Maitê Proença, à prova de bala

por Nina Lemos
Tpm #27

Desde que estreou na Tv, há 23 anos, ela virou sinônimo de linda. Aqui, o que há por trás da beleza de uma mulher que superou tragédias punks (morte da mãe, insanidade do pai), mas que não se lamenta

Maitê Proença gostaria de ter sete centímetros a mais. Também, de ter o corpo durinho para sempre. E de se sentir enraizada a um lugar para onde pudesse voltar. Mas, aos 43 anos, já aprendeu que certas coisas não podem ser mudadas. Então, aceita. E não lamenta. A musa que já foi capa da Playboy duas vezes sabe que o tempo passa. E está disposta a receber as rugas que lhe são de direito com sorriso. A ausência de plásticas faz com que ela acabe sendo sempre “a mãe de alguém” na TV. Ela se chateia, mas não a ponto de se internar em uma clínica para “virar uma Demi Moore”.

Se é para definir a atriz com um adjetivo, que seja bom humor. Ela esculacha os diretores de TV – “eles acham que sou o Matusalém” – e fala com leveza até dos assuntos mais pesados de sua vida. Uma vida que parece filme dramático. Aos 13 anos, a mãe da atriz, professora, morreu. Assassinada pelo marido. O pai de Maitê, que era desembargador, foi absolvido em dois julgamentos, mas resolveu se internar num manicômio. Ela foi morar em um pensionato luterano com o irmão caçula. Ficou três anos lá. Depois, pediu abrigo a um padre em Campinas e ganhou um quarto nos fundos da igreja. De lá, foi rodar o mundo. Não gosta de recontar as tragédias, mas não se nega a explicar como elas mudaram sua vida. Da mesma forma que não lamenta a chegada da idade, também não reclama dos momentos difíceis. “A vida é muito interessante.”

Santo Daime

Como gosta de viver, é curiosa. Já fez análise, entrou de cabeça no Santo Daime e cheirou muita cocaína. Usa o que aprendeu com o Daime e com a análise. Sabe que não aprendeu nada com a cocaína e odeia a droga. A Maitê que recebe a Tpm em seu apartamento no edifício Chopin, um dos mais badalados do Rio de Janeiro, vizinho do Copacabana Palace, está sem maquiagem e descalça. Mostra pedaços do cotidiano que leva com Maria, a filha de 13 anos, de seu casamento com o empresário Paulo Marinho, que durou 12 anos. A garota chega da escola sem conseguir falar. Maitê ri. É a primeira vez que vê a filha de aparelho nos dentes. Mais tarde, durante a entrevista, um atrito entre mãe e filha mostra como é a relação das duas: normal. Maria entra com vestido de noite e sapato alto e pergunta à mãe o que acha do look escolhido para um Bar Mitzvah. Maitê detesta: “Com esse sapato de salto não!”. Mas Maria insiste, e ela cede. “Está cafona, mas tudo bem. Não vou estar lá para passar vergonha.” As duas caem na risada. Maitê ri muito. E fala sem parar.

“Quando vi que sentir coisas não matava ninguém, foi como nascer de novo. Durante uns seis anos, virei uma pedra, não rolava uma lágrima. Fingia que não sentia nada”

 

 Tpm. Você foi uma adolescente rebelde?
Maitê Proença. Era solta. Adorava ir à praia mais brava com o mar de ressaca e entrar nas ondas. Íamos eu e mais três moleques. Eu era de rua. Voltava para casa na hora que queria. 

