por Clarissa Corrêa

Não é fácil enfrentar nossos medos e crescer

Não tem nada melhor que colo de pai e mãe. Mesmo com todas as brigas, mesmo com todas as loucuras, mesmo com os contratempos, as diferenças, as mágoas que ainda não foram. É lá, no meio do abraço do pai, sentindo o cafuné da mãe, lembrando daquele tombo de bicicleta que a gente se sente em casa.

Só depois que cresci que aceitei (e finalmente entendi) que tenho um gênio muito parecido com o do meu pai. Só depois que mudei para a minha própria casa que me dei conta que enquanto eu cozinho já vou lavando a louça para não fazer bagunça, que nem a minha mãe. Quando meu irmão morava em casa, era meu porto-seguro. Na hora do medo eu chamava ele, que ia correndo me salvar do imaginário. Sabe como é, pequena e grande, a gente ouve coisas e vê vultos depois de assistir filmes de terror e suspense. Depois que ele se mudou, também mudei. Quando sentia medo puxava o colchão para o quarto dos meus pais. Com 27 anos. E sem nenhuma vergonha de parecer boba.

Meu pai me ensinou a não ter medo. Minha mãe me ensinou a lidar com o medo que sinto. E eu aceitei que é natural crescer e continuar sentindo medo. Que não tem nada melhor que crescer e continuar criança. Demorei um pouco para começar a trabalhar e sair de casa. E foi a melhor coisa que eu fiz. Durante muito tempo, fui filhinha de papai. Não trabalhava, tinha tudo na mão, vivia numa bolha protegida do mundo real. Um dia, sem mais nem menos, saí. Por vontade, por necessidade. Não adianta o mundo inteiro falar ei, anda, muda de vida. Chega uma hora que dá um estalo e a gente decide ir. E eu fui.

Foi (e é) difícil essa vida de adulto. Se eu não mando minha roupa para a lavanderia ninguém manda. Se eu não lavo minha louça ninguém lava. Se eu não arrumo a cama ninguém arruma. Se eu não cozinho ou peço alguma comida não como. Se eu não pago as contas ninguém paga por mim. Se eu não fecho a janela ninguém fecha. Se eu não faço por mim ninguém faz. É claro que tenho amigos e família. Mas é diferente. Dá uma sensação de vazio, de solidão necessária. A gente precisa crescer.

Você pode estar achando uma baboseira tudo isso, afinal, mora sozinho desde os 19 anos. Você pode estar achando uma baboseira tudo isso, afinal, tem 30 e ainda mora com os pais. Você pode estar achando tudo isso estranho, afinal, trabalha desde cedo e tem sua vida faz tempo. Acredito que cada um tem seu momento. Para crescer, para amadurecer. Não adianta forçar. É que nem terapia: só funciona se a pessoa quer. Não adianta ir na marra, a gente tem que querer muito.

Hoje eu olho para trás e vejo que perdi algumas coisas. Podia ter “crescido” mais cedo. Mas tudo bem, me perdoo. Era bom viver protegida. Era bom ter aquela sensação de abrigo, conforto, cuidado. Mas sabe o melhor de tudo? Também sinto isso agora, na minha casa, no meio de coisas que são minhas, do meu jeito, com a minha cara. Também sinto isso a cada vez que surge um pepino e não posso gritar mãe, vem me ajudar (apesar de já ter pedido ajuda muitas vezes, mesmo porque não tem nada melhor que colo de pai e mãe.). Eu sei, eu sei que eles vão estar sempre perto. Sei que, mesmo morando em outro estado, é só pegar o telefone e fazer um SOS. Mas decidi enfrentar as coisas e crescer. Mesmo que para isso eu precise voltar a ser criança e me esconder embaixo das cobertas com medo dos trovões lá fora.

 Vai Lá @clariscorrea
clarissacorrea.blogspot.com

 

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