Precisamos falar sobre xenofobia

por Nina Lemos

“Você já foi alvo de xenofobia fora do Brasil?” Fiz essa pergunta no Facebook e recebi as piores histórias. Conclusão, se você é estrangeira e acha que estão sendo preconceituosos com você, é porque estão. E você não é louca! Nem paranóica!

“Quem aí mora na Europa e já foi alvo de xenofobia? É para um texto, valendo!” Fiz essa pergunta no Facebook outro dia. E não tinha nada a ver com a chegada em massa dos refugiados Sírios e a recepção surpreendente (para o bem) aqui na Alemanha e horrorosa em outros países (vergonha, Hungria). Eu queria contar "causos" do dia-a-dia que a gente (nunca conheci quem nunca) passa na Europa.

Entendi que fiz essa pergunta para confirmar que eu não sou louca! E provar que “não é coisa da minha cabeça. Porque, claro, quando a gente é alvo de preconceito, a primeira coisa que a gente pensa é que a gente está maluca, doida, paranóica, com mania de perseguição. Não é assim que funciona com todos os preconceitos? Por que seria diferente?

O que acontece comigo, descobri, é coisa pouca, se comparado com todas as histórias absurdas que apareceram quando fiz a pergunta. Descobri que por enquanto até tenho sorte. Não que não doa. Dói tanto que eu fico doente. Literalmente. O que mais me magoa é uma postura: "você é inferior, não vamos falar com você." E sim, se você é brasileiro e mora na Europa provavelmente você é alvo de xenofobia. Jura que nunca aconteceu com você? Pois eu duvido. Abaixo, alguns dos depoimentos que recebi.

Algumas histórias de arrepiar:

Vai fazer faxina! 

“Fui em uma entrevista de emprego para uma vaga de assistente de comunicação em um consultório, o médico me perguntou se eu não me achava ousada por estar procurando emprego em uma vaga boa enquanto outros brasileiros estavam trabalhando como faxineiros”

Nathalia Urban mora na Irlanda

Limpa minha bota!

“Pedi demissão do pub que estava trabalhando aqui em Dublin porque não aguentava mais. Já na segunda semana a head chef do pub dizendo que meu inglês era um lixo. depois, o subgerente insinuando que eu limpasse o sapato dele enquanto eu tava passando pano na cozinha."

Junior Milério, também mora na Irlanda

Chama a polícia, tem uma brasileira aqui!

Eu tenho uma lista enorme de episodios. Transexual e brasileira… estrangeira. No apartamento onde moro ha 10 anos, assim que mudei, dois dias depois,  a policia bateu na porta.Foram chamados pela vizinha pra fazer controle! Mostrei contrato, residência e passaporte Italiano . Claro, tiveram que ir embora."

Beatrice Trevisani

Brasileira é tudo puta

“Em Barcelona, ao final de uma reunião de trabalho, estávamos na sala e todos eram de diferentes lugares da Europa. Ninguém imaginava que eu era brasileira , primeiro pelo meu look e segundo porque estudei a vida inteira em colégio espanhol. Só o diretor sabia de onde eu era na sala. Quando uma belga começou a falar sobre as brasileiras: "Sao todas putas, trocam qualquer coisa por sexo, e usam a sexualidade delas pra conseguirem o que querem". Eu comecei a contra argumentar, perguntando quantas brasileiras ela conhecia e se já tinha estado no Brasil. Ela disse que nao, mas que amigos homens dela corroboram, e que ela sabia, de fato, que qualquer brasileira lá após um convite toparia de prostituir A Quando vi que ela estava absolutamente fechada para qualquer argumento decente, ao final eu disse: eu sou brasileira, você acha que sou uma puta?”

Fernanda Buschmann

Brasiliero não sabe entregar jornal 

“Claro que todo mundo já passou por isso! Eu tive várias situações na Holanda durante os 14 anos que vivi lá. Logo no início quando cheguei, não arrumava emprego de jeito nenhum. Eu aprendi holandês muito rápido e falo/escrevo/leio muito bem. Num momento de desespero, me inscrevi pra vender um jornal na porta da estação central e, obviamente, não fui aceita. Perguntei porque eu não estava apta a vender jornal e o cara me disse que eu falava holandês com sotaque e mesmo um holandês que tivesse um - lá cada vilarejo tem um sotaque diferente e o pessoal da província de Friesland fala tb outra língua, o frísio - tb não poderia vender o jornal! Entrei com uma queixa no Burô antidiscriminação e eles foram notificados por xenofobia. E eu não consegui o emprego."

Gisele Macedo, morou 15 anos na Holanda.

 Volta para o seu país!

"Uma vez em Paris eu estava fumando e um senhor veio super grosseiramente e pediu para eu apagar o cigarro daí eu disse que se ele tivesse pedido com educação eu faria mas como não tinha sido o caso eu iria continuar fumando, Ele pegou no meu braço e disse para eu voltar para meu país, segurei no dele e falei que ele tinha um grande problema pois eu tinha imunidade diplomática e que eu estava ali porque o país dele me chamara, o que era mentira eu apenas queria assustar o velho nazista, nesse tempo passou um negão gigante que perguntou o que que estava pegando e eu pedi para ele chamar a policia pois era flagrante de racismo. O camarada saiu correndo para chamar a policia e o velho foi ficando vermelho e eu deixei-o ir embora, fiquei com medo de matá-lo. O policial e o negão ficaram furiosos comigo de ter deixado o velho xenofobique partir.  Chorei muito, doeu muito."

Dani Novello

Fora da "comunidade"

"Na Ilália, incrível mesmo era quando me chamavam de estudante "extracomunitaria" no centro sperimentale di cinematografia. Demorou para eu entender que eles queriam dizer que eu não faz."

Beatriz Seigner 

Muitos dos depoimentos ficaram de fora porque senão esse post não ia acabar nunca. O que eu queria falar para vocês depois de todas essas histórias e acho que vocês entendem. E vou repetir mil veze: não é da nossa cabeça. E é crime. E falar ajuda! Fala que eu te escuto! Precisamos falar. E falaremos mais

PS. E eu juro que semana que vem eu escrevo sobre algo fofo e engraçado. Até eu cansei de tanta seriedade. :-0

 

 

 

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