por Redação

Pernambucano dispara: ”não existe ineditismo que resista a uma boa pesquisa bibliográfica”

Ele é um dos mais completos artistas da música brasileira contemporânea. Natural de Recife, se mudou para o Rio de Janeiro no fim da década de 70, ainda aos 19 anos. Lançou Baque Solto, seu primeiro disco, em 1983, mas o sucesso chegou mesmo junto com seu primeiro disco solo, O Dia em que Faremos Contato, de 1997. Exímio compositor, letrista, violonista, cantor, arranjador e produtor, teve inúmeras canções gravadas por outros artistas, participou de projetos de incontáveis músicos, produziu discos de parceiros e fez direção musical para teatro e televisão.

Com uma criação meio católica, meio comunista que recebeu de seus pais e três anos de faculdade de Engenharia Química no currículo, encontrou a melhor maneira para se expressar através de sua música, misturando ritmos nordestinos com rock, pop e MPB. Quem se liga em música já deve ter percebido que o papo no Trip FM desta semana é com Lenine, um dos mais talentosos artistas brasileiros da atualidade, que falou sobre a mudança de vida quando chegou ao Sudeste, a longa trajetória na música popular brasileira e a resistência do público roqueiro à influência da música nordestina.

"O rock começou a aparecer mesmo no Brasil porque a MPB estava cobrando muito caro para fazer o que fazia. E a própria indústria ficava se perguntando se não tinha gente mais barata para colocar na roda. O rock foi uma confluência de coisas. Apareceu quando a imprensa decidiu colocar o foco naquela garotada que estava saindo das garagens. Mas isso eram universos-ilhas, que não tinham vasos comunicantes. Não tinha ponte", comentou Lenine sobre o panorama musical na época de sua chegada ao Rio de Janeiro. "E quando a gente chegou aqui, chegamos com um tipo de blindagem que não conseguia eco. A turma do rock olhava pra gente e dizia que era muito MPB, enquanto a turma da MPB dizia que era muito rock n' roll."

"Os veículos de comunicação da época também eram muito fechados. Os nichos eram fechados demais, infinitamente mais do que agora. Então para a gente foi muito difícil. Eu digo sinceramente que houve muito preconceito, os caras falando: 'ó os paraíbas denovo'! E rolava uma certa incompreensão pelo fato de que nós já estávamos fazendo uma hibridade que só veio realmente acontecer no Brasil muito tempo depois, essa coisa do rock se aproximar da MPB e vice-versa."   

O sucesso de Lenine entre os diferentes públicos que acompanham seu trabalho se dá, além de pelo talento de compositor e cantor, também pela forma como Lenine se coloca no mercado fonográfico. Seja colaborando com músicas para trilhas de novelas, muitas desde o início da carreira, ou fornecendo trilha sonora para projetos de dança contemporânea, o pernambucano encontrou o equilíbrio ideal entre participação no meio artístico mainstream e underground. Para o cantor, não há forma melhor de manter seu trabalho autoral, sem fechar as portas jamais para os projetos que darão ainda mais visibilidade para sua música.

"Eu percebo que há uma coisa que me acompanha a vida toda, uma certa estranheza que eu procuro. Eu sinto isso desde sempre e nunca me distanciei desse sentimento, nem um tantinho. Tem uma coisa de não ser de nenhuma turma e ao mesmo tempo ser de todas. Isso foi a vida que me ensinou. Essa coisa de ser meio camaleão, do ditado 'em terra de sapo, de cócoras com eles", diverte-se o compositor pernambucano. "É aí que você vai ficando meio casca grossa. Você vai ficando com orelha de morcego, vai prestando atenção nas coisas e a sua carreira vai seguindo esse tipo de preocupação."

"Bicho, eu nunca quis fazer um puta sucesso. Isso permeou minha vida. O que eu queria era fazer diferente. Eu não me contentava em fazer o que já fizeram, muito embora eu bata nessa tecla o tempo todo: não existe ineditismo que resista a uma boa pesquisa bibliográfica. Se você procurar, vai ver que nada é novo. Mas eu sempre procurei essa estranheza", concluiu Lenine.

Extra! Ouça logo abaixo somente aqui no site as respostas que não entraram no Trip FM, incluindo a árvore genealógica do cantor, a importancia de Elba Ramalho em sua carreira, um papo sobre seu mais recente disco e a experiência de viver na Casa 9, lar provisório de vários artistas da música nos anos 70, que está virando documentário sob a direção de Luiz Carlos Lacerda.

O Trip Fm vai ao ar na grande São Paulo às sextas às 20h, com reprise às terças às 23h pela Rádio Eldorado Brasil 3000, 107,3MHz


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