Os homenageados do Trip Transformadores 2019

Conheça as dez personalidades que, com coragem, inteligência e originalidade, ajudam a promover o avanço do coletivo

por Nathalia Zaccaro Carol Ito em

É preciso uma dose extra de coragem para lutar contra os problemas enraizados na cultura brasileira. Há 13 anos, o Trip Transformadores reconhece o trabalho de gente corajosa que, com seus trabalhos, ideias e iniciativas de grande impacto ou originalidade, ajudam a promover o avanço do coletivo. “O prêmio existe para celebrar pessoas que descobriram maneiras mais inteligentes e generosas de gastar seu tempo nesta breve passagem por este planeta", afirma o editor e fundador da Trip, Paulo Lima.

Os homenageados de 2019 são figuras inspiradoras que ajudam a evidenciar, de forma muito clara, a ideia de que só vai ficar bom para alguém quando estiver bom para todo mundo. Personalidades que usam sua visibilidade para reverberar causas importantes, gente que transforma uma luta individual em luta coletiva, que muda as engrenagens de um sistema injusto e violento e se dedica a desenvolver um jeito mais humano de lidar com as questões da sociedade.

São pessoas que estão na linha de frente apontando caminhos para a transformação e que traduzem o nosso jeito de olhar o mundo. E elas já estão entre nós. Descubra quem são os homenageados deste ano:

]<h3><a href="https://revistatrip.uol.com.br/homenageados/2019/tabata-amaral" target="_blank" rel="noopener">Tábata Amaral</a> | Educar para sonhar</h3><p>“Foi a educação que me permitiu sonhar com um futuro diferente. Por isso eu luto para que todos tenham acesso a uma escola pública de qualidade”, defende Tábata Amaral, que, aos 25 anos, exerce o primeiro mandato como deputada federal. Logo no início, foi destaque em todos os jornais pelo confronto com o então ministro da Educação Ricardo Vélez Rodríguez. “Em um trimestre, não é possível que o senhor apresente um Powerpoint com três desejos para cada área da Educação. Cadê os projetos? Cadê as metas?”, questionou. Filha de um cobrador de ônibus e de uma diarista, a paulistana é um dos nomes mais promissores na, tão sonhada, renovação da política brasileira.</p><h3><a href="https://revistatrip.uol.com.br/homenageados/2019/yvonne-bezerra">Yvonne Bezerra de Mello</a> | Educação sem barreiras</h3><p>Como educar crianças de rua em situação de extrema vulnerabilidade? Para responder essa pergunta, a carioca Yvonne, 72 anos, desenvolveu uma metodologia de ensino inovadora, que envolve exercícios de cálculo rápido e memorização. Conhecida como UERÊ-MELLO, a pedagogia de Yvonne já ajudou mais de 7 mil crianças e capacitou mais de 18 mil professores no Brasil e no exterior. Em 1993, ela testemunhou a Chacina da Candelária – por esse motivo, foi sequestrada por policiais e ameaçada para que não fosse ao tribunal – e decidiu abrir uma escola embaixo de um viaduto para reunir as crianças que sobreviveram à tragédia. Foi assim que surgiu o Projeto UERÊ, que, em 1998, se tornaria uma escola com portas e janelas na Favela da Maré.[IMAGE=../../../upload/2019/09/5d7024acbb404/tpm-09-19-transformadores-materia-2.jpg; CREDITS=; LEGEND=

Altamiran Lopes Ribeiro | Socioambiental em foco

Para o piauiense de 39 anos, preservar o modo de vida de comunidades tradicionais —  quilombolas, indígenas e quebradeiras de coco, por exemplo —  é também cuidar do meio ambiente. O trabalho dele passa por evitar que grupos como esses sejam expulsos de suas terras, enfrentando a grilagem e o avanço do agronegócio no nordeste do Brasil. No país que lidera o ranking de mortes de ambientalistas, ele conta que recebe ameaças constantes, mas segue na defesa dos mais vulneráveis: “O medo existe, mas você vai deixar seus irmãos morrendo?”, diz. Há oito anos, ele atua como coordenador da Pastoral da Terra e há seis tem dedicado esforços à região do Matopiba, conhecida como a “última fronteira agrícola” do país.

