Autobiografia póstuma de Norma Bengell detalha a vida de uma das artistas mais ousadas do país
Norma Bengell aguardava o elevador no hotel em que estava hospedada em Roma. Quando a porta abriu, havia uma bunda enorme, de costas, com seu dono agachado amarrando os sapatos. Não teve dúvida, deu um tapinha na bunda e disse, em bom português: “Que bundão!”. O dono da dita cuja era ninguém menos que o cineasta Orson Welles. A história é uma das “estripulias de Norminha”, como diria seu pai, que fazem parte da autobiografia lançada em janeiro.
Norma teve uma infância dura, trabalhou desde cedo e isso trouxe certa tristeza para seu olhar e, como ela mesma dizia, uma ruga na testa. No livro cheio de fotos, conhecemos os dias mais gloriosos dessa artista que cantava, atuava, compunha e dirigia, e também os dias mais difíceis. Sabemos dos abusos que sofreu – estupro, assédio e violência dos mais variados tipos.
"Norma era cheia de contrastes", diz Christina Caneca, sua amiga e organizadora do livro. A artista se descobriu apaixonada por uma mulher, depois de uma vida cheia de homens, e se percebeu uma pessoa politizada quando foi perseguida pela ditadura. Ficou anos em exílio e foi presa. As histórias foram tiradas de textos escritos por Norma ao longo da vida. Ela participou da organização do livro, mas faleceu de câncer antes de ficar pronto. “A obra retrata uma Norma que ninguém conheceu”, garante Christina.
Vai lá: Norma Bengell, ed. nVersos, R$59,90