Nanda Costa: A sorte de ter duas mães

por Daniela Arrais

A atriz fala da reta final da gravidez, como foi anunciar a sua dupla maternidade no horário nobre da TV, detalha o processo da fertilização e a expectativa para o parto e o que vem depois

Fosse a vida um filme, as cenas da maternidade da atriz Nanda Costa seriam daquelas de muita emoção. Tem namoro que virou casamento com ida surpresa ao cartório para selar a união de 8 anos com a compositora, cantora e percussionista Lan Lanh. Tem riso escancarado, dancinhas cheias de amor no Instagram, trilha sonora própria, feita especialmente como presente de aniversário. Tem também duas tentativas de fertilização in vitro que não foram para frente, gerando medo e ansiedade, além de muitas dúvidas... Até rolar aquele plot twist. Muda de médico, espera a novela acabar. Caramba, tem uma pandemia no meio, espera mais um pouco. Quase 9 meses. Se não for agora, não tem mais fôlego. Terceira tentativa e, tcharan, um exame Beta HCG positivo.

Compra um teste de farmácia para confirmar – e colocar no roteiro aquela cena em que está escrito "grávida". Guarda o segredo até para os amigos, mistura de preservação e também de susto, o começo da vida é tão incerto. Anuncia a notícia fantástica no Fantástico. Duas mães, duas artistas reconhecidas no Brasil inteiro, falando para uma audiência de milhões de pessoas sobre sua dupla maternidade. Fazendo história, ajudando milhares de outras famílias homoafetivas a se verem na TV, e a se reconhecerem também. Que presente! Aos 35 anos, a atriz que ficou conhecida do grande público por papéis em novelas como O Segundo Sol e Amor de Mãe, fala nesta entrevista sobre como se sente prestes a dar à luz suas filhas gêmeas, previstas para nascer em outubro. Puxa a cadeira e vem ouvir a gente? 

*Daniela Arrais é jornalista, sócia da @contente.vc e também vive a dupla maternidade. É mãe com outra mãe de um bebê maravilhoso nascido em 2021.

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Daniela Arrais. Como vocês estão?

Nanda Costa. A gente entrou no oitavo mês. Começou a bater aquela ansiedade... Estou mais lenta, cansada, me arrastando, os pés inchados, aquele terceiro trimestre. 

Você consegue distinguir bem os trimestres? O primeiro de enjoos, o segundo daquela potência, o terceiro do cansaço? Total. No primeiro trimestre eu enjoava todos os dias. Não tive aquele sono, até torcia pra ele chegar porque só não enjoava quando dormia. Tive uns sustinhos, um sangramento no terceiro mês, precisei ficar de repouso. Senti muito medo, pois era uma gravidez muito esperada, desejada. O quarto mês foi mais tenso, fiquei sem fazer estripulia, ainda mais com pandemia. A gente querendo contar pra família, amigos, mas querendo nos proteger também. No quinto mês a gente anunciou a gestação pro mundo, botou a barriga pra fora, aí foi só alegria. 

Como foi o processo de vocês? Quando a Laura ficou grávida do nosso filho eu fui relaxar lá pelas 34 semanas. Ouvia as pessoas falando "é maravilhoso", mas eu sentia medo o tempo inteiro. Sinto medo o tempo todo, que bom que com 34 semanas passa (risos). Nosso processo começou em 2018, que foi quando relaxei e contei pro mundo minha sexualidade. Tinha medo de perder trabalho. Eu saía com a Lan com receio de tudo. É muito recente isso que a gente tá vivendo. Ainda não tinha tanta referência de uma atriz mãe com outra mãe, fazendo trabalhos de destaque. E aí chegou o momento em que eu pensei: "Não dá mais, não tô feliz". E depois que disse "Lan, vamos nessa", falei: "Quero ser mãe". Agora tá tudo como deveria ser.

Vocês decidiram casar antes de começar o processo, né? A gente casou no civil porque entendeu que precisava fazer isso para facilitar o registro com os nomes das duas mães. A gente estava passando na frente do cartório, e eu falei: "Lan, vamos ali casar rapidinho?" A gente com chinelo de dedo. Chegamos lá, e testemunha? Ligamos para amigas que estavam perto, deu tudo certo. A partir dali fui procurar mais informações de como seria o procedimento: inseminação, fertilização. Isso é muito pouco discutido. Em 2018 era até menos. Agora, não sei se porque a gente falou, outras mães vieram contar suas experiências. 

