por Gustavo Angimahtz

Prêmio Trip Transformadores reconhece iniciativas cujo propósito é melhorar e a vida de todos nós.

A seguir, veremos as três últimas histórias antes da cerimônia que acontece este mês no Auditório Ibirapuera, em São Paulo. São elas: a da educadora Stela Goldenstein e sua esperança em mostrar a importância da recuperação de rios como o Pinheiros; a de doutor Ozires Silva e sua experiência na criação da indústria de aviação nacional; e, por fim, a do tenista Gustavo Kuerten e sua humildade e interesse genuino pelo outro. Inspire-se.

O Prêmio Trip Transformadores é apoiado por marcas com princípios alinhados à iniciativa e a seus homenageados. Este ano o prêmio tem patrocínio do Grupo Boticário, nosso parceiro desde 2008, copatrocínio de Ambev, Apex, Hyundai i30 e Santander, além do apoio de Suzano Papel e Celulose, GOL Linhas Aéreas Inteligentes, Academia de Filmes, AlmapBBDO, Update or Die e Eldorado FM 107,3.

Dr. Ozires Silva - Aprendendo a voar 

Ozires Silva é um dos resposáveis pela construção dos mercados de aviação civil e militar brasileiros: formado no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), foi fundador da Embraer e o primeiro presidente da empresa, que começou a produção industrial de aeronaves no país. Depois, presidiu a Petrobras e a Varig e foi ministro da Infraestrutura, mas é na educação que Ozires aplica hoje sua experiência.

Aos 84 anos, é presidente do conselho de administração do grupo Ânima Educação, que tem mais de 10 mil funcionários e 141 mil alunos em diversos polos de ensino superior espalhados pelo país, e reitor da Unimonte, em Santos. “Não é um sofrimento fazer qualquer coisa nova, é excitante. Não é sair da zona de conforto. É não entrar nela”, diz o engenheiro, que tem como objetivo expandir o potencial da inovação brasileira por meio da educação. Ou, como diz o mote do grupo: “Transformar o país pela educação”.

“É uma pena que por força da idade eu tenha perdido a vitalidade que tive no passado, mas, se puder, vou continuar a contribuir mais e mais”, conta. Uma parte do reconhecimento por toda sua contribuição é visível em sua sala na sede do grupo Ânima, em São Paulo, onde acumula miniaturas de aviões estampadas com mensagens de agradecimento.

Trabalho vem antes

Foi em Bauru, sua cidade natal, que Ozires conheceu um alemão e um suíço que fugiram do campo de batalha na Segunda Guerra Mundial e chegaram ao Brasil com projetos de planadores nas malas. Frequentando um recém-inaugurado clube de aeromodelismo, onde ajudava Hendrich Kurt, o alemão, 

e Hans Widmer, o suíço, a colar peças, Ozires já sabia que 

queria construir aviões. “Se pensamos sobre aviação, o que vem é a ideia de pilotar um avião, não de fabricar”, conta. “E foi isso que essa experiência trouxe de diferente para mim.”

Mas a fabricação de aviões no Brasil não era uma tarefa fácil. “Santos Dumont sempre procurou fabricar aviões no Brasil e nunca conseguiu”, afirma Ozires, que acabou entrando para a Força Aérea Brasileira (FAB), da qual viria a ser coronel – o mais próximo que conseguiria, à época, da indústria da aviação. Depois, ingressou no ITA com bolsa de estudos e formou--se engenheiro em 1962. 

A Embraer nasceu de um projeto que Ozires liderou depois de formado: a criação e construção do Bandeirante. “O Bandeirante voou pela primeira vez em 26 de outubro de 1968. Não teve grande prestígio no Brasil, mas era o nosso avião”, diz. 

“E os americanos se interessaram.” Ozires imaginou a empresa em um formato de parceria com o governo, como a Petrobras. “Comecei a empresa do zero, sem credibilidade, e quase oito anos depois conseguimos certificar nosso avião nos Estados Unidos, e nossas vendas explodiram”, conta.

A indústria que Ozires construiu valorizou um produto genuinamente nacional, e o engenheiro atribui tudo à educação. “Fui um cara transformado pela educação. Acredito em transformar o país através dela”, diz. Mas avisa: “O único lugar em que o sucesso aparece antes do trabalho é no dicionário”.

 

Stela Goldenstein - Isso é água

Consumo consciente e responsabilidade ambiental são duas demandas que, diz Stela Goldenstein, ganham cada vez mais protagonismo em nossa sociedade. Stela é ambientalista e diretora executiva da Associação Águas Claras do Rio Pinheiros, organização de pessoas e empresas interessadas na recuperação do rio e de seus afluentes. “Entre os muitos rios da metrópole paulista, o Pinheiros talvez seja aquele com o qual a população mais conviveu”, comenta. “Até a década de 40, o rio era local de lazer.” 

