Tpm

por Ana Manfrinatto

A carta que eu não queria ter escrito e que o meu amigo nunca vai ler

Me desculpem os que acreditam, mas festa no céu é o c******. Festa foi quando você apareceu em Buenos Aires e entrou em nossas vidas. Festa era quando a gente passava horas ouvindo música e tomando sorvete de doce de leite do Freddo porque o pote de dois litros tava na promoção.

Uma puta festa foi quando você e a Ciana tocaram no meu aniversário. Outra festa muito boa foi em agosto do ano passado quando você tocou nas Noites Trabalho Sujo, no Alberta #3, e fomos as últimas pessoas a deixar a casa.

Eu briguei muito porque você não queria comer uma coxinha comigo no Estadão. E não, eu não tinha como saber que aquele abraço na Avenida São Luís seria o último.

- A gente teve a sorte de conhecer o Fred, Ana.

Foi isso o que o Boris disse, com cara de não caiu a ficha, quando eu dei a nefasta notícia.

Ainda vou fazer a receita de sardela que você me deu, assim eu conto pra todo mundo que você copiou do caderninho da nona e que o Fred era uma pessoa incrível. Era, pretérito imperfeito do verbo ser, como dói.

E sempre que tocar Jennifer del Estero que você tanto gostava, meu fernet brindará por você. Se não tocar, não tem problema: nunca nos esqueceremos da sua buena onda e do seu sorriso, afinal de contas, somos pessoa de sorte por tê-lo conhecido.

Obrigada, Fred Leal.

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