Veja como foi a premiação do prêmio GOL Novos Tempos, que homenageou a empreendedora Aline Landim, criadora da plataforma que coloca a periferia de São Paulo no mapa dos aplicativos de mobilidade
Passa das 17h de uma quinta-feira de novembro e a empreendedora Aline Landim, 29 anos, está agitada em sua casa, na Brasilândia, bairro da zona norte de São Paulo. A inquietação se deve ao receio de não chegar no horário combinado à cerimônia do prêmio Trip Transformadores, que acontece no Auditório Ibirapuera, a cerca de 18 quilômetros dali. Até pouco tempo, os moradores de sua região, mais do que se preocupar em não se atrasar para os compromissos, tinham que encontrar uma maneira de se deslocar até eles. Alegando falta de segurança, algumas das principais empresas de aplicativo de transporte deixaram de operar em certos bairros da cidade no começo de 2017. No mesmo ano, Aline teve a ideia de criar a Jaubra, plataforma que busca atender a demanda de corridas na região e, hoje, transporta em média 6 mil pessoas por mês. A empresa conta com cinquenta motoristas cadastrados que podem ser solicitados por telefone, mensagem ou um aplicativo terceirizado – em breve, lançará seu próprio app de corridas, que já tem 500 profissionais interessados em se registrar. “São pessoas que conhecem o bairro e, por isso, não têm preconceito em dirigir aqui”, diz a empreendedora.
A Jaubra é a vencedora do prêmio GOL Novos Tempos, idealizado pela GOL Linhas Aéreas e entregue na celebração do Trip Transformadores. Em sua segunda edição, selecionou iniciativas do Brasil que por meio de soluções inteligentes e originais promovem a democratização da mobilidade. Para ir ao evento receber o prêmio, Aline tem à disposição um “motorista’’ mais do que especial: seu pai e sócio, Alvimar da Silva, 50. Antes de criar o projeto, ele havia trabalhado durante seis meses transportando passageiros da região como motorista cadastrado do Uber. Bastante conhecido nas redondezas, nesse período também aproveitou para fazer corridas particulares e, com a falta de concorrência, passou a ser cada vez mais solicitado. “Eram tantas ligações que eu não conseguia mais atender sozinho, então, passei a indicar amigos”, lembra. “Queria ajudar as pessoas da comunidade a ir e vir, e acabamos criando um empreendimento de impacto social antes de saber que esse termo existia.”
Bonde pesado
A bordo do Honda Fit vermelho que Alvimar, com bom humor, cogita deixar estacionado na sala de casa quando aposentá-lo – “Afinal, foi com ele que tudo começou”, diz, sobre o possante ano 2009/2010, 112 mil quilômetros rodados –, também está dona Anisia Maria da Silva, 64, a mãe de Alvimar. “Meu filho só não vai para o banheiro com o carro porque não cabe”, conta Anisia, que acredita ser a real merecedora do prêmio. “Fui eu que coloquei eles no mundo, oras”, argumenta, rindo, no banco do passageiro.
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Sentada atrás, Aline conta que não preparou um discurso, sequer anotou em um papelzinho uma cola sobre o que falar. “Isso sempre dá errado. Toda vez que meu pai vai dar uma palestra, esquece o combinado do que teria que ser dito. Comigo, em entrevista, já aconteceu de eu pedir para gravar de novo e esquecer do que tinha acabado de falar’’. Mas, dessa vez, Aline se sai bem, muito bem.
Inspirada pelas histórias de vida das dez pessoas homenageadas no Trip Transformadores, que neste ano celebrou o tema “Conviver é possível?” e exaltou projetos transformadores que atendem de crianças soropositivas à população carcerária, passando por mulheres vítimas de violência doméstica e preconceito racial, Aline subiu ao palco do Auditório Ibirapuera e recebeu a premiação das mãos do presidente da GOL, Paulo Kakinoff. E, com o microfone em mãos, emocionada, também emocionou. “Quando o projeto foi criado, não tínhamos noção do impacto que tinha. Com o tempo, vimos como as pessoas da comunidade dão valor ao nosso trabalho. A gente também está gerando renda, muitos jovens taxistas estão começando conosco e isso é muito gratificante. Estou muito feliz e só tenho que agradecer a oportunidade de estar aqui mostrando um pouco mais do que fazemos”.
Nos bastidores, Kakinoff fez questão de sintetizar a importância do prêmio e da Jaubra. “É muito difícil materializar o propósito de uma empresa por meio de ações que sejam tangíveis. O prêmio GOL Novos Tempos nos deu a oportunidade de ilustrar o que queremos dizer quando estabelecemos a intenção de ser a primeira companhia para todos, e a Jaubra é a definição disso”, diz. “Além de garantir o direito dos moradores da Brasilândia de chegar a qualquer lugar, levaram dignidade e mais vida às pessoas da região”. Também presente na premiação, German Carmona, gerente de marketing da GOL, fez coro. “O prêmio GOL Novos Tempos está cada vez mais alinhado à essência da GOL e do prêmio Trip Transformadores, que é uma inspiração por dar visibilidade a projetos que melhoram a vida das pessoas. E é isso que faz a Jaubra, com um olhar simples, humano e inteligente.”
No final da noite, já no saguão do auditório, Aline e a família eram puro êxtase. “Foi tudo lindo, todo mundo me deixou super à vontade, e estamos todos muito, muito felizes. Me senti muito privilegiada por estar no meio de pessoas tão incríveis que também pensam no próximo”, diz a empreendedora. É quase meia-noite quando entram no carro de Alvimar, com o sorriso de quem sabe exatamente como vai voltar para casa.
Créditos
Imagem principal: Mariana Pekin