Stela defende que a vida nasce na água, e que cuidar da água exige manobras que envolvem os mais diversos setores do poder. “É o fator mais importante para a vida”, diz a ambientalista. As grandes transformações vividas pelo rio Pinheiros tiveram início nos anos 30, quando grandes obras foram realizadas para permitir a retificação de seus meandros e a drenagem de seus brejos. A construção de barragens e bombas mudou o curso do rio, que deixou de correr na direção de sua foz original, no rio Tietê, e passou a alimentar a represa Billings. “Além disso, as áreas de entorno do rio foram urbanizadas e ocupadas. Essas obras, junto com a construção de vias expressas de tráfego, fizeram com que o rio Pinheiros se isolasse do cotidiano das pessoas antes mesmo de suas águas estarem contaminadas pela poluição.”

Stela defende que um dos setores que merecem especial atenção para uma transformação profunda é o saneamento. “Quando poluímos a Billings, precisamos procurar água em outros lugares, e vamos impactando ambientalmente lugares cada vez mais distantes”, afirma.

Outra questão levantada por Stela diz respeito à alimentação. Cada porção de terra é capaz de produzir alimentos para uma quantidade limitada de pessoas, e não é fácil alimentar uma cidade como São Paulo. “Quando se pensa em ações para uma metrópole, o leque é tão amplo que nem os governos sabem exatamente o que se deve fazer”, diz. “É fundamental articular ações em município, estado e união. Planos e metas comuns para conseguirmos atuar de forma consistente”, crê.

Florestas e cidades

Outro problema é a proteção das áreas de mananciais. “A ocupação irregular desses terrenos foi devastando florestas que deveriam ser protegidas, onde nascem as águas que abastecem represas como Billings, Guarapiranga e Cantareira”, conta Stela. “E dependemos da preservação de florestas distantes, como o cerrado e a Amazônia. A relação entre ter florestas e cidades sustentáveis é direta.” Ainda há, destaca Stela, a situação dos pequenos proprietários. “A tendência é que eles vendam sua terra e rumem à cidade, perdendo renda, inserção e qualidade de vida”, diz a ecologista, que alerta para a falta de políticas que garantam subsídios fundamentais para a manutenção da terra do pequeno proprietário.

Mesmo com uma visão realista sobre o futuro do meio ambiente, Stela acredita que o trabalho deve continuar. “Perceber que as pessoas estão se preocupando faz com que a gente mantenha a motivação. Existem pequenos resultados, como ver que as pessoas e os governos estão mais atentos. Meu sonho é não parar, nunca.”

 

Guga Kuerten - Jogo da transformação

Gustavo Kuerten, tricampeão de Roland Garros, que abandonou as quadras por conta de uma lesão no quadril há 14 anos, sempre enxergou no esporte um caminho para melhorar o país. Guga, hoje, joga sua mais importante partida: cuida do importante legado que construiu com sua família, o Instituto Guga Kuerten (IGK), que desde 2000 mobiliza esforços, recursos e estabelece parcerias para o desenvolvimento de ações sociais, movimentando mais de 250 milhões de reais por ano. 

A paixão pelo esporte que transmitia aos brasileiros que o acompanharam durante sua carreira pode ser equiparada à de grandes ídolos como Senna ou Pelé, e é essa paixão o motor que o tenista usa para inspirar jovens hoje em dia. 

Assim como aconteceu com a carreira de Guga, o IGK está crescendo aos poucos e de forma planejada. Com o sucesso do tenista brasileiro e suas vitórias, a família Kuerten pôde exercitar cada vez mais sua responsabilidade social. O instituto contribuiu ativamente para incluir pessoas com menos capacidades motoras e mentais no mercado de trabalho por meio de um fundo que apoia projetos sociais, além de manter programas como o Cam-peões da Vida (ações educativas realizadas por meio do esporte) e o Ações Especiais (que defende os direitos do cidadão e propõe ações políticas para que esses direitos sejam preservados). 

O foco do trabalho do instituto é com crianças que tiveram menos oportunidades ou que estão em situação de risco, oriundas de realidades de violência ou pobreza. Em todos os dias de atendimento, as atividades são desenvolvidas nas oficinas de tênis, esportes complementares e culturais, em um trabalho interdisciplinar com as áreas de artes cênicas, biblioteconomia, educação física, informática, jornalismo, pedagogia, psicologia e serviço social.

Todo poder às crianças

A família de Guga é fundamental para o instituto. Ao seu lado, sua mãe, Alice Kuerten, e seu irmão, Rafael, controlam a parte administrativa da fundação. “Esse ambiente profissional traz uma unidade muito forte”, conta Guga. O instituto conta ainda com 90 funcionários e estagiários. Quando o assunto é Brasil, Guga é otimista. “Precisamos começar a promover intensamente a cidadania, a consciência, o caráter e a decência”, defende. “Só assim teremos condições de entender a importância de nossas escolhas e de assumir as responsabilidades por elas.” Guga acredita que a educação é o caminho mais curto para mudar o Brasil. “Leva tempo, mas precisamos começar”, diz. “Precisamos investir todas as forças em nossas crianças e jovens, sempre.” 

 

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