por Lia Bock
Tpm #81

Do teatro à música, a linha que liga quatro almas criativas

O que Marco Nanini tem a ver com uma garota de 29 anos da cena underground de Curitiba ou com dois punks de carteirinha? Do teatro à música, a linha que liga quatro almas criativas

Marco é amigo de...

Recentemente o incêndio do teatro Cultura Artística, em São Paulo, deixou Marco Nanini órfão. As chamas consumiram ce­ná­rio e figurino da peça O Bem Amado, em cartaz desde abril. “Foi uma surpresa que tumultuou as coisas.” Mas Nanini prefere passar para o próximo tópico: “Ainda bem que ninguém morreu”. Aos 60 anos, esse pernambucano radicado no Rio de Janeiro há meio sé­­culo se prepara para levar O Bem Amado para o cine­ma junto com Guel Arraes e, ao mesmo tempo, entrar no nono ano de A Grande Fa­mí­lia. Mas sua diversão é a Pequena Cen­tral, produtora que criou com Fer­nando Libonate, seu companheiro há mais de 20 anos. Localizado no bairro da Gam­boa, no centro do Rio, o lugar é in­te­­grado com a comunidade local. Dali saem figurinos, peças, filmes – e aulas de ar­tes marciais para a população. O amigo Fe­lipe Hirsch ele conheceu trabalhando: “Ele é ado­rável, um jovem de 190 anos”, brin­­ca. Fe­lipe o dirigiu em O Caixeiro Viajante.

...Felipe, que é encantado com...

 

 

 

 

 

 

O diretor Felipe Hirsch, 36 anos, gosta de parafrasear o jornalista Ivan Lessa: “Não há mais Curitiba em mim”. Mas o sotaque e toda sua história vêm da capital paranaense, então há dúvidas sobre quão curitibano é este ser inquieto. Enquanto fala sobre Insolação – primeiro longa-metragem em parceria com Da­niela Thomas, que começa a ser filmado este mês – é possí­vel sen­tir a vibração punk de suas origens. Alguma coisa ali é anár­qui­ca, com gosto de garagem e madrugadas frias – e Felipe se or­gulha disso. O sucesso que atingiu como diretor de teatro comandando gente do calibre de Marco Na­nini, Paulo Autran e Marieta Severo não apagou o jovem underground. Para refor­çar esse lado, ele faz questão de frisar sua admiração a Rodrigo Barros del Rei, que criou a já extinta banda punk Beijo AA For­ça. “Es­se punk doido nunca quis o su­cesso. O lan­­ce do Rodrigão sempre foi criar, escre­ver e beber. Sou encantado com ele”, diz.

 

...Rodrigo, que é fã de...

Rodrigo Barros del Rei, 45, é uma das mais importantes fi­gu­­ras da cena musical de Curitiba. Rodrigão, como é conhecido, faz tantas coisas que nem sabe o que dizer primeiro. Comecemos então pela garagem, onde todo músico curi­ti­ba­no se sente em ca­sa. Foi ele quem criou o projeto Grande Garagem que Grava, de lá saí­ram 32 discos de bandas independentes em shows ao vivo. Muitas, talvez, nunca gravariam um CD, por isso o projeto po­de ser considerado um registro histórico de uma época, a nossa. Ro­dri­go tam­bém faz trilhas para teatro, toca em três bandas, en­cabeça o programa Rádio Caos, que mistura poesia e música – e tem um bloco de Car­naval. Sim, ele gosta do baticum e está di­gi­talizando entrevistas de Aramis Mil­lar­ch, tradicional repórter cultural de Cu­ri­ti­ba que gravou conversas com Do­rival Cay­m­mi, Cartola e outros. Voltan­do à ga­ra­gem, foi lá que Ro­drigo conheceu Xanda. “Ela é uma figura do rock de Curi­tiba. Sou seu fã!”

...Xanda

Como os três personagens anteriores, esta próxima parece mui­­tas. Alessandra Lemos, a Xanda, tem apenas 29 anos, mas, nos últimos oito, parece ter vivido 18. Roqueira de corpo e alma, ela se dedica a suas duas bandas: Criaturas e Gian­ni­nes. A voz forte e a empolgação indicam que a mo­ça veio para deixar sua mar­ca. Pa­ralelo aos acordes da guitarra, ela lança, em dezembro, o pro­jeto Opereta dos Bichos, um livro e um CD infantis para divertir a crian­çada. “Tudo sem ser infanti­lói­de nem didático demais”, ga­rante. E como nada disso (ainda) paga as contas, ela trabalha também numa produtora. “Atiro pra todo lado, mas me or­gulho de viver do que gosto: cultura e ar­te”, diz. Xanda é um dos no­vos nomes da mú­sica curitibana e também co­meçou pe­la ga­ragem. A compositora é her­deira da ge­­ra­ção de Rodrigo que, por sua vez, é her­deiro da ge­ração de Paulo Le­minski. Uma turma que faz valer o “di­ga-me com quem andas que te direi quem és!”.

 

 

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