo fez nascer no local um espírito de luta pelo entorno, um sentimento de que é possível mudar o estado das coisas.
LAERTE
Cartunista, colocou em xeque definições de gênero e os limites da liberdade individual
Depois de quase 40 anos de carreira como cartunista e criador de personagens libertários, como os Piratas do Tietê, Fagundes e os Palhaços Mudos, Laerte se reinventou mais uma vez. Não sem crise e sofrimento. O processo começou em 2001, com questionamentos sobre o sentido de produzir quadrinhos, passou pelo fim do seu terceiro casamento e pela perda trágica de um filho, em 2005. Desenhar tinha perdido a graça e Laerte abandonou a maioria de seus personagens, exceto Hugo Baracchini, um tipo bastante comum, com quem compartilha a principal face da sua transformação atual: a transgeneridade. Hugo saltou do inconsciente de Laerte e começou a se travestir anos antes de o cartunista perceber que esse desejo não era apenas de seu personagem. Disposto a transpor limites, em 2009 decidiu conhecer o mundo pela perspectiva feminina, passou a se vestir e a se comportar como mulher. Não se trata de manifestação de orientação sexual: ele se define como bissexual e tem uma namorada. Sua atitude corajosa lançou um novo debate sobre papéis sociais. Ao se transformar, Laerte transforma e coloca em xeque definições de gênero e os limites da liberdade individual.
LUIZ EDUARDO SOARES
Antropólogo escritor do livro A Elite da Tropa, que virou o filme Tropa de Elite
Um dos maiores especialistas em segurança pública e justiça no brasil, o antropólogo Luiz Eduardo Soares abriu mão do conforto e da segurança dos bastidores governamentais e da academia para iluminar o submundo do crime e da polícia, arriscando com isso a própria vida. Quando subsecretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, denunciou a existência de uma “banda podre” da polícia fluminense e foi obrigado a se exilar nos Estados Unidos para evitar as ameaças de morte. De volta do exílio, relatou em livros o que sabia sobre as causas e consequências da crise de segurança que vive o Brasil, um dos países mais violentos da região mais violenta do planeta, que é a América Latina. Com uma escrita cativante, trouxe a público os interesses escusos que movem os governos, a tragédia que vitima diariamente as parcelas menos favorecidas da sociedade e as forças ocultas por trás da ineficiência policial. A potência da palavra ganhou alcance nacional quando dois dos livros que assina foram adaptados para o cinema e colaboraram para a criação do maior herói nacional, o Capitão Nascimento. Já integrado à tropa de elite da produção literária nacional, Soares acaba de lançar Tudo ou Nada, que conta a história de um brasileiro que integrou um grande cartel de tráfico de cocaína.
ROBERTO WAACK
Fundador da AMATA e um entusiasta da economia do futuro
Executivo de sucesso, em 2005 o biólogo e administrador Roberto Waack engajou-se em uma tarefa difícil e arriscada: criar, juntamente com seus sócios Dario Guarita Neto e Etel Carmona, um novo paradigma para a exploração florestal. Foi assim que nasceu a Amata, empresa que propõe tornar realidade algo que muito se ouve falar, mas pouco se vê praticado: transformar uma floresta em pé em um negócio atraente e lucrativo. O plano: plantar florestas nativas e exóticas e fazer o manejo sustentável de florestas nativas intocadas, para delas extrair receita pela venda de madeira e produtos não-madeireiros, além da justa remuneração pelos serviços ambientais que a floresta presta à humanidade, como a produção de chuvas e regulação do carbono na atmosfera. Com essa ideia inovadora e ambiciosa, de retorno mais demorado do que o mercado está acostumado, Roberto e Dario visitaram mais de 150 investidores, sem ouvir nenhum “não”. Mas também sem ouvir nenhum “sim”. O valor do negócio era evidente, mas não se enquadrava nos modelos de análise de risco. Foi preciso insistir muito até conseguir os primeiros apoios. Em 2008, a primeira recompensa: a Amata foi a primeira empresa a receber a concessão de uma área pública de floresta nacional para exploração comercial, no Brasil. Desde então, o desafio passou a ser outro: gerar valor não apenas econômico, mas social e ambiental, para todos os envolvidos. A economia do futuro deverá seguir os passos da Amata.
VERA CORDEIRO
Médica e fundadora da Saúde Criança
Médica clínica-geral de um hospital público no Rio de Janeiro, cansou-se de curar crianças para devolvê-las às mesmas condições de miséria que causavam suas doenças. Fundou a Saúde Criança, que identifica crianças em famílias de risco e dá suporte, por meio de voluntários treinados, para melhorar a renda, a educação, a saúde e a cidadania. Seu modelo de atuação tem sido copiado mundo afora.
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