Acidente de avião, atletas incríveis e políticos insanos. Onde é que vamos parar?
Mas não é sobre isso que gostaria de falar. O meu desejo é trazer idéias novas pra você, além do quê, sei que não tenho conhecimento técnico para opinar sobre o assunto, apesar de muitas vezes ter me sentido equiparada em conhecimento a muita gente que andou falando na mídia sobre o assunto. Também não quero incorrer no mesmo erro de outros parlamentares, que debateram a matéria sem o mínimo aprofundamento.
Assistimos à implosão do prédio onde o avião explodiu, aos vários laranjas do presidente do senado, ao habitual “desaviso” do nosso presidente e ao descaso das autoridades. Às vezes é cansativo ser brasileira.
Até que me lembro dos nossos incansáveis atletas, que tanto orgulho sugeriram aos nossos egos. Recebemos em São Paulo, entre o Pan e o Parapan, a 3ª edição dos jogos mundiais de cegos. Foram quase 2.000 atletas de 62 países que vieram competir. A delegação brasileira ficou em 3º lugar, com 47 medalhas. Aqui vimos a salvação para os nossos sentimentos, já que é necessário um drible mental para fugir dos pensamentos nas fatalidades.
Como nesse período consegui tirar férias e passar uma semana em Trancoso, achei que esse pedacinho da Bahia deveria ser energia preponderante no texto, mas a primeira coisa que lembro é do pouso em Congonhas, onde os passageiros bateram palmas no momento em que o piloto freou o avião. Alguns choraram, como eu.
De avião, para Trancoso
Mas quero falar de Trancoso, onde a natureza e o homem conseguiram harmonia e beleza nos traços e movimentos do cenário. Fundada no século 16, tem uma arquitetura jesuítica. Uma igrejinha sobre o morro de costas para o mar e face para o “quadrado”, espécie de campo de futebol gigante ladeado por casinhas. Estas eram dadas para os convertidos ao catolicismo. Até muito pouco tempo, início dos anos 80, Trancoso era muito semelhante ao povoado do século 16.
Conheci a cidade em 1990, mas Ricardo Salem, construtor que mora lá há uns 30 anos, ainda presenciou o paraíso sem polícia, político ou padres – que vinham raramente de outras cidades para algum evento católico. Quando alguém cometia algum delito, era atado à trave do gol no meio do quadrado, exposto aos olhares dos outros moradores. Imagine se atualmente seguíssemos aqui a antiga orientação de punição de Trancoso? Na época, 5 mil habitantes. Hoje, 15 mil.
Nos enveredamos por um caminho, que, aos poucos, foi desvirtuando a moral do brasileiro. Onde foi na história que subestimamos a força da dignidade? Pelo caminhar deste texto, ainda temos o poder de conduzir nossos pensamentos e atingir emoções mais sublimes e genuínas.