O fone de ouvido é o novo boné

por Nina Lemos
Tpm #116

Em uma viagem a Berlim, Nina descobre qual é a nova super tendência por lá

 

Em uma viagem para Berlim, a editora desta seção descobre que para ser aceita na sociedade é necessário usar um fone de ouvido enorme que, além de ser o novo boné, funciona como “pano enrolado no pescoço” quando você não está ouvindo música

“Olha, está todo mundo de fone de ouvido. A gente vai ter que comprar um desses. Tô achando que tem que ter.” Meu amigo Rogerio S., stylist e companheiro de viagem para Berlim, me alertou do óbvio. Todas as pessoas modernas, bem-vestidas e com cara de legais (sim, somos fúteis) presentes no metrô usavam fones. O fone era O ACESSÓRIO.


A partir daquele momento, passei a só reparar em fones. Quem usava um deles (todos enormes, alguns de cores lindas, muitos brancos) parecia que estava em uma escala acima de mim na sociedade. “Aposto que eles nem estão ouvindo música”, cochicha o meu amigo enquanto começamos a ter uma obsessão: precisamos ter fones. Senão seremos indigentes. Senão vamos apanhar na rua. O fone é o novo boné. O fone é o passaporte para a aceitação. Sim, a pessoa tem 40 anos e ainda precisa se sentir aceita em uma cidade estrangeira.

Ter um fone passou a ser nosso objetivo de vida. O escritor amigo Ismael Caneppele vai encontrar comigo no parque. De fone!!! “Não é por moda, é que é realmente ótimo para ouvir música, experimenta aqui.” OK. Mas o fato é que quando não estava ouvindo música o fone ficava lindo pendurado no pescoço dele. Branco, impávido! Sim, porque além de tudo o fone é o novo pano de amarrar no pescoço.

Minha vida mudou

“Eu preciso de um fone para já chegar em Dresden com um”, disse Rogerio, em uma segunda de manhã. Ele viajaria no dia seguinte. Depois de duas baldeações de metrô e da entrada em algumas lojas que não aceitavam cartões, achamos os nossos no Sony Center. Compramos na hora. O meu é vermelho e lindo. O dele é preto. Imediatamente me senti um ser humano mais incrível. E comecei a dar razão para o Ismael. A minha vida MUDOU com aquele fone. A música entrava dentro da minha cabeça e nunca vou esquecer do momento em que andei de noite pelo muro de Berlim ouvindo “Oh my heart”, do R.E.M., com O MEU FONE.

Saía à noite sozinha de fone, ia à esquina comprar pão de fone. Eu era a própria berlinense (cafona!). Problema. Andar de fone em dupla. Eu e Rogerio parecíamos os próprios velhinhos da Praça é nossa. Não dá para andar de fone e conversar.

E agora, no Brasil, estou com medo de ser assaltada. Além de roubarem meu iPhone (foram dois este ano), vão arrancar a minha cabeça para tirar o meu fone.

E ainda tem o calor. “Estou imaginando o meu fone no Rio, derretendo com esse calor”, diz meu companheiro de viagem.

Não importa. O fone valeu cada euro. E está na minha cabeça enquanto escrevo este texto. Estou me sentindo super-hype!

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