Me conta como efetivamente vocês começaram o processo? A gente fez uma consulta com a médica, que falou que o mais indicado seria fertilização, que teria mais chance. Ela indicou um banco de sêmen internacional. Passávamos horas nesse processo. No começo eu queria ver foto do doador e pensava: "Não teria um filho com essa pessoa (risos)". Fui entendendo que minhas filhas são com a Lan, e isso pouco importa. A gente queria viabilizar essa gestação. Comecei a fazer a indução da ovulação e, quando estávamos nos preparando pra transferir os embriões, recebi o convite para fazer a novela Amor de Mãe. Amor de mãe! Toda vez que pintava um outro trabalho, a gente ia adiando mais um pouquinho. Qual é o momento certo? Lan tem 53 anos, ela achou que tinha ficado pra titia. Falei: "Lan, tem essa oportunidade de fazer a novela, personagem bacana, filha da Regina Casé, fiquei a fim de fazer". Já estávamos no processo, mas dava pra congelar. Quando tivesse faltando três meses para terminar a novela, a gente ia transferir. Congelamos os óvulos. Todo mundo dizia: "Vai pegar rapidinho, você é nova". Estava com 32 anos. 

Quando a novela estava acabando, tomei todas as injeções e fiz a transferência de dois embriões logo de cara. Eram 14 óvulos e no descongelamento perdemos 6. Talvez não fosse uma safra boa. Ficamos com três bons com qualidade possível. Eu tinha certeza que tinha dado certo, pelo menos um. Junto com o [exame] Beta HCG negativo, veio a pandemia. Foi um luto muito grande, foi difícil pensar no futuro. Eu já tinha adiado pelo tempo da novela, uns nove meses. Já foi uma gestação na espera de fazer a transferência e, com a pandemia, parou tudo. Enquanto isso, a gente tentava entender o que ia acontecer. A novela demorou seis meses pra voltar, eu não podia voltar com uma barriga. Aí pausou tudo de novo. Mas a gente ainda tinha um embrião. 

E daí vocês transferiram esse embrião quando acabou a novela? Isso. Mas o embrião não tinha uma classificação tão boa, a gente não tinha tanta expectativa. Daí fui fazer o Beta HCG, veio positivo. Pensei: "Deu super certo, tô grávida". Falamos com a médica e ela disse que era um número baixo. Toda a fé que eu não estava colocando, coloquei, mas não evoluiu. Era Natal, eu fiquei muito triste, parecia uma coisa impossível de acontecer. Ainda mais pra mim, que nunca tinha engravidado. Vai ver não vou ter essa sorte na vida... Não dá pra realizar todos os nossos sonhos, desejos. Chorando, super mal nessa semana, falei: "Lan, se eu não fizer agora, eu não vou ter saúde pra fazer de novo." É um processo muito caro, financeiramente e emocionalmente, mexe com todos os hormônios, com a cabeça… Logo depois do Natal, falei que queria começar o ano fazendo o processo. Dessa vez, a gente não contou pra ninguém, só pra minha mãe. 

Deu para começar logo? Tinha que esperar 90 dias para a chegada do sêmen. Me deu uma desanimada. A nossa gestação é uma coisa muito planejada, não é uma coisa que "aconteceu". Não posso fechar um trabalho e aparecer grávida. Então partimos para uma nova tentativa. Desistimos do banco internacional, não era mais importante uma foto. Toda a minha preocupação do começo foi por água abaixo. Só queria alguém saudável. 

Dessa vez também tivemos 14 óvulos bons, 6 eram excelentes, e transferimos 2. O médico falou, rindo: "Bota dois, não sou eu que vou criar". Ele estava muito seguro, o que foi importante. A gente fez o primeiro Beta HCQ bem pertinho da data da transferência. Ele falava: "Se o exame der 4, bem baixinho, vai ser bom". Eu fiquei com muito medo de entrar no laboratório e ver o negativo. Deu 116. Antes eu achava que só precisava de um positivo, mas tem todo um processo, precisa dobrar o número do exame Beta HCG. A gente vibrou muito, depois ficou em silêncio: "Será que a gente pode comemorar mesmo?" Comprei teste de farmácia, meu sonho era ver escrito 'grávida'. Caramba, deu! Tirei uma foto, guardei. O outro exame dobrou. O médico até falou que isso podia indicar a presença de mais um bebê. Como assim, três? Foi uma ansiedade doida. Tive um sangramento antes do primeiro ultrassom, fiquei morrendo de medo de ter dado errado mais uma vez. 