Tpm. Ter passado por uma tragédia quando tinha 13 anos paralisou a sua juventude? [Sua mãe, professora, foi assassinada pelo marido, pai de Maitê.]
Maitê. Paralisou emocionalmente. Mas eu fui viver. É do meu temperamento ver a luz no fim do túnel. Mesmo quando aparentemente não tem saída, eu acredito. Tem gente que fica paralisada, deprimida. Sinto a dor tão profundamente quanto os outros, mas carrego ela, vou doendo, me arrastando. Tive um irmão com problema de drogas. Num desses momentos bem dramáticos da minha vida, ele sumiu por quatro dias. Pensei: “Não é possível tanta tragédia acumulada. Será que ele morreu de overdose?”. Entrei na casa onde ele morava pela janela, com um amigo. Achava que ia encontrar meu irmão morto. Mas, no trajeto até o quarto, só apareciam imagens bobas na minha cabeça: uma mulher com vestido de bolinha amarelo, um porquinho. Acho que você precisa de coisas alegres no caminho da morte. Cheguei lá, e ele não estava morto. Mas estava quase. O corpo e a mente defendem a gente assim. Você se renova para enfrentar as coisas.

Tpm. Você acabou virando mãe dos seus irmãos depois que sua mãe morreu?
Maitê. Do meu irmão mais novo com certeza. Me lembro dele no pensionato [aonde os dois foram morar], com dor de ouvido, eu botando a mão na orelha dele para ver se com o calor passava. Não sabia nada. Fui aprendendo sozinha.

Tpm. Ter vivido uma tragédia muito cedo fez você ficar forte?
Maitê. Não gosto de fazer melodrama com minha história. E não sei como seria se fosse diferente. Lógico que tudo te influencia. Mas tem gente que sofre de bocadinho em bocadinho, por nada. A dor de cada um é de cada um. Vejo gente tão deprimida que me assusto! Dizem que é químico, mas acho que a gente tem que ir levando. Tive síndrome do pânico uma vez na vida, sei como é e nunca terei outra. Jurei de joelhos para Virgem Maria. Foi abominável. Perdi o referencial, nem sabia o telefone das pessoas para ligar e falar: “Olha, estou morrendo aqui”. Estava voltando do trabalho, cheguei em casa e não tinha ninguém, nem o cachorro para eu sentir calor humano, canino que fosse. Consegui chamar meu ex-marido. Consegui falar com uma empregada que percebeu que eu não estava bem. Ele chegou, depois veio minha melhor amiga, o marido dela me deu um passe. Eu gritava: “Não estou me aguuentando!”. Saí da crise pelo espiritual. Já tive ameaças, mas nunca mais vou ter outro ataque. Eu já tomei Daime, sei me controlar. Tenho escola nisso de controle do descontrole.

Tpm. Como foi a experiência do Daime?
Maitê. Foi boa e péssima. Tive vários momentos de achar que ia ficar louca ou morrer. É muito parecido com ataque de pânico. Mas lá você está numa comunidade, vai para uma casa de cura. E aquilo te renova. Faz você ir tirando suas cascas. Cada vez você chega mais perto de quem você é. Isso é uma coisa que a psicanálise também me ajudou. Mas eu sou intensa. Fiz muita análise. Muito Daime.

Tpm. Mas tem uma religião?
Maitê. Não tenho uma religião. Tenho uma prática diária, espiritual, minha, que é uma mistura de tudo o que já vivi. Tem Igreja Católica, mas também tenho uma guia [um colar] com cigana do oriente, estrela do Espírito Santo, Iemanjá, Nossa Senhora da Aparecida, Nossa Senhora Desatadora dos Nós, estrela de Davi e até o Zé Pilintra. A guia fica no meu altar. Às vezes, também uso no corpo.

Tpm. A espiritualidade surgiu na sua vida para ajudar a superar as coisas difíceis?
Maitê. Meu lado espiritual foi sendo desenvolvido devagarzinho. Com seriedade, desde um pouco antes de a Maria nascer. Meus pais eram ateus. Mas morei em um pensionato de missionários luteranos depois que minha mãe morreu. Até então não tinha noção de pecado. Nunca se falou essa palavra na minha casa. Lá no pensionato eles eram muito bons, me acolheram num momento difícil. Me converti, foi bom pra mim, me deu conforto. Foi pelo amor deles que eu fui conquistada. Fiquei três anos lá. Depois de um tempo, briguei, eles eram bitolados. Minha briga foi com o missionário-chefe Chorei quando saí, ele também.

