É preciso muita coragem para aceitar novos desafios depois de ter chegado ao topo
“Ser presidente não muda quem você é – mas revela quem é você.” Esse foi o ponto alto do discurso de Michelle Obama, referindo-se ao marido, Barack, na convenção democrata em setembro passado. O que ela quis dizer com isso é que, quando se chega ao topo, nem todos conseguem lidar com o poder. Muitos se deslumbram, alguns abusam. Talvez nunca tivéssemos pensado nisso coletivamente antes de Michelle soltar essa frase.
Conheço, no entanto, alguém que chegou cedo ao poder sem perder a graça, o sorriso e a simplicidade. O nome dela é Suzana Apelbaum, carioca do Leme que viveu em São Paulo e agora é ilustre habitante do West Village, em Manhattan. Mergulhada no mundo publicitário e no meio digital, Suzana foi uma das mulheres da categoria Amazing Women, do Advertising Week Social Club, há dois meses. Mas isso é mais um prêmio dos vários que ela coleciona, incluindo alguns em Cannes.
Hoje, aos 39 anos e quase três de Nova York, ela é diretora de criação de uma das agências mais vanguardistas da cidade, a Anomaly. Acredito que o segredo de Suzana seja nunca ter perdido o entusiasmo quase infantil em tudo o que faz. Nunca esqueço dela assoprando o iPhone para me mostrar o mecanismo de um jogo para crianças, inventado para um cliente. Tão feliz que parecia estar diante de sua primeira criação. Ela segue curiosa por tudo, topa ver qualquer documentário jamaicano com produção paquistanesa e, se precisar, vai a museu infantil com os filhos dos outros.
Ter deixado o Brasil, onde ela é aclamada pelo meio e amada pelos clientes, foi o passo de maior coragem de sua carreira. “No Brasil, publicitários de alto escalão me seguem no Twitter. Aqui, sou a Mrs. Nobody”, ri Suzana (@SuApelbaum), que também é atriz, formada pelo Tablado. “Foi um grande exercício de humildade – a dinâmica de Nova York é muito diferente. Foi um renascimento, até no lado pessoal: tirei todos os meus cachos do cabelo”, diz ela. Suzana confessa ainda que é a arte sua maior fonte de inspiração: pinturas antigas, poemas bonitos, uma canção intensa. “A arte é uma linguagem divina. É a melhor forma de alcançar o coração das pessoas.”
Tania Menai é jornalista, mora em Manhattan há 17 anos e é autora do livro Nova York do Oiapoque ao Chuí, do blog Só em Nova York, aqui no site da Tpm, e também do site www.taniamenai.com