Porque tem mais gente reclamando de Buenos Aires do que vindo aqui pra curtir!
Tá difícil dizer que existe amor em Buenos Aires porque a última semana parecia uma gincana. Na terça fazia um calorão e, por causa da greve dos garis, a cidade estava transbordando de lixo. Na quarta rolou um apagão que deixou vários bairros sem luz (o meu incluído) e gerou um caos no trânsito porque sem luz metrô e trem não funcionam – ah, também não dá pra fazer freela.
Na quinta a energia voltou em alguns lugares, o lixo continuava se acumulando e rolou o maior panelaço do ano com o qual eu não tô muito de acordo, não. Na sexta, bem, caiu uma tempestade que alagou metade da cidade e fez com que eu (e mais uma galera) chegasse como um pinto molhado no trabalho. O lixo? Ficou flutuando pela rua, é claro.
Mas se outros tantos estrangeiros e eu escolhemos morar aqui é porque a cidade tem coisas geniais, né? E ultimamente os turistas só reclamam dos preços altos, da sujeira nas ruas, da água que é salgada, da Coca-Cola que é caríssima e da jaqueta de couro que não dá mais pra comprar.
Okey, tudo isso é verdade.
A inflação tá foda e a cidade não é mais a pechincha de outrora. O que eu não entendo é porque os turistas pagam o mesmo valor em reais em um chaveirinho da Torre Eiffel e, aqui, não compram o do Obelisco porque acham caro. Verdade seja dita, todo mundo adora fazer umas comprinhas quando viaja. Mas o objetivo de qualquer viagem não é conhecer, passear, observar, trocar...?
É por essas e outras que eu, literalmente, quase chorei de emoção com o e-mail de duas amigas que vieram passar uns dias aqui em outubro. Infelizmente só consegui sair com elas uma noite mas elas tavam TÃO num pique de conhecer e de se jogar que anotaram as dicas, entraram em contato com amigos meus e voltaram pra São Paulo felizonas com o que viram – e não reclamaram dos preços nem perguntaram onde era o bairro dos outlets.
Olha só:
Aníssima!
Escrevo para agradecer a preciosa recepção que deu a mim e a Laís em Buenos Aires. A noite na Catedral do Tango foi especial e nos transportou, imediatamente, para a atmosfera portenha, suas cores e personalidades fortes, ritmos passionais e adornos "vintage". Foi sob a magia daquele lugar que, além do másculo-doce-pueril Juan, conhecemos o “rock” Gustavo e a belíssima Negra. Na noite seguinte, eles nos proporcionaram uma experiência inesquecível no Konex (me senti numa fábrica abandonada da Rússia) e um dos shows mais envolventes de nossas vidas: La Delio Valdez.
Partiu de você também a animada indicação de conhecermos um dos eventos do Festival Escena, na Casona Iluminada, para a Arenga Futuro. Lá presenciamos outro show do bom com a louquíssima Guadalupe Soria, cenas “estranhas com gentes esquisitas” e muchachos argentinos que, como nós, estão lançados ao desafio do teatro em grupo. Embaixo da Casona, ouvimos um tango tradicional a la “Cauby” (haha!) e tomamos cerveja com a figuraça Juana Repetto, que ao longo da noite descobriríamos que era a filha de uma vedete e de um apresentador famosos em BsAs. Haha!
No mais, amamos a cidade, seus prédios antigos com arquitetura em estilo francês; os grandes bosques, parques e jardins para convivência pública; o charme dos cafés e dos bistrôs; a agitação das feiras de rua; o estilo retrô que está em toda parte; o bom gosto dos argentinos e sua boa vontade para nos explicar como chegar aqui ou alí; as sorveterias; livrarias; a cumbia... enfim. Foi muito, muito bom.
Agradecemos muito seu carinho !!
E ah: nos passe o contato da Negra para que possamos também celebrar com ela esses últimos dias.
Bjs com saudade e vontade de estar aí para curtir Morbo y Mambo!
Mirian
Não é a coisa mais linda esse e-mail? Isso, sim, é turista que dá gosto :)
*Ilustrei o post com fotos capturadas pelo olhar da Mirian e da Laís.