““Nunca comprei droga. As pessoas davam, rolava fácil. Me entupi com o negócio. Me deu nojo. Hoje, não posso ver cocaína” ”
Maitê Proença

Tpm. Aí você foi morar com um padre?
Maitê. É. Quando saí do pensionato, bati na porta da igreja em Campinas e disse: “Tô precisando de lugar para morar, sou vítima de tragédia familiar”. Fui morar na casa do padre. Ainda assim, só assisti à missa uma vez, com o Ricardo, meu namorado na época. Quando a gente apareceu na porta, o padre parou o sermão e falou: “Aconteceu um milagre! Olha a materialização de um milagre na porta da igreja!”. Todos olharam para a gente. Todo mundo me conhecia, eu era a figurinha mais fácil da cidade, estava na rua toda hora.

Tpm. Você tinha muita segurança para uma adolescente. Bater na porta de um padre...
Maitê. No dia em que minha mãe morreu, esse padre foi me visitar. Ele foi a única pessoa que me fez rir. Todos me olhavam como se eu fosse um bicho. Era muito desagradável. Ele foi um oásis, virou um amigo. E nunca quis me converter. Também ficou muito amigo do meu pai, que era ateu. Meu pai se internounum manicômio por dois meses para ficar isolado.No meio dos loucos, pelo menos ele eranormal. Pedi para o padre Chico ir visitá-lo comigo. Meu pai era amigo dos mais doidos. O melhor amigo dele era louco de pedra.

Tpm. Você se dava bem com seu pai?
Maitê. Tive uma relação muito boa. [O pai dela morreu em 1989.]

Tpm. Você não teve muita referência materna, paterna...
Maitê. Tive o tempo que durou... Do jeito que eles eram. Porque eles eram pessoas especiais, para dizer o mínimo. O que é bom, também.

Tpm. Depois do pensionato luterano e da igreja você foi parar na Índia. Que mistura religiosa, não?
Maitê. Eu tinha 18 anos, e essa viagem foi mais sexo, drogas e rock and roll do que busca espiritual. Mas tinha macrobiótica. Por cinco anos, li tudo o que caiu na minha mão sobre nutrição. E rodei o mundo. Estava na África, meu namorado foi me encontrar, e seguimos para a Índia por terra, foi peregrinação verdadeira.

Tpm. O teatro foi uma catarse para você superar as perdas?
Maitê. Ser atriz foi uma casualidade na minha vida. Pensei em ser várias outras coisas, entrei em oito faculdades diferentes. Fiquei confusa e fui para a Europa. Voltei para o Brasil porque meu pai estava doente. Fui virando atriz de brincadeira. Acho que, por ter de emprestar sentimentos para as personagens que interpretava, aprendi a lidar com sentimentos que estavam trancados dentro de mim. Quando vi que sentir coisas não matava ninguém, foi como nascer de novo. Durante uns seis anos eu virei uma pedra, não rolava uma lágrima. Fingia que não sentia nada. Viajei o Brasil inteiro, a América Latina inteira, o mundo inteiro. Era tanta coisa nova que não dava nem tempo de olhar para dentro. Mas a atriz teve que olhar. E ela me salvou.

Tpm. E você veio parar no edifício Chopin, ao lado de socialites como Narcisa Tamborindeguy. Como é viver nesse mundo?
Maitê. Eu circulo em qualquer lugar. No society ou em festa punk, não tenho tribo. Tenho meus amigos. É bem variado o meu cardápio.

Tpm. Você foi criada em vários lugares. Sente falta de ter raízes?
Maitê. Sinto. Eu não sou de Campinas, apesar de ter nascido lá. Nem de Ubatuba, onde vivi muito tempo. Tem lugares no mundo de que gosto, mas não tem nenhum que seja meu. É muito estranho. Eu vejo a Malu Mader, ela é tão carioca, tão Ipanema, acho legal. Sou o avesso disso. Se minha vida mudar radicalmente, não fico em saia justa. 

