Dormir no avião e amanhecer em Paris ou ter um colo para cochilar e acordar no seu quarto?
É melhor dormir abraçada por um cinto de segurança e acordar em Paris ou ter um colo para cochilar
e amanhecer no quarto de sempre?
Nesta temporada de filmes de Oscar, um surpreendeu: Up in the air (do mesmo diretor de Juno), com George Clooney. A tradução literal do título, “no ar”, carrega também o significado metafórico: “indefinido”. Pois assim é a vida de seu personagem, Ryan. Indefinida. Trata-se de um cinquentão eternamente em trânsito: sua vida é gasta em aviões, lounges de aeroportos e hotéis. Sua casa, na qual ele passa horas por ano, é mais despida que qualquer quarto de albergue. E seu trabalho não é mole: ele é contratado por empresas cujos chefes não têm coragem de demitir seus próprios funcionários – cabe a ele, então, dar a péssima notícia, cara a cara, Estados Unidos afora. Ao arrasar com a vida alheia, levanta, ruma para o aeroporto e recomeça a saga.
Sem chão
Ryan faz parte de uma leva de gente que tem milha pra dar, vender e queimar. Co-nheço alguns tipos como ele, que não se empolgam mais com destino algum. O di-ferente, para esse povo, é ficar em ca-sa. -Ryan é cliente preferencial de todas as áre-as VIPs disponíveis, conhece o país como nin-guém e melhor de tudo: é um expert em fila de segurança de aeroportos (a melhor cena do filme). Mas, como tudo tem preço, o que falta é a estabilidade emocional. Falta chão. Falta uma família para matar a solidão de check-ins e check-outs.
A grama do vizinho é sempre mais verde. Alguns, que nunca tiveram a chance de voar (ou que sofrem de falta de curiosidade crônica), talvez desfrutem de belos almoços dominicais com a família ou de um belo abraço na hora de dormir. Enquanto isso, outros dormem amarrados por um cinto de segurança, mas acordam em Paris. Como disse certa vez o fotógrafo Vik Muniz: “Não existe Shangrilá”. Mas temos que procurar equilíbrio em tudo. Seja no ar ou no chão. Não perca esse filmaço.