Uma verdade inconveniente

por Redação
Tpm #63

Santa onipotência: nos vemos como mulheres orquestra capazes de tocar todos os instrumentos

Nós somos tão inteligentes que por vezes parecemos burras. Essa é a idéia que fica quando lemos um livro simplório mas divertido, dos roteiristas de Sex and the City: Ele Simplesmente Não Está a Fim de Você. O livro sublinha, repetida e insistentemente, nosso hábito de recobrir amores frustrados com milhares de explicações. 

Os relacionamentos que o livro fulmina são do tipo que não deslancham, nos quais nos sentimos des­valorizadas e desrespeitadas. Podem ter durado uma ou duas noites, mas nos custarão dias, horas, sema­nas pensando ou discutindo qual é a melhor estratégia para desentocar o sujeito. Vai ver que ele está com medo da mulher independente que sou, ou passando por um momento difícil de sua vida. Ou fui eu que não usei a estratégia certa! Arrolamos todas as hipóteses complexas e necessárias só para não pensar na possibilidade mais simples: a de que não somos o tipo dele, ou que o encontro pode não ter sido interessante o suficiente para persistir.

Mas não pensem que isso é burrice, mas sim uma bru­ta onipotência mesmo! Nos vemos como mulheres orquestra capazes de tocar todos os instrumentos, costumamos agir como se tudo dependesse unicamente das táticas e estratégias da sedução. Ignoramos facilmente que as relações são como uma sinfonia. Só tocamos uma parte e o diabo é quem rege. Na melhor das hipóteses temos metade do capital, o resto fica por conta do sócio... Porém, pós-feministas, passamos a crer que podemos sozinhas gerenciar isso também. Vã ilusão, o amor não obedece a critérios racionais e se escorrega ainda mais facilmente de quem tenta subjugá-lo.

Silêncios, traições, comodismos

Lembrem-se da regra básica número um: não há regras nos encontros e desencontros amorosos e generalizações não funcionam. Mesmo você sendo linda e perfeita, um homem chato e feio pode não se sen­tir atraído, quando deveria agradecer aos céus a oportunidade. Alguém pode passar uma vida do lado de outra pessoa porque ela tem um cabelo que lhe cai bem. Há os que só amam estrangeiros, ou os que cresceram juntos na mesma rua; há os independentes, enquanto outros dependerão um do outro até para trocar o papel higiênico. Relações podem ser feitas de silêncios, ou de intermináveis negociações ver­bais. Há amores que se temperam de traições, outros necessitam de exclusividade, assim como também podem sentir-se satisfeitos os que se beneficiam da inapetência sexual do parceiro. E os que realmente não querem um casamento convencional?

O tal do livro, então, é tolo porque nos retrata buscando homens que são um estereótipo de bom-mocismo e não aceitando nada diferente disso. Como se não soubéssemos ser também total ou parcialmente egoístas, inadequadas e até infiéis! O que nos res­ta é a regra básica número dois: se um relacionamento, ou um encontro, gasta mais saliva do que tempo de convivência, deve ser reconsiderado. Ponto.

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