Tpm. Você já teve depressão?
Maitê. Já, por amor. Só por amor. Por outras coisas fiquei muito triste. Mas depressão é aquele negócio que você não quer acordar, não tem energia para sair da cama. Já tive enormes, de chorar rios, deitada no chão. 

Tpm. Pensa em casar de novo?
Maitê. Tenho muito amor para dar. Isso tem que ter um escoadouro. Será que passo a fazer caridade? Tenho que dar esse amor para alguém. Provavelmente vou me casar de novo, mas não sei como seria. E não fico ansiosa por isso, esperando. Estou saindo de uma história, não sou dessas pessoas que, no dia seguinte, já está com outro, que tem cinco amores em um mês. As pessoas não ficam mais de luto! No momento, ainda não cabe ninguém aqui.

Tpm. Solidão te incomoda?
Maitê. Me incomoda mais ter que sair toda hora do que ficar quieta em casa. Se pudesse escolher, acordava às 6 h e ia dormir às 19 h. Gosto da noite, mas me cansa chegar em casa, tomar banho, me arrumar e sair de novo. 

Tpm. Você teve uma fase boêmia, de usar muitas drogas. Parou completamente?
Maitê. Tomo cerveja, mas drogas não.

Tpm. Drogas chegaram a ser um problema?
Maitê. Sempre tive um instinto de sobrevivência que me avisava quando era hora de parar. Vi gente ter overdose. Nunca cheguei nem perto disso. Nunca comprei droga. As pessoas davam, rolava fácil, elas queriam companhia. Era moleza. Eu me entupi com o negócio, depois me deu nojo. Hoje, não posso ver cocaína.

Tpm. Você virou colunista da revista Época. O que está achando da experiência de escrever?
Maitê. Eu gosto. Escrever é uma experiência interessante. No palco, você está sempre apoiada num autor, num personagem que não foi você quem criou. Na hora de escrever, você está sozinha. É sua cabeça, suas idéias e o computador. Acho uma delícia. Às vezes, não sei como terminar. Porque eu começo sem saber aonde vou chegar. E tem que chegar a um lugar mais ou menos genial para ter cagado tanta regra, né? Tenho uma página inteira! 

Tpm. Você está fazendo Malhação. Não tem saudades de ser estrela da novela das oito?
Maitê. No início eu tinha um preconceito. Mas gosto de Malhação porque é um bando de gente superjovem, que tem vontade de aprender. Novela chega uma hora que dá um tédio... Em Malhação, todo mundo acha tudo interessante. Mas vou deixar o elenco porque vou fazer a próxima novela das sete. Estou triste de sair. Há muito tempo não trabalhava tão feliz.

Tpm. Você tem 43 anos. É mais difícil envelhecer para quem é símbolo sexual?
Maitê. O mundo hoje tem essa cobrança da juventude. Na TV, se você passa dos 40, já começa a fazer papel de mãe. Eu fiz a mãe da Giovanna Antonelli! Eu acho que eles têm horror a gente velha. Daqui a pouco vou estar fazendo a mãe do Dênis Carvalho [risos]. Estigmatizam você e aí não dá mais para fugir da personagem. Agora, só sirvo para fazer mãe. 

Tpm. E qual vai ser sua opção, aceitar envelhecer ou retardar o processo?
Maitê. Ai, não sei, sou aquariana. O que eu falo hoje, desminto amanhã. No meu trabalho, chega uma idade em que eles não sabem mais o que fazer. Você não é mais a garotinha. Quem escala o elenco na TV geralmente é homem. E ele não sabe o que fazer quando deixa de ter tesão. Porque é assim que eles escolhem! Homem pensa com a cabeça de baixo. Estou generalizando, claro, mas é inconsciente. Homem tem tesão por mulher até os 30. Entra na faixa dos 40, e ele já não sabe mais como se relacionar com aquele bicho. É uma garotinha? É a mãe? Aí, ou você estica esse tempo com plástica e vai enganando, ou perde a personagem. E vai ficando pobre. 

