Estes irmãos, após atuarem em diversos segmentos profissionais, abandonaram um ambiente em comum para viver de arte
Singular ou plural? Até o próprio nome artístico dos irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo confunde essa definição. Isso porque ao citar a dupla em qualquer ocasião, recorre-se a um único apelido: OSGEMEOS – assim, sem acento e sem espaço. Inseparáveis.
Nascidos em 1974, eles cresceram no Cambuci, na região sudeste de São Paulo. E como a rua é o palco onde costumam brilhar, metaforicamente pode-se dizer que eles tiveram acesso ao backstage muito cedo, no próprio bairro onde moravam. Para isso, contaram com a terceira peça fundamental de um tripé indestrutível, o irmão mais velho Arnaldo Pandolfo. Foi ele quem apresentou os caçulas ao cenário hip hop paulistano, primeiro por intermédio da dança e chegando, posteriormente, àquilo que faria de Gustavo e Otávio mundialmente famosos: o grafite.
Que a arte transforma, isso a gente já sabe – seja uma tela, uma parede, um chão, ou qualquer outro ambiente propício, ou não propício. O que também sabemos é que ela muda vidas. E mudou a destes irmãos, que após atuarem em diversos segmentos profissionais abandonaram um ambiente em comum para viver dos traços. Ambos eram – acredite se quiser – bancários. Mas apesar de assustador aos olhos de alguns familiares, abandonar essa carreira era questão de tempo. Não apenas pela aptidão e pelo nítido talento que ambos tinham ao desenhar – que os levaria, cedo ou tarde, ao reconhecimento -, mas também pelo fascínio que sempre tiveram em transformar; até os brinquedos na infância eram derretidos e redescobertos pela dupla.
E o grafite, nada mais é, do que uma forma de transformar. É a forma que encontraram, inclusive, de chamar atenção para espaços públicos degradados e de fazer de vielas escuras telas coloridas. Por muito tempo isso foi feito de forma ilegal por eles. E nada de arrependimento moral. Pelo contrário: "Não tinha preço fazer de forma ilegal, ficar um em cada esquina para ver se não tinha polícia, e usar o resultado como background para dançar na frente do grafite”
O fim dessa história, a maioria já sabe. Após mais de uma década pintando pelas ruas e recebendo oportunidade de algumas publicações – como a Trip, já nos anos 90 – de expor suas obras, eles receberam enfim um convite que mudaria a vida da dupla. E a proposta veio da Alemanha, em 1999, onde eles mostraram pela primeira vez a sua arte fora do território canarinho.
De lá para cá, OSGEMEOS já expuseram seus traços finos – que no início eram muito difíceis de serem reproduzidos usando os tradicionais sprays de grafite – em muitos museus, ruas e até mesmo aviões mundo afora. Mas ainda assim, sabem diferenciar cada tipo de arte que produzem: " Grafite é na rua, no museu e na galeria nós trabalhamos outras plataformas”.
Sempre usando como base o Tritrez, um mundo lúdico com personagens amarelos adotados pelos nossos homenageados, ele tentam de certa forma transformar o mundo, direta ou indiretamente. Um bunker instalado à porta do Museu do Pontal, no Rio de Janeiro, por exemplo, alerta sobre a importância de se preservar a arte popular brasileira.
E OSGEMEOS preservam, acreditam, insistem. Eles apostaram em si próprio, como apostam em cada parede desgastada da cidade, ou em cada tela branca que espera por uma obra de arte.