Simone Mozzilli | Do diagnóstico à ação

A paulistana já trabalhava ajudando crianças em tratamento de câncer quando recebeu o diagnóstico de que estava com a doença em fase avançada, com uma estimativa de sobrevida que não passava de 30%. Hoje, está curada, e ampliou a abrangência do trabalho que faz. Em 2013, criou a ONG Beaba, que tem como missão informar crianças e acompanhantes sobre uma série de termos médicos e procedimentos que muitos têm dificuldade de entender. Em 2018, desenvolveu um game com informações sobre o tratamento que já foi baixado por cerca de 15 mil pessoas. “É muito mais fácil quando se criança entende o que é a quimioterapia e porque está fazendo aquilo, a criança se engaja muito mais no tratamento”, explica.

editarremoverConceição Evaristo | Reescrevendo o Brasil

Conceição Evaristo encontrou na literatura um caminho para promover a empatia. “Minha escrita é profundamente marcada pela minha posição de mulher negra na sociedade brasileira”, diz. Apesar de escrever desde a adolescência, foi só em 1990, aos 44 anos, que publicou seu primeiro livro, na série Cadernos Negros, editada pelo coletivo Quilombhoje. Em 2015, ganhou um prêmio Jabuti. Em 2018, apareceu cotada para a Academia Brasileira de Letras, onde seria a primeira mulher negra, mas, apesar da intensa campanha popular, perdeu o lugar para Cacá Diegues. Sua existência e trabalho são fundamentais para promover a temática negra e combater o racismo estrutural no Brasil.

Dexter e Ibere Dias | Opostos complementares

“Não tem cachê maior ou melhor do que ver a vida de alguém mudar bem ali na sua frente, por conta do seu trabalho. É foda”, diz Dexter. O rapper usa sua visibilidade para promover o projeto Trampo Justo, iniciativa do juiz Ibere Dias, que se volta aos cerca de 8 mil jovens que vivem em casas de acolhimento no estado de São Paulo. O foco é criar pontes para o mercado profissional para quem, aos 18 anos, precisa encarar o mundo sozinho. Para o juiz, a figura de alguém que saiba falar de igual para igual com esses jovens é fundamental para o sucesso do projeto. "É inevitável que eles olhem para mim e digam: Você é um homem branco, de classe média alta, que estudou em bons colégios… Não faz ideia do que é ser pobre e negro na periferia'. E eles têm razão", explica.

Eduardo Schenberg | A psicodelia a serviço da saúde mental

Em busca de tratamentos mais eficientes para transtornos mentais, Eduardo Schenberg decidiu estudar os efeitos de drogas psicoativas, como ayahuasca e MDMA, no cérebro humano. Ele defende que é possível fazer um uso seguro de drogas e que a proibição aumenta o perigo dessas substâncias quando afasta as pessoas de informações sobre a dose adequada e a qualidade do que estão consumindo. “Os psicodélicos são substâncias muito mal faladas. Mas, quando empregados terapeuticamente por profissionais bem treinados, que cumprem uma série de protocolos, fornecem resultados mais rápidos e eficazes do que os tratamentos psiquiátricos atuais.”

Rodrigo Hübner Mendes | Incluir para educar

Rodrigo Hübner Mendes ficou tetraplégico aos 18 anos, depois de levar um tiro no pescoço durante um assalto. O paulistano transformou uma situação de adversidade em uma alavanca, ao invés de uma âncora. Ele dedica sua vida para garantir que pessoas com deficiência tenham acesso à educação de qualidade na escola comum, sem segregação em escolas especiais. Há 25 anos, fundou o Instituto Rodrigo Mendes, uma organização sem fins lucrativos que atua na promoção da educação inclusiva. “Até pouco tempo, a única opção para pessoas com deficiência era a escola especial, que limita muito a interação da criança com o resto do mundo. Ela precisa ser desafiada para atingir o máximo de seu potencial”, explica.

Pedro Bial | Muito além do entretenimento

Pedro Bial já foi correspondente internacional, diretor de documentários, jornalista de guerra e apresentador do reality show mais popular do país, o Big Brother Brasil. Sua diversa e bem sucedida carreira no jornalismo e no entretenimento fez dele um dos maiores comunicadores do país e o capacitou para a importante missão que desempenha agora: levar, para o maior canal aberto do Brasil, debates de altíssimo nível, sobre importantes temas da atualidade. Assuntos como racismo, homofobia, luto, ciência e religião, são tratados de forma acessível, inteligente e ponderada graças à sua condução. Com isso, vem ajudando a enfrentar o radicalismo e a tornar o Brasil um pouco mais inteligente.

Walter Casagrande | O que a vida quer da gente é coragem 

Walter Casagrande teve uma bem sucedida carreira no futebol, mas, com a mesma força que teve para conquistar todos os seus sonhos, foi empurrado ladeira abaixo. Quando deu por si, estava em uma clínica de reabilitação para usuários de drogas, depois de passar dias em coma por causa de um acidente de carro. O ex-jogador e comentarista passou por um longo e doloroso processo de reabilitação e hoje é das pouquíssimas personalidades que têm coragem de vir a público falar sobre o tema, ajudando a desconstruir o estereótipo que envolve a doença. Em 2013, lançou a biografia Casagrande e seus Demônios, em que revelou detalhes de sua luta. “Muitas pessoas me dizem que leram meu livro e com isso ajudaram o filho, o pai, a mãe. Ao mesmo tempo, isso me ajuda muito.” 

 

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