Imagino a expectativa para esse ultrassom… Cheguei super nervosa, a mão gelada. Se forem três, que venham, que tenha vida aqui dentro. Quem quiser vir será bem-vindo. No primeiro ultrassom, ouvimos o coraçãozinho. A Lan ouviu e falou: "Olodum"! O médico falou: "Olodois". Foi uma alegria. Ficamos três meses sem contar pra absolutamente ninguém. No meio do processo o pai da Lan faleceu. Foi um momento muito difícil, não pude acompanhar. Os amigos não sabiam, acabamos contando para alguns, para que eles pudessem dar apoio pra ela. Em um momento em que tem tanta gente indo, a gente fica pensando como a vida é maravilhosa também, receber essa bênção nesse momento, em dose dupla. Mais tarde aconteceu um susto de um pequeno descolamento. E é sempre isso, vem a translucência nucal, o morfológico, o ecocardiograma. Eu sempre fico tensa. 

Por nosso processo envolver ciência, a gente acha que tem controle. Mas até a ciência não é completamente exata. Foi o primeiro momento em que me deparei com a falta de controle. É muito incerto. 

Eu ficava pensando: é muito difícil uma gravidez vingar. Não é fácil como contam as novelas, os filmes. São muitas etapas. Muitas. Eu fico louca. Vou no ultrassom, são duas. Tem uma com a cabeça pra baixo, outra pra cima. Uma dá cambalhotas e piruetas, a outra leva pisada na cabeça. Eu vejo um MMA rolando às vezes.

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Como foi contar da gravidez no Fantástico? Quando eu assisti, só pensava: muito obrigada por ajudarem a minha família e qualquer outra que não seja a configuração da "família tradicional brasileira" a serem vistas. Quando aparecemos na capa de uma revista falando sobre o nosso relacionamento e fomos no programa Conversa com Bial, recebemos uma onda de amor muito grande. Então a gente queria anunciar a gravidez também. A gente segurou tanto tempo. Fomos amadurecendo, pensando em fazer algo legal para nossa comunidade. Tem tanta gente abrindo caminhos. Por exemplo, a Marcela Tiboni. Li o livro dela ["Mama, um relato de maternidade homoafetiva"] na minha primeira tentativa e foi muito mágico, era como se eu tivesse trocando ideia com quem estava passando por algo parecido. É muito legal a gente se ver representado, ver nossas famílias. A gente falou: isso é fantástico. Vamos anunciar num lugar que tenha essa grandeza, esse alcance. Muitos amigos não sabiam, se vazasse a informação ia perder o ineditismo. Foi muito potente essa onda e esse acolhimento que veio, as mensagens que a gente recebeu de muitas mães.

A música "Duas Mães", aliás, já virou hino de todas as nossas famílias. Conta mais sobre essa composição? Nas nossas famílias não rola engravidar espontaneamente. Tem que querer muito, seja por adoção, seja por inseminação, seja por fertilização. A gente tem que ir atrás, lutar pelos nossos direitos. Pra registrar, pra tudo. Não tem como não existir amor. Quando vejo as nossas famílias, imagino toda a ansiedade que todo mundo passou, cada história que cada uma passou. 

A música foi um presente de aniversário, há um ano. Na época a gente não saía pra nada e eu falei pra Lan: "Não gasta dinheiro nem sai pra comprar meu presente. Faz uma música! Você não é compositora?". Ela me olhou com cara de "me pede uma coisa mais fácil". No dia seguinte, desceu do estúdio chorando muito. Era o auge da pandemia, fiquei super preocupada: "O que aconteceu, com quem?" Ela não conseguia falar. E aí disse: "A música". A música veio rápido pra ela, letra, melodia. Quando a gente foi fazer o ultrassom, ouvimos os corações, ela gravou o som no celular e colocou na música. Mexeu um pouco no BPM e disse: "Já botei as meninas pra trabalhar agora, vão ser trabalhadoras que nem as mães".

