por Flávia Durante

Grupo de artistas lança ação na internet contra o machismo e a hipocrisia

Cansada do machismo (dos homens e das próprias mulheres), a cantora, compositora e percussionista Karina Buhr lança neste Dia Internacional da Mulher, 8 de março, a ação Sexo Ágil. Ao lado da baterista e cantora Naná Rizzini, da atriz Mariah Teixeira, da vocalista Marina Gasolina e do músico Adriano Cintra, Karina grita contra a hipocrisia de quem discute a burca alheia mas que ainda critica e esconde o próprio corpo e o corpo alheio.

Batemos um papo rápido com Karina pra saber que história é essa:

Revista Tpm - Como surgiu a ideia dessa ação?
Karina Buhr:
Veio do cansaço com a hipocrisia do machismo nosso de cada dia. Sim, inclusive com o machismo que tá dentro das mulheres. O que eu mesma, sem tê-lo de forma consciente, detestando ele e brigando com todas as minhas forças contra ele desde sempre, quantas vezes me boicotei e me boicoto, por vício social, pelo que o corpo e a cabeça aprendem, sem querer, como o certo.

Sempre foi muito difícil, por exemplo, tocar percussão nos lugares que queria, lá no começo dos anos 90, quando comecei a tocar, porque mulher simplesmente não podia tocar. Meu sonho de tocar ilú (um tambor) na macumba, por exemplo, nunca aconteceu. Tentei de todas as formas, toquei 5 anos num afoxé e minha hora sempre seria depois. E via um monte de menininho de 5 anos de idade sendo obrigado a tocar, mesmo sem vontade. Consegui realizar um monte de coisa, mas a força que vinha de fora pra mim, era sempre contrária, era sempre pra me fazer parar. Citei só um setor, pra não cansar de tanta falação [risos].

 

"O Brasil é um país muito machista (os homens e as mulheres), que tem um discurso lindo a respeito da burca alheia, mas não olha pro próprio pé"

 

Qual foi a gota d'água pra vocês criarem este movimento?
Eu sempre quis fazer alguma coisa desse tipo num 8 de março e acabava passando batido. Dessa vez perdi a paciência geral [risos]. Daí convidei pessoas queridas e que achei que iam topar, expliquei o que pensava, todo mundo comprou a idéia e a gente fez. 

Por que um homem do meio dessa história toda? 
Porque achei importantíssimo ter um homem! Adriano é um cara massa, que admiro, que estava por perto e topou geral. E viajei na história das meninas taparem os peitos nas fotos e ele ficar com vergonha e se esconder, trocar um pouquinho essas obrigações impostas, pra brincar, pra tentar abrir o olho, de uma pessoa que seja. Assim como o racismo não é uma causa só dos negros, por exemplo, o machismo não é causa só das mulheres. Essa é uma das coisas que mais me afligem nessa vida! Patti Smith, PJ Harvey, Nina Hagen, são idolos extremos e não "ídolos mulheres". Assim como Zumbi é um herói brasileiro, de todos os brasileiros. Sem essa de "herói negro". Herói e ponto! Tanto de Isaar de França, quanto meu! Ainda bem [risos]!!

 

"Assim como o racismo não é uma causa só dos negros, o machismo não é causa só das mulheres"

 

 

O que vocês pretendem com isso?
Viver mais relax, "numa tranquila, numa boa...♪". Lembrar, relembrar e frisar sempre que isso de igualdade entre homens e mulheres ainda tá bem longe de acontecer. Que o Brasil é um país muito machista (os homens e as mulheres), que tem um discurso lindo a respeito da burca alheia, mas não olha pro próprio pé. E mostrar que mulher não precisa ter vergonha do corpo, de se esconder o tempo todo pra evitar piadas escrotas e violência. E, afinal, se um amigo seu pode tirar a blusa, você não poderia por que?

Leia abaixo o manifesto do grupo:

 

Manifesto Sexo Ágil

#foradapauta 

O movimento que o corpo faz, de vergonha, pra cobrir o peito, não é feito só pela coluna que se curva e pela mão que esconde.

Ele fica entranhado, movendo na alma e a vergonha acompanha por toda vida o pensamento. A vergonha do corpo vai qualhando a consistência das vontades das meninas, a cada passo, a cada desafio. Mesmo coiceada, ela está ali firme, adormecida às vezes, mas está ali, jogando contra, freando, estancando as vontades.

Falta muito, mas muito mesmo, na vida real, pro que se chama de igualdade entre homens e mulheres, nesse mundo em que o Brasil está dentro, nesse Brasil que a gente está dentro, nesse a gente com um inimigo dentro.
A mudança é exercício diário, que exige leveza, pra driblar a amargura, pra que ela fique longe, bem longe e esvaziada.
Religiões se engalfinham pelos corpos das mulheres. E mentes. 
E mentem.

Dói não saber tanto do próprio corpo. Ele é reinvenção de todas. 
E tem o medo imposto. De engravidar, doer, sangrar, engordar, emagrecer, virar puta, galinha, rapariga, medo de envelhecer.  
As instruções são obscuras. O caminho podia ser mais tranquilo, os pés não precisariam se encher de bolhas na procura.

A peleja é contínua. Que nem aquela pílula que não explicam pra gente, não deixam a gente escolher.
Aquela que tem médicos que são contra, alegando perigo.
Aquela mesma que vende na farmácia. Tem perigo? Não tem perigo?
Confundi.

E aborto não está na pauta do executivo. 
Estaria na da executiva?

As mulheres brasileiras estão fora da pauta, 
de novo e sempre!!
Por culpa dos brasileiros homens e mulheres.
Por comodismo, por medo.

Pois que as mulheres brasileiras sejam menos machistas com urgência! Ou machistas coisíssima nenhuma!

E esse texto tá virando uma ópera, 
um bairro...
Fudeu!

 

Vai lá: www.sexoagil.com

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