O pânico da secretária e a fobia do e-mail

por Nina Lemos
Tpm #148

Seria o medo das telecomunicações uma nova doença moderna?

1. O pânico da secretária eletrônica
Houve uma época em que as pessoas escutavam os recados deixados na secretária eletrônica. Hoje, não sabemos nem como acessar esse número. “Odeio, tenho pânico, nunca ouço, sempre acho que é alguém querendo me dar uma notícia ruim. E, se for importante mesmo, ela vai arrumar uma outra maneira de falar comigo”, diz a jornalista Vivian Whiteman. “Claro que eu tenho medo de ouvir recado, todo mundo tem, não? Faz anos que eu não ouço recado. Nem atender telefone eu atendo”, declara a artista plástica Rita Wainer. É a paranoia moderna tomando nosso corpo ao som do mantra: “Estão me perseguindo, se eu não atendi e deixaram recado é porque estão me perseguindo”.

2. O transtorno de ansiedade de abrir e-mail 
O sentimento é de culpa depois de ter ficado um ou dois dias sem checar. Depois, bate um desespero: alguma pessoa pode estar te perseguindo (de novo a perseguição) porque você deixou de fazer alguma coisa. Entregar um trabalho, pagar uma conta. “Eu não abro mais e-mail, juro. Não abro desde que uma amiga me disse que existe um aplicativo que diz que você viu o e-mail e não respondeu”, desabafa a escritora e apresentadora Jana Rosa, autora do livro Como ter uma vida normal sendo louca. Sim, porque além do medo de abrir existe o medo de abrir e ter que responder. Sintoma: angústia. E depois um grave sentimento de culpa por não ter respondido a tal mensagem a tempo.

3. O medo do número desconhecido no telefone
“Eu tenho medo quando o telefone toca, porque, se for um número desconhecido, ferrou”, assume a fotógrafa Daniela Dacorso. Desde que um senhor inventou o bina, o que significa um número desconhecido? Alguma coisa horrível, claro, tipo alguém da polícia ou do telemarketing de uma companhia telefônica. Algumas vezes pode ser uma boa notícia, tipo alguém oferecendo um bom trabalho. Essa pessoa provavelmente vai deixar um recado. E, como você também não tem coragem de ouvir recado, provavelmente vai perder o trabalho. O mesmo vale para qualquer número de telefone que não esteja na sua agenda. E depois você ainda sente irritação, ira, falta de paciência com quem reclama que você “nunca atende e nunca ouve recado”. Que gente louca!

4. A fobia de telefonar
Depois de ficar dias falando só pelo chat de Facebook, Twitter e trocando mensagem de texto, você passa a ter medo de… telefonar. Sim, essa coisa que já foi simples passa a ser dramática. O paciente precisa de toda uma preparação e troca mensagens com amigas falando que está com medo de telefonar. Enquanto a amiga fala: vai, faz isso de uma vez. O sentimento ao telefonar: se sentir invadido, exposto, praticamente nu e sem privacidade e trêmulo por… ter que falar!

5. A síndrome de estocolmo do Facebook
O neurótico, como todo mundo, odeia o Facebook, principalmente em épocas polêmicas, como as eleições,
mas fica preso, não consegue sair. Quanto mais odeia, mais posta. E, depois que posta, sente culpa e ódio de si mesmo por ter postado. O doente fica aprisionado no site de relacionamentos por horas, muitas vezes tendo que se forçar a sair de casa ou tendo que ser forçado por algum familiar. Intervenções podem ser indicadas nesses casos. O aprisionamento no Facebook pode durar semanas, até meses ou anos, indicando depressão severa e tendendo ao isolamento.

6. O surto de ódio de quem grava mensagem de voz em WhatsApp
“Por que as pessoas gravam mensagem de voz? Já não basta deixar recado em secretária eletrônica”, interroga, revoltada, a jornalista e roteirista Jo Hallack. A sensação é de mau humor generalizado, podendo
beirar a ira e o abalo na amizade com a pessoa que deixa o recado. “Não ouço nenhum recado gravado, seja de Facebook ou de WhatsApp. Eles entram imediatamente na categoria: tenho medo”, diz a designer e artista plástica Eva Uviedo.

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