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Como tem sido passar esse período com a Lan, dividir a gravidez com outra mulher? Aqui em casa tem muita parceria, mas discussão também. É muito difícil brigar com a Lan. A gente vai completar 8 anos juntas. Acho que só ela pra me aguentar. Ela tem uma serenidade que é impressionante, é leve, doce. A gente divide muito bem as tarefas. Sou muito ansiosa, agoniada. A gestação me botou num tempo mais pra trás. Tô mais calma, mais lenta, mais lerda, me fogem as palavras, esqueço as coisas. O que é que eu vim fazer aqui na cozinha? Eu ia fazer xixi! Ela tá gostando disso. Fica mais difícil brigar comigo. Ela se diverte. Quando entramos no oitavo mês, bateu uma ansiedade. A gente não tinha comprado uma fralda. A gente foi deixando. Acho que por conta desse receio de ver todos os processos. Agora elas vão chegar, e a gente precisa organizar tudo. O quartinho não tá pronto. A gente entrou numa pilha, mas não brigando, e sim somando força para viabilizar tudo. 

Você tem feito preparação para o parto? É tanta expectativa com a gravidez, mas depois vem parto, amamentação, puerpério... Eu era enlouquecida por ver parto, entrava na internet e pesquisava 'parto normal', 'parto de gêmeos'. Adoro, vejo tudo. Agora que tá chegando mais perto, já começo a ficar com agonia, ainda mais quando vejo uma cesárea, cortando, abrindo a barriga. Já fico assim: "Ai meu deus, pode ser eu daqui a pouco". Não tô criando nenhuma expectativa, tô vivendo um dia de cada vez, vibrando a cada semana que passa. "Oba, elas estão mais gordinhas". Vamos tentar chegar pelo menos em 36 semanas. O ideal é entrar em trabalho de parto. O deadline é por volta das 38. E tô com um pediatra humanista que é super bacana. Se entrar em trabalho de parto, tudo certo. Quero o que for melhor pra todo mundo, pra mim, pras meninas, pra Lan – não deve ser fácil estar ali do lado acompanhando. Sem susto, se a gente puder evitar. Tô tranquila nesse lugar, confio muito na equipe. Tô fazendo fisioterapia pélvica, estava com muitas dores na lombar. Comecei a fazer drenagem, meu pé tá um pão italiano. 

Essa coisa da preparação, minha mãe perguntou: "E sua mala?" E eu: "Minha mala?" Ela: "Você tem que levar absorvente, absorvente de peito, cinta, camisola". Já não estava conseguindo organizar a mala das crianças, tenho que organizar a minha também? Rindo de nervoso. Quando fui nascer, estavam meus pais e meus avós em casa. Minha mãe entrou em trabalho de parto, estourou a bolsa. Saiu todo mundo correndo, foi entrando todo mundo no carro. Minha mãe chegou na porta: "E eu?" Esqueceram da minha mãe. Cena de filme. 

O que vocês já aprenderam sobre dupla maternidade nesse processo todo? Como tem sido pra Lan, como mãe não-gestante? O que acham OK de dividir e o que não é de bom tom? É impressionante porque a Lan teve todos os sintomas. Até parar de menstruar junto. No mesmo mês que a minha menstruação não veio, a dela também não veio. Ela está entrando no climatério agora. Ficou enjoada comigo, sentiu azia. Quando minha lombar começou a doer, ela travou a lombar. Falei: "Peraí, Lan, não dá nem pra contar isso, o roteiro fica ruim".

Vocês pensaram em induzir a lactação da Lan? A gente pensa em fazer através da sonda. A Lan nunca teve desejo de induzir. Pra fazer, teria que tomar muito hormônio. Ela está muito tranquila. Tem cozinhado mais, faz almoço, pesquisa o que é bom de comer em cada período. Tá precisando de mais cálcio agora? Ela vai e faz um menu maneiro.  

O que vocês pensam sobre a privacidade das meninas? A gente fala sempre com muita sinceridade, é muito transparente. Talvez por ter ficado por tanto tempo quieta, quando comecei a falar, falei até demais. Dá vontade de postar tudo, mostrar que nosso relacionamento é natural como qualquer outro. As pessoas se sentem íntimas e participam. Às vezes eu saía na rua e perguntavam: "Cadê a Lan? Vou contar pra ela". Ao mesmo tempo que veem muito amor, o ônus é do tamanho do bônus. E tem que ter mais bônus que ônus. Se a gente anuncia uma gestação no Fantástico, claro que as pessoas vão querer saber quando nasceram, quais os nomes, as pessoas estão vendo a barriga crescer. Não dá pra chegar e falar: "Não, ninguém vai saber mais". A gente quer se preservar mais, ficar mais quietinhas, focadas no nascimento, ter esse tempo pra entender tudo. Somos mães de primeira viagem, não sabemos o que nos espera. A gente merece e tem o direito de entender isso, até para nos adaptarmos à nova rotina. Se eu te respondesse agora, diria: "Quero preservar a privacidade delas, vou postar uma mãozinha, um pezinho, um rosto de lado". Mas aí de repente vem aquela criança linda, carismática, que quando abre um sorriso muda o dia das pessoas. Será que não vale a pena? Se fizer bem pra algumas pessoas pelo menos? Não sei te responder. A gente vai entendendo, sentindo. E quando vier hater, eu bloqueio. Ali na minha bolha é só amor. Evito ver comentários nas outras bolhas. 

