Para o empreendedor social, não devemos fechar os olhos para os problemas mundiais do cotidiano; mas é necessário dar mais atenção aos feitos positivos por aí
A propósito, qual é o propósito?
Dos 38 anos que estou neste “plano espiritual”, ao menos em uns 32 deles (tenho memórias claras de quando tinha 6 anos) me lembro de sempre ouvir alertas sobre graves problemas sociais, econômicos e principalmente sobre a questão ambiental em nosso planeta, a limitação de recursos naturais, a falta de consciência no uso destes, a “incrível” lenda imaginaria de que esses recursos pareciam ser infinitos.
Já na minha pré-adolescência, durante os estudos fui entendendo que há muito e muito tempo alguns desses problemas de hoje já assolavam nossos antepassados, talvez em graus menores do que os de hoje, mas já estavam presentes entre eles.
Chegando ao que consideramos fase adulta da vida, já convivendo e até mesmo de forma indireta colaborando para a “degradação” do nosso planeta, passei a perceber que tudo o que chamamos de mal tinha origem no mesmo “sujeito”, ou seja, o “bicho homem”.
Vem do homem o tal “progresso” que destrói a natureza, vem do homem a ganância pelo lucro em tudo o que pode ter custe o que custar e vem do homem, às vezes até em nome de Deus, pasmem, entrar em guerra com outros homens, tirando a vida de milhões e milhões de seres humanos, ao longo dos séculos com suas guerras.
Mas qual seria o propósito de tudo isso? O lucro? O poder? A acumulação de bens?
Enfim, há séculos se discutem esses propósitos, mas esses “males” do homem não diminuem, apenas se tornam mais “comuns”, a ponto de ligarmos menos para isso. Ainda mais em tempos de internet, uma “tragédia” se torna mundialmente conhecida e mundialmente esquecida rapidamente. Lembro como a recente tragédia contra a natureza em Mariana (MG) foi rapidamente esquecida depois de um ataque terrorista na França, o qual também já está em outro lugar na “fila de tragédias” cujo real propósito de existirem nós nunca entenderemos.
Aliás, estou chegando à conclusão de que em vez de gastarmos tempo ou pararmos, assustados, nossas rotinas por uma tragédia “fresquinha” que nos chega nas telas de nossos smartphones, pronta para ser compartilhada sem entender o porquê, deveríamos parar nossas rotinas ao menos uma ou duas horas por semana para fazer algo que propague o amor, a transformação, a tolerância e a caridade, pois acredito nas atitudes positivas, nos bons exemplos, que contagiam as redes sociais e nosso dia a dia com coisas positivas. Não peço para que finjam que coisas ruins não existem, mas sim para deixarmos de dar uma certa “moral” para esse tipo de coisa, e sim dar uma “moral” maior para o bem em vez de para o mal.
Nós da ONG Social Skate enfrentamos muitos obstáculos para seguirmos de forma independente e autossustentável em um mar de corrupção e enriquecimento ilícito que assola também o terceiro setor e já recebemos propostas de receber dinheiro de políticos através de emendas parlamentares, desde que deixássemos parte do valor com o partido do político que nos estaria “ajudando”. Recebemos também uma proposta indecente de receber dinheiro em troca de um vídeo declarando apoio a um candidato derrotado nas eleições presidenciais realizada recentemente no Brasil.
Mas como nosso propósito aqui é bem definido, reto e não faz “curva”, não aceitamos essas propostas, pois se queremos formar cidadãos honestos e melhores para evitarmos os males seculares mencionados aqui, não poderíamos aceitar nada, absolutamente nada, que tenha procedência duvidosa, seja vindo de políticos, de empresas que dizem ajudar as causas sociais, mas que exploram seus trabalhadores ao máximo, ou de empresas que lidam diretamente com dinheiro e têm anualmente lucros exorbitantes, porém, para não ficarem coma consciência doendo, destinam 0,00001% do que ganham somente cobrando juros da população a “ações sociais”. Todos têm algum propósito e não estamos aqui para julgar, e sim para dizer e mostrar que seja qual for o seu papel na sociedade, tente ter um tempo para bons propósitos, para fomentar sonhos em uma futura geração desde a infância, mesmo que de forma lúdica , brincando, batendo um papo. Tenho certeza de que o resultado será lindo e divertido. Quando perguntamos a crianças, jovens e adultos da ONG Social Skate o que querem ser quando crescerem, as respostas foram incríveis e o propósito agora é auxiliar essa criançada em busca dos seus sonhos.
A propósito, as crianças produziram um vídeo dessa experiência de projetar seu futuro, e nós adoramos os propósitos deles. Confiram, reflitam e passem a agir.
Leila Vieira e Sandro Testinha
Sandro Testinha foi homenageado pelo Trip Transformadores de 2013. Assista aqui a sua história.
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