Tpm. E você, como fica nessa história?
Maitê. Tem horas que dá vontade de entrar numa clínica e puxar tudo, enfiar uma agulha no umbigo [risos]. Uma vez, a mãe do Ney Latorraca fez plástica, e eu perguntei: “E aí Ney, a dona Nena ficou bacana?”. E ele respondeu: “Ficou mãe menininha. Mãe da cintura para baixo e menininha da cintura para cima”. Pô, não quero ser mãe menininha! [Risos.] Porque, se você faz a cara, tem que fazer a barriga, depois suspender o peito. Vira um negócio! Deve ser o que a Demi Moore fez. Ela deve ter passado um ano anestesiada! Está um espetáculo, mas tem um custo. Um custo para a saúde. Externamente fica lindo, mas internamente você envelheceu tomando anestesia, se cortando, se ferindo, tomando analgésico. Qualquer cirurgia é um trauma para o corpo. Você vai e faz 20?

Tpm. Então você não vai fazer plástica?
Maitê. Neste momento, resolvi que não vou fazer nada! Vai ficar do jeito que está por um tempo, não sei quanto. Nem creme passo. Só filtro solar. Estou numa fase um pouco rebelde, quero ir contra a outra Maitê, que está doida para se internar. A rebelde acha a outra uma idiota.

Tpm. Se não fosse atriz, você teria essa preocupação?
Maitê. Com certeza não teria. Não tenho tanta vaidade assim. O problema é que vejo os meus defeitos no vídeo. Em close, enormes. A cara fica do tamanho da bunda!

Tpm. Você é espiritualizada. Isso faz com que você tenha uma relação mais tranquila com o envelhecimento?
Maitê. Quero aceitar, né? A gente não gosta de ver que a pele ficou mais mole, só que eu também gostaria de ter mais 7 cm de perna. Mas o que sou é isto aqui, este é meu material. Tenho que fazer o melhor dentro disso. Não vou me enganar nem enganar os outros, senão fico desinteressante. A gente se sente bem do lado de gente verdadeira. Como são feitas as amizades? Quando você pára de fazer tipo. O que é se tornar íntimo? É deixar o tipo cair.

Tpm. Você faz muito tipo?
Maitê. Hoje não. Mas eu ficava mais na defesa. Talvez eu ameaçasse muito as pessoas com a beleza. Eu não entendia por que estava incomodando. Descobri que era bonita quando virei atriz. Meu pai cortava meu cabelo no barbeiro. Não me lembro de ter saído para comprar roupa com a minha mãe nunca. Até os 12 anos, acho que vivi pelada. Pelada mesmo! Morava praticamente na praia, em Ubatuba.

Tpm. Não tinha preocupação estética?
Maitê. Não. Nunca fiz unha. Depilei a perna pela primeira vez quando casei com o Paulo [Marinho, ex-marido]. Ele me levou à força e falou: “Tira esses pêlos que eu não gosto”. Minha primeira depilação foi aos 24 anos! Mas a unha, olha [mostra], não está feita. O cabelo, também não pinto. Faço luzes só em cima. Embaixo, tenho preguiça. Sempre fui moleca. Quebrei 16 ossos brincando, não pensando. 

Tpm. Como foi descobrir que era bonita?
Maitê. Um susto. Quando fui para a TV Globo, tinha acabado de voltar da Índia, caí de pára-quedas, eram outros valores. Meus pais eram intelectuais. Eu era meio hiponga. Quando começaram a falar que era linda, demorou até cair a ficha de como aquilo incomodava as pessoas. E eu não era burra! Ficava desconcertada, achava que me odiavam. Isso me atrapalhou como atriz. Para soltar os sentimentos, você tem de estar segura. E eu era insegura, não agradava ninguém. Quando comecei a trabalhar na Globo, não sabia quem era famoso. Na minha casa não tinha TV e passei muito tempo fora do país. Eu não cumprimentava os atores porque não sabia quem eles eram. E eles me achavam antipática. Aos poucos, aprendi a fazer o jogo, a ser meio falsa: “Oi querida, meu amor!”. Tudo é superlativo no Rio: lindíssima, érrimo, espetáculo, incrível [risos].

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