O dia a dia da fotógrafa americana Autumn Sonnichsen
Vida perfeita só existe no Facebook, mas a gente descobriu uma exceção: o dia a dia da fotógrafa americana Autumn Sonnichsen, que vive pelo mundo clicando mulheres, homens e coisas interessantes, é mesmo de dar inveja (e é de verdade). Aqui, ela mostra uma semana recente.
São Paulo. Sábado. 12:43 Faz dois meses, estava na minha bike a caminho da Trip para fazer uma reunião com a produção da revista, o KL Jay e a filha dele, Kamila. Daí, em grande estilo, fui atropelada por um ônibus. Dois dias depois, eu estava com o braço engessado com a Kamila na minha frente, mirabolante e nua no banheiro. Tudo isso para contar que agora sou obrigada a fazer fisioterapia. E essa moça de olhar doce é a doutora que está consertando meu braço. Ela tem dedos mágicos, conhece o corpo humano por dentro e por fora.
18:46. Esta é a Erica, videomaker e minha musa eterna. André também, o marido da musa, ao lado dela. Ele foi o meu primeiro amigo no Brasil, quando cheguei aqui, há mais de oito anos. É o meu parceiro de rolê nos bailes funk, nos terreiros de candomblé e nos morros do Rio de Janeiro. Nós três, junto com a Bianca, que estava fazendo mudança, formamos o grupo mais foda de todos: o Lucky Bastards Inc. Temos todos uma tatuagem da firma no corpo.
Voltei para São Paulo há dois dias, com a mala cheia de queijos fortes, linguiças de fígado, geleias de framboesa e chocolates apimentados. Tem mulheres que compram sapatos, eu compro apetrechos para piquenique. Outros detalhes da foto que me deixam absurdamente feliz: o design puro do copo americano, os talheres que minha mãe me deu, a manta que comprei no Cairo, o céu com nuvens que não chovem, a laje do meu predinho em São Paulo, o sorriso da Erica quando toma espumante, morangos marinados em Grand Marnier, e as luzes da minha cidade escolhida.
20:45. A gente chamou o Gonzo e a nova namorada dele, Marie, para comer na laje, mas, como sempre, eles estavam fazendo sacanagem e chegaram atrasados. Apesar do frio, a Marie chegou de vestidinho com a tatuagem nova à mostra, essa da moça amarrada, ainda no Magipak. Não tem coisa melhor do que uma moça feliz com a tinta nova no corpo.
Domingo. 14:25. Da janela do táxi, vejo as cores em São Paulo que mais amo. O taxista para no farol, eu tiro uma foto e seguimos.
21:47. Luiza e Talitinha. Fui madrinha de casamento dessas duas, uma honra da qual eu me orgulho muito. Talita é a magnata de bicicletas da zona leste paulistana e Luiza é a dona dos peitos mais bonitos da cidade. Foram me fazer uma visita lá em casa, se deitaram na minha cama e acabaram com os queijos da minha geladeira.
Segunda-feira. 16:15. Senhor Hirama. Um homem doente pelo São Paulo Futebol Clube, diretor de arte das coisas mais finas, e dono do coração de uma moça linda que já se fantasiou de faxineira francesa no ensaio da Nathalia Rodrigues que o Bob Wolfenson fotografou tão lindamente para a Playboy. Apesar de eu gostar muito da companhia dele, ele sempre me leva pra tomar café nuns lugares muito coxinhas.
Terça-feira de fantasia. Na real, passei o dia no avião. A Mari, esta linda, era pra chegar na minha casa antes de eu ir embora pra tomar um chá comigo, me contar as novidades e fazer ioga. Mas, para a minha infelicidade, ela ficou doente após dar um workshop de pole dance o fim de semana inteiro, e ficou de cama mandando selfies para mim. Ela não vai gostar se eu exibir as fotos que ela mandou, então mostro o último retrato dela que eu fiz no mês passado, assim vocês entendem o quanto ela é foda, e o quanto eu me empolgo com a presença dela na minha vida.
Casablanca. Quarta-feira. 21:35. Meu amigo Munir, um cineasta que, por sorte, estava na cidade para filmar um comercial, me leva para jantar e diz que estou proibida de fotografar naquele restaurante, frequentado por homens de negócios e suas amantes. É um dos lugares que mais me espantaram na vida. As mulheres novinhas com maquiagem pesada nos olhos de amêndoas, salto alto e dançando música pop do Egito. Os homens barrigudos, fumando um cigarro atrás do outro e falando alto. Tiro uma foto do Munir, que está no seu 18º telefonema da noite. As pessoas falam mal de Casablanca, mas também falam mal de São Paulo, e eu amo São Paulo mais do que tudo, então me sinto bem na cidade. Tudo parece cenário de filme, com um ar decadente, meio art déco.
Quinta-feira 8:00. Acordo cedo, quero dar um rolê. Acho uma feira de comidas perto do apartamento. Tem cheiro de algo podre misturado com hortelã. Há montanhas de folhas de hortelã frescas no chão, espalhadas nas mesas, enchendo as cestas. Compro 1 quilo de cerejas, uns pães que parecem feitos de fubá, e um doce que não sei o nome. Tomo um chá em pé, servido por uma moça com sorriso tímido.
13:00. Encontro a Cris por acaso no aeroporto de novo. Nossos voos saíam quase no mesmo horário, o meu para Paris e o dela para Madri. Antes de embarcar, ela toma uma taça de vinho rosé marroquino comigo e faz uma pose para eu fotografá-la.
Paris. Quinta-feira. 19:25. Aquelas coisas que deixam o mundo todo num high eterno na capital francesa: os tetos de Paris, o piquenique às margens do rio Sena, os escargots com champanhe, o táxi com teto solar num dia de céu azul, o suco de grapefruit no Café de Flore e as promessas de amor em forma de cadeados que enfeitam a Pont de l’Archevêché.
Sexta-feira. 15:30. Tenho como filosofia que tudo na vida dá pra fazer melhor se for com a desculpa de tirar fotos. Tenho também outra filosofia, de que tudo é melhor se for feito de barco. Então surge o ensaio com a Kim, uma modelo inglesa-brasileira que gosto muito, com o barco de madeira veneziana, a garrafa de Chandon, as mexericas minúsculas e o dia ensolarado.
Berlim. Sábado. 8:35. Volto para Berlim, a minha segunda casa. A novidade que me deixa mais feliz nos últimos tempos: meu irmão está morando comigo! Ver ele dormindo no sofá com o Iggy, o cachorro de uma amiga que está viajando de férias, me dá uma empolgação absurda. Minha família está comigo no mundo!