Antonia Pellegrino indica: visite Inhotim, de acordo com a autora, você não se arrependerá
Se sua resposta for não, pare tudo, faça as malas e vá agora. E, pra quem já foi, também.
Porque Inhotim é um museu a céu aberto, então uma visita nunca é igual a outra. Porque Inhotim é um centro de arte contemporânea que se define como “um lugar em transformação contínua” e, em outubro último, inaugurou novos pavilhões, inclusive o Pavilhão Sônico, de Doug Aitken, que captura o som da terra a 200 metros de profundidade – no dia em que o visitei, a terra emitia muitos barulhos, disseram-me que “estava agitada”.
Inhotim fica em Brumadinho, a 60 quilômetros de Belo Horizonte, sobre 45 hectares de jardim tropical, repleto de lagos e aves. É um lugar-experiência, capaz de tornar o corpo sensível como um espelho d’água. Entre os pavilhões, jardins fabulosos. Arte e natureza em continuum, em intenso diálogo. Quem dirá que o pé de tamboril não é mesmerizante como uma obra de arte? Ou que o edifício envidraçado, onde fica a instalação True Rouge, do Tunga, não parece ter pousado, como uma bela ave, à beira daquele lago?
É logo ali
Uma frase que escutei muitas vezes sobre Inhotim: “Parece que não é no Brasil”. Porque a gente se vê de modo tão negativo que qualquer coisa boa parece que não é aqui. No entanto, na última vez em que estive lá, uma mulher, pobre e preta, me perguntou: “Colega, tu sabe onde fica o pavilhão da Adriana Varejão?”. Quem vai dizer que isso não é Brasil? Inhotim e seus jardins repletos de esculturas não metem medo como o cubo branco e os espaços mais tradicionais da arte. Seus percursos livres, através dos quais pode-se caminhar sobre a terra, fizeram do museu uma espécie de praia do interior, onde toda a gente se mistura. Inhotim é a cara de um novo Brasil.
A começar pela sua construção. Inhotim foi idealizado e realizado por Bernardo Paz, um milionário do ramo da mineração, com dinheiro do bolso. Fato que nos Estados Unidos é normal, mas é raro entre nós – ainda padecemos da mentalidade extrativista herdada dos tempos da colônia. Nossos ricos amam a isenção fiscal e, quando ajudam o país, gastam economizando: o assistencialismo sai mais barato que a construção efetiva de um bem civilizador. Só uma estrela do porte da Madonna para fazer essa gente assinar cheques...
Moro no Rio de Janeiro e nas duas vezes em que fui a Inhotim viajei de carro. Aproveitei um fim de semana prolongado por um feriado e visitei também cidades mineiras históricas, como Tiradentes e Ouro Preto. Sempre volto de lá um pouco mais gorda e com a nítida sensação de que Minas Gerais tem muito a nos ensinar, sobretudo à cariocada casca-grossa, em termos de hospitalidade e gentileza.
Eu sei que, se Inhotim fosse pertinho de Paris, muito mais gente (besta) teria ido. Como é no interior de Minas, às vezes as pessoas (bobas) não dão tanta bola... Mas o fato é que Inhotim está no mapa. Mexa-se e vá pra lá!
*Antonia Pellegrino, 30 anos, é roteirista e escritora. Seu e-mail:a.pellegrino@terra.com.br