Uma saga em busca de bonecas negras

por Nina Lemos
Tpm #141

Averiguamos que menos de 10% das bonecas vendidas no Brasil são negras

Averiguamos que menos de 10% das bonecas vendidas no Brasil são negras. Não estamos nem um pouco surpresas. Mas terá chegado o dia de lutar por cotas também no mundo dos brinquedos?

Já que o tema da Trip e da Tpm é racismo, resolvemos investigar o número de bonecas negras à venda no Brasil e caímos duras. Sabíamos que neste país de gente jovem reunida com toda a mistura do mundo as bonecas mais “bonitas” são loiras. Ok. Mas vamos aos números:

No e-commerce de uma grande loja de departamentos, de 137 modelos de Barbies em estoque, apenas uma é negra. Ainda assim, ela não é Barbie, mas Nickie, a amiga pobre da Barbie.

Em outra grande loja de brinquedos, de 108 bonecas bebês, apenas duas são negras, chamadas de “bebês morenos”. Sim, usar morena como eufemismo para negra é uma maneira de ter preconceito. Lá vai a menina negra brincar com sua boneca morena, para que ela também acredite que é morena e não negra, porque ser negra, bem, você sabe.

Na maior loja on-line de brinquedos, fomos ver as bonecas adultas. Sim, contamos mais de 500. Dessas 500, encontramos 12 negras. Algumas, claro, eram chamadas de morenas. Mas existe esperança: as Monster High arrasam, com quatro bonecas negras lindas e glamourosas que deixam qualquer Barbie mala no chinelo. As Bratz também são sensacionais.

A jornalista Claudia Lima conta que comprar bonecas para a sobrinha de 4 anos é um desafio. “Minha sobrinha Barbara é filha de negro com japonês. E boneca japonesa? Não existe!” A solução foi comprar uma Bratz. “A Babi ficou louca, amou.” Na sua infância, nos anos 1970, Claudia nunca brincou com uma boneca negra, “porque elas simplesmente não existiam”. Fazer o quê? Brincar com bonecas loiras, claro. Depois dessa, fica um pedido para os fabricantes de brinquedos: vamos lembrar que o Brasil tem milhares de crianças negras, por favor? Ou será que vamos ter que pleitear cotas?

fechar