A nova tendência de moda (e comportamento) é o ”sem gênero”, que já chega a gigantes como a C&A do Brasil. Vai ter homem de vestido, sim, senhor!
Desde o verão passado sou stalker de um vizinho. Minha paixão platônica usa barba e saia em combinações incríveis, tipo saia verde combinando com meia de outro tom, legging e moleton. O P.S. [Pai de Saia] é o homem mais bem vestido do bairro onde moro em Berlim. Um bairro que é quase uma Disney moderna: tem punk, tem grafite, tem gente com roupa “esquisita” e você pode sair de pijama na rua que ninguém liga.
Eu amo o Pai de Saia, que eu nem tenho certeza se é pai (o vi uma vez com três crianças e inventei que era, porque assim ele seria ainda mais sensacional). Imagina que legal um mundo com um monte de pai de saia sem vergonha de ser quem é?
Aqui, em Berlim, tem. E deve ser por isso que alguns amigos homens do Brasil já me falaram: "quero ir para aí porque tenho vontade de me vestir de mulher." Bem, estamos em um tempo em que até com camisa vermelha você pode apanhar na rua no Brasil. Mas, vai passar…
Homem de saia, lápis no olho, batom e unha pintada; acho sexy, acho lindo. Acho um tesão.
A moda do não-gênero (ou gender free) é uma das tendências do mundo da moda no momento. Mas, como quase todas as tendências, essa também é meio requentada. Isso porque ela sempre esteve lá.
Vamos lembrar da Chanel, mas também do David Bowie… e depois do Kurt Cobain! Sim, ele usava vestido. Sim, o grunge já brincava com tudo isso. E, não por acaso, o grunge é a "volta do momento" no mundo da moda.
John Galliano colocou imagens de trans lindas em seu desfile de 2015. A Gucci, desde o ano passado, lança coleções que brincam com o gênero e são lindas de morrer. E, agora, a coisa chegou no fast fashion, aquelas lojas onde gente normal, como eu e você, compram suas roupas.
A cadeia americana Target anunciou há alguns meses atrás que tiraria as etiquetas de meninos e meninas de suas lojas e acabaria com as seções feminino e masculino. Ótimo.
No Brasil, a C&A também está lançando uma coleção sem gênero, a “Tudo lindo e misturado”, com peças que servem para meninas e meninos. A coleção, pelo o que vi, é tímida e não tem nada de tão transgressora.
Mas, na campanha publicitária da marca, um menino experimenta um vestido. Sensacional. Se um menino que tem vontade de usar vestido e se sente um lixo por isso se sentir menos sozinho depois de ver a propaganda, pra mim já está ótimo.
A Zara foi na mesma e também tem sua coleção sem gênero. As roupas são sem graça, não tem um salto, uma saia. Mas já é um avanço. Estamos falando da maior marca do mundo. E, para quem reclama, é assim mesmo. Marca querer ser apropriar de rótulo moderninho existe desde que a moda é moda. Faz parte.
Mas, no meu mundo dos sonhos, quero mesmo é ver coleções que também vendam sapatos de salto para os homens, uma cueca fofa que eu possa comprar ou um terno (tem coisa mais chique?).
Tudo isso parece uma utopia distante em tempos que até ao vestir uma camisa vermelha você está em risco de apanhar na rua. Mas, repito, vai passar. E vamos sonhar com um futuro cheio de meninos de cabelos longos com mini coques e meninas que não raspam de baixo do braço (só porque não querem). Vai ser lindo.
Ps. e pelo fim da piadinha masculina ao ver uma peça mais colorida: "tem para homem?" Não, tem para ser humano!
Créditos
Foto destaque: Os meninos femininos da Gucci / Reprodução