Com quadrinhos e ilustrações, publicação é usado como ferramenta de resistência, em favor dos diretos das mulheres e das minorias
Donald Trump já é presidente dos Estados Unidos. Diante do conturbado cenário político do país, duas americanas criaram um jornal para publicar ilustrações e quadrinhos feitos por mulheres, em protesto contra o governo.
Françoise Mouly, editora de arte da revista norte-americana The New Yorker, e a quadrinista Nadja Spiegelman (filha de Mouly com o quadrinista Art Spiegelman, famoso pela graphic novel Maus – a história de um sobrevivente), criaram o Resist!, uma publicação em formato de tabloide, com 40 páginas e 143 trabalhos, que será distribuída gratuitamente durante a Women’s March on Washington. A manifestação, também organizada por mulheres, será realizada no dia 21 de janeiro, durante os eventos que estão acompanhando a posse de Trump.
Mouly, junto com Art Spiegelman, foi editora da RAW, uma revista prestigiada internacionalmente, publicada entre 1980 e 1991, que contava com colaborações de importantes quadrinistas, como Linda Barry, Robert Crumb e José Munõz.
Gabe Fowler, editor e dono de uma loja de quadrinhos no Brooklyn (Nova Iorque), sendo fã do trabalho de Mouly, sugeriu que ela organizasse uma antologia de trabalhos feitos por mulheres, que abordasse o resultado das eleições nos Estados Unidos. A ideia era que a antologia fosse vendida na loja de Fowler como uma edição especial do Smoke Signal, um jornal de quadrinhos independentes que ele edita e lança a cada trimestre.
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Com a ajuda de doações e da pré-venda, o projeto se expandiu. Os 20 mil exemplares que seriam impressos no projeto inicial passaram a 60 mil e vão ser distribuídos pelo território norte-americano no dia 21 de janeiro, com o auxílio de voluntários. Nadja contou à Tpm que a Resist! será distribuída em cidades como São Francisco, Los Angeles, Texas, Chicago, Des Moines, Portland, Seattle, Boston e Pennsylvania.
Depois disso, os exemplares continuarão disponíveis para venda na internet, mas apenas nos Estados Unidos. “Infelizmente, uma remessa internacional seria absurdamente cara. Estamos vendo a possibilidade de enviar o jornal em PDF para apoiadores de outros países, para que eles possam imprimir suas cópias”, explica Nadja.
Vozes unidas
Em novembro de 2016, Mouly e Nadja lançaram um site para aceitar submissões de trabalhos feitos por mulheres que, depois, seriam selecionados para fazer parte do jornal. Em poucos dias receberam mais de mil imagens vindas de diversas partes do mundo, que mostram situações de retrocesso na luta em favor da igualdade de gênero e pelos direitos das minorias. A seleção conta com trabalhos de artistas dos Estados Unidos, Austrália, Itália, França, Alemanha e Argentina. A publicação é descrita no site oficial como a “destilação da poderosa voz coletiva feminina e uma afirmação de tudo o que representamos: união, diversidade e criatividade”.
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Nadja conta que a publicação tem como objetivo ser inclusiva e mostrar as vozes das mulheres em suas diferentes tonalidades. As vozes masculinas também estão presentes na última seção do jornal, chamada “The Man Cave”, que ocupa oito páginas. Mas a prioridade era oferecer uma plataforma para que as mulheres pudessem falar, sem medo de serem censuradas ou julgadas pelo que dizem.
A artista norte-americana Gayle Kabaker, uma das participantes, conta à Tpm que ficou devastada após o resultado das eleições e decidiu criar uma arte imaginando como seria a marcha em Washington, inspirada por uma canção chamada Funeral, escrita pela filha, Sonya Kitchell. A imagem foi selecionada como a arte de capa do jornal Resist!. No próximo dia 21, ela estará na marcha em Boston, capital de Massachusetts, e não faz ideia do que esperar, mas lança a previsão: “vai ser algo muito poderoso”.
A marcha ocorrerá simultaneamente em diversas cidades dos EUA e em outros 56 países que aderiram à ideia, graças à formação de comissões organizadas pelas redes sociais. A Women’s March Global é um desdobramento da marcha de Washington e ocorrerá, inclusive, no Brasil, no Rio de Janeiro.
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A manifestação defende a diversidade e a inclusão, convidando “todos aqueles que entendem os direitos das mulheres como direitos humanos a se juntarem às coalizões locais de manifestantes, representando os direitos e as vozes das pessoas progressistas ao redor do mundo”, de acordo com a descrição do site da organização.
O nome da marcha foi inspirado no protesto March on Washignton, de 1963, em que Martin Luther King pronunciou o famoso discurso com a frase “I have a dream”, em favor dos direitos civis e da população negra.
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