Vem aí, o Viagra feminino!
Outro dia eu me perguntava aqui por que tanto medo das mulheres. Sim, fomos nós que oferecemos o fruto proibido a Adão, o que teoricamente nos levou à expulsão do Jardim do Éden, às dores no parto, e à criação da primeira coleção de moda, algumas folhinhas de parreira para esconder nossas vergonhas. É verdade também que fomos tentadas por uma cobra, o que daria a Freud panos para muitas mangas!
Desde então já passamos por muitos altos e baixos nas diferentes sociedades da história, mas nos últimos anos conquistamos sim alguns poderes graças à ciência: a pílula anticoncepcional nos deu mais controle sobre nosso corpo e liberdade para aproveitar os prazeres da carne; a fertilização in vitro nos ajudou a ter filhos quando não podíamos; e agora, a possibilidade de congelar óvulos implode de vez o infernal relógio biológico que começa a ticar mais alto na nossa cabeça a partir dos 20 e tantos anos: tic-tac, ai meu Deus, to ficando velha... tic-tac, minhas amigas todas já têm filhos... tic-tac, mas se eu for fazer um curso fora agora, vou acabar sozinha... tic-tac, se eu aceitar essa promoção não vou ter tempo para os filhos... tic-tac, preciso achar logo um pai para meus filhos... tic-tac, esse aqui não é lá essas coisas, mas o tempo está passando... tic-tac, ah, sabe duma, vou com esse mesmo... . Chega! Congelamos nossos óvulos jovenzinhos e tocamos a vida, sem a espada biológica na cabeça. [atenção, o procedimento não é simples assim. Mas é uma opção]
E seguimos em frente, exaustas, mas sempre em frente – profissionais, lindonas, donas de casa, mães, esportistas! Só falta um detalhe: libido para gozar... Sim, porque ao chegar no quarto, depois de ter matado 20 leões durante o dia que só termina quando as crianças finalmente foram dormir depois de terminarem os deveres de casa, o que deveria ser um momento de relaxamento e prazer pode se tornar mais um fardo – ter que ter desejo. Estima-se que pelo menos 10% das mulheres sofra de “desejo sexual hipoativo”...
Já que não conseguimos mudar o funcionamento da sociedade, e nossa vida feminina vai ser assim, o negócio é recorrer à ciência: ontem foi anunciada a pílula da libido para mulheres! O que pode ser o Viagra cor-de-rosa, ou o maior avança para a saúde sexual feminina desde a pílula, chegará aos mercados com muitas expectativas... e críticas. Segundo alguns, os efeitos são muito discretos e os efeitos colaterais importantes (pressão baixa, desmaios, enjoo, tonteira...). O remédio não pode ser usado por quem bebe álcool, pois aumenta o risco de pressão baixa e desmaio. Além disso, ao contrário da pílula azul que é usada só quando o homem quer performar, a rosa deve ser tomada toda noite antes de dormir. E se nada mudar depois de 8 semanas, a mulher deve desistir do tratamento.
Enfim, minha gente, pelo visto nada de orgasmos múltiplos por enquanto, mas quem viver verá. O grande marco, a grande maravilha, é a sociedade e a medicina reconhecerem que a vida sexual da mulher vai muito além das funções reprodutivas, e colocarem o assunto libido e prazer na pauta. O desejo feminino é misterioso, e toda ajuda é muito bem vinda!
Fonte: Ny Times
*Lygia da Veiga Pereira é uma carioca que trocou Ipanema pela Universidade de São Paulo. Professora Titular de Genética Humana e chefe do Laboratório Nacional de Células Tronco Embrionárias da USP, ela escreve para a Tpm às quintas e também no http://leiaasmeninas.com.br/.