Como você espera que o mundo trate suas filhas? A partir do momento em que decidimos ter filho, parecia que só via grávida e carrinho de bebê na rua. Ainda mudamos para um apartamento que tem uma escola infantil na frente. O que já mudou é que eu olho essas mulheres, esses bebês, e abro um sorriso, tenho vontade de acolher, de abraçar, de perguntar se estão precisando de alguma coisa. Sinto mais empatia. A gente torce para que o mundo permita que essas meninas possam ser o que elas quiserem na maior potência, que tenham liberdade para se descobrir, experimentar, viver. Sem esse ataque, que a gente sabe que acontece. Tem gente bacana e tem gente ruim, mas somos muitas também. A gente deseja mais empatia, amor, paciência, carinho, saúde, cura. 

O que a maternidade já provocou de transformação em você? Aprendi a ter paciência, que é uma coisa que eu não tinha. Eu era muito ansiosa, queria tudo ao mesmo tempo, tudo rápido. Hoje meu corpo nem me permite. Chega o mercado e não dá pra carregar sacola. Sempre tive dificuldade de delegar, pedir ajuda, até pra Lan. Sou outra pessoa, tenho outro ritmo. Às vezes eu ficava horas sem comer. Hoje, não. Penso nelas em primeiro lugar. Tô me cuidando mais por estar gestando, por elas precisarem que eu me cuide para que chegue o melhor pra elas. Assim vai ser o futuro também, eu vivendo pra elas, minhas prioridades. Não acontece mais aquele pensamento de "vou perder um trabalho porque eu vou anunciar pro mundo meu amor". Sobre o trabalho, penso: "Agora preciso trabalhar porque tenho duas filhas para criar".

Aliás, como você se organizou em relação ao trabalho? Vai conseguir ter uma licença-maternidade? Com a pandemia, as produções mudaram, algumas atrasaram. Tenho um filme meio engatilhado, mas vai dar tempo, se Deus quiser. Tô conseguindo viver a maternidade mesmo, em casa. Antes minha cabeça não parava, eu inventava o que fazer. Agora não tenho mais condições, não consigo nem decorar um texto, nem de Stories. Minha memória tá uma coisa absurda. 

Você tá fazendo pessoas. Não precisa fazer mais nada! Espero que minha memória volte depois que elas nascerem, pra eu poder voltar a trabalhar em algum momento (risos).

Você tem vontade de dar um recado de mãe pra mãe, para mulheres que estão tentando engravidar? É difícil falar isso. Quando não dá certo a gente escuta a positividade das pessoas: confia, vai dar certo, uma hora rola. Quando eu ouvia isso, me batia tão esquisito... A pessoa tá falando porque conseguiu. Mas acho que é por aí mesmo. Acho que uma hora acontece, não tá na nossa mão. Não vem na hora que a gente quer, vem na hora que é pra vir. Se tivesse dado certo da primeira vez, ia começar uma gestação junto com uma pandemia, não ia ter vacina, ia estar muito mais desesperador. Claro que ainda estamos na pandemia, tomando todos os cuidados, mas tem um pouco mais de tranquilidade. Se eu pudesse escolher, teria escolhido agora. Todo aquele luto, aquela tristeza que eu passei, entendo que foi melhor assim. Já consegui tomar duas doses da vacina, o que dá uma segurança maior, elas vão vir imunizadas. Diria, então: Tenham fé, persistam. Tem muitas formas da gente exercer a maternidade. 

Obrigada demais pelo papo, me emocionei. Desejo uma boa hora, que tudo flua muito bem para a chegada das suas meninas! Estamos conectadas pela dupla maternidade. Outro dia fiquei super emocionada quando vi o encontro das mães no parque que você armou. É a nossa turma, a gente queria estar ali junto. Somos muitas também. 

 

 




Créditos

Imagem principal: Luciana Serra (@lucianaaserra)

Daniela Arrais é jornalista, sócia da @contente.vc e também vive a dupla maternidade. É mãe com outra mãe de um bebê maravilhoso nascido em 2021.

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