Uma casa feita à mão

por Natacha Cortêz

Coleções, memórias de família e itens feitos sob medida na casa da estilista Patrícia Grejanin

Em uma vila de 7 casas, abrigada por uma ruela entre a rua Fernando de Albuquerque e o baixo Augusta, fica o lar (agri)doce lar da estilista paulistana Patrícia Grejanin. A casa número 6: um sobrado de meia dúzia de cômodos e portas mantidas sempre abertas, vigiado por dois gatos, Pipo e Duda, é a morada da proprietária das marcas Laundry e Mint há pouco mais de 8 anos. Decorada por ela mesma, a casa é como um ateliê onde Pat não tem vontade de sossegar. Entre paredes customizadas, móveis reformados e pratos pintados à mão, o lugar entrega criatividade e capricho em todo canto.
 

O papel de parede da sala é um tecido encontrado do bairro do Bom Retiro, que “foi aplicado com cola escolar”. Os azulejos da cozinha, estampados por naipes de baralho, na verdade são papel adesivo, recortados um a um. (...) O móvel que apoia a TV foi pintado e decorado por ela; os adesivos que enfeitam o escritório foram encomendados em um gráfica do bairro.


A escolha do imóvel foi amor à primeira visita. Na época, ela acabara de sair da casa da mãe na Zona Leste e procurava seu canto no centro da cidade quando um amigo lhe indicou o sobrado com jeito de chalé. Assim, escolheu o lugar, que com o tempo acabou se tornando uma extensão de sua personalidade. Cada detalhe por lá tem a cara dela. Cada ambiente trata de comunicar que você está bem longe da metrópole por qual andava até então. A poucos metros do portão, a boemia adolescente de São Paulo fervilha rock e modismos. Do portão pra dentro: plantas, calçada de tijolinho, barulho de passarinho e animais de estimação entregam o clima bucólico e interiorano da vila.

Pipo foi o primeiro a receber a nos receber. O gatinho branco,“encardido pelas andanças noturnas na vizinhança”, ronrona pela casa e se ajeita em uma das poltronas da sala. A impressão é que o felino é parte do cenário. Cabeças e chifres de bicho, buquês de flores, vasos de plantas, velas, fotografias antigas, pássaros empalhados, vidros de remédio do século passado e porcelanas das décadas de 1940 e 50 constoem o cenário. "Gosto dessa coisa decadente. De misturar o antigo e o mórbido com um objeto doce e mais infantil", conta a paulistana.

As porcelanas viraram vício e coleção. Há 3 anos, depois de um término de namoro, Pat se viu completamente encantada por elas. “Uma amiga até brinca que minha fuga da situação foram elas”. A primeira peça, comprada no eBay, foi um pote de cookies rosado, em formato de cabeça de boneca. Depois dela, não parou mais. Entre xícaras, leiteiras, bules e potes raros, a coleção só cresce e a estilista é frequentemente procurada pra exibi-la. A coisa toda acabou até virando projeto. E ela revela, “A Laundry Home não deve demorar pra acontecer”.

O gosto da estilista por decoração é nítido em cada detalhe do chalé. O papel de parede da sala é um tecido encontrado do bairro do Bom Retiro, que “foi aplicado com cola escolar”. Os azulejos da cozinha, estampados por naipes de baralho, na verdade são papel adesivo, recortados um a um. No quarto de dormir, mais papel de parede, dessa vez um xadrez vermelho, estilo piquenique – também aplicado por ela mesma. Em outra parede da sala: dezenas de quadros em tamanhos e molduras diferentes comprados sem planejamento. O móvel que apoia a TV foi pintado e decorado por ela; os adesivos que enfeitam o escritório foram encomendados em um gráfica do bairro. 

E Pat não sente falta de alguém que faça o trabalho por ela. Aliás, “não tem nada de trabalho aí. É muito mais um hobbie prazeroso que mantenho”. Nunca pensou em contratar um decorador, mas diz que poderia fácil trabalhar com decoração, se não fosse tão apaixonada por criar roupas. Por fim, esclarece que o amor por decorar não veio de família, criação ou imposição. Aconteceu de forma espontânea, junto com o interesse por moda. “No fim das contas, uma coisa complementa a outra. E claro, eu jamais viveria em um lugar que não me sentisse totalmente em casa”.

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