O casal responsável pela ONG Social Skate, Sandro Testinha e Leila Vieira, aposta na reinvenção diária – do espaço, das pessoas, das ações – para uma vida menos individualista.
Sociedade, do latim “societas”, que significa associação amistosa com outros, ou o conjunto de pessoas que compartilham propósitos, gostos, preocupações, costumes e que interagem entre si, constituindo uma comunidade.
Quando deixamos de agir em sociedade, os interesses pessoais tornam-se latentes e deixamos de agir em verdadeira comunhão, passando a exercitar a individualidade. Agindo em sociedade temos a possibilidade de nos colocar no lugar do outro, respeitar opiniões, discordar também, mas com ética, respeito, nossos interesses podem ser diferentes, mas a empatia haverá sempre entre as pessoas envolvidas, seja num relacionamento, no trabalho, na escola e principalmente nas relações sociais.
O trabalho em uma instituição social requer o tempo todo que o verdadeiro sentido de “sociedade” prevaleça, e que incansavelmente lutemos por um coletivo. É impossível ser individualista em um trabalho voltado ao atendimento humanitário.
Mas ser individualista na sociedade atual é ruim?
Quando deixamos de agir e exercer o verdadeiro sentido de sociedade?
Hoje, ao ler este texto, quantos pensamentos individualistas tivemos?
Podemos deixar de agir com egocentrismo, e nos doar ao outro?
Podemos em nosso ciclo mais próximo agirmos e vivermos literalmente o sentido de sociedade?
Seja solidário consigo, permita-se mudar, deixe que sua autotransformação, vagarosamente, mude também o outro, haja e exercite o verdadeiro sentido de sociedade, em que respeitar, compartilhar, interagir e preocupar-se com o outro seja nosso condicionamento, e você pode fazer isso aí mesmo agora, transformando uma atitude ruim em uma oportunidade de acertar.
A Social Skate luta por uma sociedade igualitária, e por seres que tenham consigo como bandeira o poder de se transformar e o poder de respeitar como um todo o diferente, e principalmente de reinventar novas maneiras de conviver de maneira mais harmônica, onde o caos que se tornou a sociedade não perca o verdadeiro sentido.
Cadê a sociedade na política?
Cadê a sociedade em nossas relações pessoais?
Cadê o verdadeiro sentido de sociedade em todos nós?
Reinvente-se. No intuito de se reinventar a cada dia, aqui mesmo na ONG temos as mais variadas lições “simples e básicas”, mas acreditamos que podem ser lições a serem levadas e aplicadas pelo resto de nossas vidas.
Vai desde os meninos que assumiram a responsabilidade de guardar as rampas no nosso “cubículo” improvisado para isso, demonstrando toda a sua criatividade de fazer caberem quase 20 rampas e obstáculos de skate onde, a meu ver, caberiam no máximo umas cinco. Passando pela lição tirada de nossa escolha em permanecer com as atividades com skate em uma quadra abandonada pelos poderes públicos municipal e estadual, lutando contra os mais variados obstáculos - lixo, usuários de drogas, vandalismo e abandono. Hoje, devido a nossa exposição em mídias, poderíamos solicitar uma das duas escolas modelos que temos em Poá - SP, com teatro, piscina, quadras novas e cobertas. Talvez esse seria o caminho comum a ser seguido, mas optamos por reinventar o local onde estamos, trazendo a ele novamente vida, cor, alegria, crianças e famílias. Recentemente fiz até uma reunião com os usuários de drogas no local, mostrando que, independente do que eles estão passando e por gostarem e terem crianças de suas famílias em nossas atividades, eles também poderiam colaborar com a limpeza no local e ajudar a diminuir o vandalismo. E digo aqui a vocês que essa reunião nos trouxe mais resultados do que as reuniões junto ao poder público.
Outro caso de transformação através de reinvenção é o de uma mãe de um aluno nosso que no início do projeto somente recebia as doações que seu filho levava para casa (alimentos, roupas, calçados, etc.). Um tempo depois ela passou a frequentar as comemorações realizadas na ONG (Dia das Crianças, Natal etc.) e passou a ficar mais familiar a nós da ONG.
Já no último evento do Dia das Crianças ela fez questão de ajudar com o que tinha. Ou seja: com sua força de trabalho, vestiu a camisa literalmente e ajudou na cozinha e na hora de servir as refeições, saiu daqui cansada, mas voltou no outro dia exigindo que fosse chamada para ajudar em nosso evento de Natal e dizendo que ela poder ajudar foi a experiência mais legal que ela havia vivido. Com certeza essa mãe hoje se reinventou e faz parte não só mais das famílias atendidas mas como também de nossa equipe de voluntários.
Observando as questões apresentadas ao longo do texto e comparando com os exemplos que vivenciamos em nossa missão com a ONG, pedimos a extrema necessidade de tentarmos ao menos perceber que nos gestos, atitudes, forma de pensar e agir podemos nos reinventar e ajudar a reinventar nossa sociedade que muito fala do amor e da caridade, mas ainda pouco se pratica.
Sandro Testinha foi homenageado pelo Trip Transformadores 2013. Assista aqui a sua história.
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Créditos
Imagem principal: Pedro Fonseca e Ali Karakas