Uma das melhores atrizes de sua geração, ela transita entre Globo, cinema e noites do Rio
Lembra da Leandra Leal, a menina com sorriso doce e jeito ingênuo que estreou na TV aos 8 anos? Pode esquecer. Hoje, aos 28, é apontada como uma das melhores atrizes de sua geração, foi premiada pelo filme Estamos Juntos, tem destaque no horário nobre da Globo e vem se firmando como agitadora cultural no Rio de Janeiro
"Ela é fofa!” Esse foi o comentário que a reportagem da Tpm mais escutou ao contar que Leandra Leal seria a capa desta edição. Uma imagem que se explica no ar angelical que a acompanha desde que apareceu na TV, em Pantanal, aos 8 anos. Também quando ganhou fama como a mocinha da novela O Cravo e a Rosa, em 2000 – numa fase gordinha, que até hoje lhe rende perguntas de jornalistas em busca de “dicas de dieta”. Para completar, numa busca no Google, a atriz aparece sorrindo em todas as fotos. Mas quem abre a porta é uma mulher de 28 anos, expressão séria. Ela veste calça jeans justa e blusa de algodão preta. Descalça, com os cachos molhados, avisa que é melhor começar a entrevista enquanto termina de se arrumar, pois está numa correria danada. Acaba de chegar da filmagem do clipe que dirigiu do 3 Na Massa – projeto de Dengue, Pupillo (Nação Zumbi), Rica Amabis (Instituto), com participação de Céu, Pitty, entre outras cantoras. E aguarda o motorista que a levará para ser entrevistada no Programa do Jô.
Leandra é carioca e mora no Rio de Janeiro, mas mantém este apartamento próximo ao centro de São Paulo. A atriz se maquia no sofá porque o banheiro está sem espelho. O meio da sala é ocupado por uma mala aberta, com roupas espalhadas pelo chão. Ela explica que está usando objetos da decoração de sua casa no clipe, o que justifica o cenário caótico. Mas “bagunceira” é um dos primeiros adjetivos escolhidos por sua mãe, a atriz Ângela Leal, para definila. “Ela sempre foi assim. Também sempre foi responsável. E tem uma organização boa de cabeça, é muito criativa”, afirma.
Organização e criatividade são descrições fáceis de reconhecer em sua personalidade, pela quantidade de projetos que toca simultaneamente. Por exemplo, em janeiro deste ano, quando chegou ao fim a nona novela de sua carreira, Passione, ela foi do horário nobre da Globo, em que fazia a cômica Agostina, para o teatro, se apresentar em ObsCena, uma peça que misturava interpretação, música e performance, dirigida por Christiane Jatahy. À frente da produtora Daza Cultural, que divide com as amigas Carolina Benjamin e Rita Toledo, vai começar a rodar este mês três longas, com mesma equipe e elenco – Leandra e Mariana Ximenes protagonistas – com jovens diretores: Bruno Safadi, Felipe Bragança e Ricardo Pretti. Além disso, entre 23 de agosto e 4 de setembro vão promover a segunda edição do Festival Adaptação, uma oficina de produção de curtas e laboratório de roteiros de longas gratuitos (com consultoria de Walter Lima Jr., David França Mendes e da mexicana Paz Alicia Garciadiego).
Mulherão
Ao mesmo tempo, acaba de protagonizar Estamos Juntos (dirigido por Toni Venturi), que faturou sete prêmios, entre eles o de melhor atriz, no Festival de Cinema de Pernambuco 2011. A atriz Camila Pitanga, que conheceu Leandra na infância, reconhece sua “pluralidade”. “Lembro do primeiro aniversário dela em que fui, Leandra já tinha um espírito agregador, sempre cheia de amiguinhos. É esse jeito que faz com que ela transite em vários segmentos: teatro, Globo, documentário...”, pontua a amiga.
“A mulher já achou um lugar. O gênero que está em crise agora é o masculino. Esse é o desafio. Como é viver de igual pra igual com outro ser humano?”
O projeto “Rival mais Tarde” – promovido pela Daza Cultural – ganhou repercussão e atraiu o público por apresentar jovens artistas (entre eles, Tiê, Tulipa Ruiz, e Karina Buhr) e fez com que o local se firmasse como referência de música contemporânea no Rio. Por ora, o lugar apresenta shows (passaram por lá também Do Amor e Maria Gadú), mas Leandra pretende mudar isso. “Quero levar teatro para lá.” Quando não está trabalhando, ela pode ser vista na noite paulistana, em clubes como Studio SP, de propriedade de AlexandreYoussef, seu namorado há um ano.
Não dá para negar que desde o ano passado, quando estreou Passione e separou do músico Lirinha (ex-vocalista da banda Cordel do Fogo Encantado, no momento em estúdio gravando o primeiro álbum solo), com quem viveu por oito anos, Leandra parece mais magra e com um ar mais mulherão, reforçado pelo corte de cabelo curto e repicado. Praticante de pilates, ela diz ser um amadurecimento natural da idade. Mas Camila Pitanga vê uma mudança na maneira de a amiga lidar com a estética. “Ela está muito gata! Como é uma pessoa de militância, cabeça, acho que deixava de lado o cuidar de si. Agora encontrou a medida entre cuidar do corpo e não abrir mão do ser político”, conclui.
Leandra deixa claro que malha para ter o corpo que tem. E se indigna com o discurso “nasci assim” de algumas colegas de profissão que dizem comer de tudo, não praticar esportes – e mesmo assim estão sempre em forma.
O motorista da Globo chega e o interfone no apartamento toca. Leandra fuma um cigarro enquanto fala sobre política e cultura como se tivesse pressa: emenda frases com a respiração ofegante, aumenta o tom de voz e repete várias vezes as palavras “cara” e “absurdo”. Gosta de Dilma, mas não de que ela tenha se posicionado a favor do aborto antes da campanha e, no meio do caminho, “tenha mudado de ideia”. Na cultura, ela aprecia a diversidade da produção cinematográfica brasileira, mas, quanto ao teatro, acredita que a Lei Rouanet sozinha não é solução, pois privilegia quem já é famoso. “As empresas querem investir em quem vai garantir visibilidade, ninguém quer investir no novo”, critica.
Super Fidel
Sua visão de mundo carregada de inconformismo tem raízes na criação. Filha única, ela perdeu o pai quando tinha 12 anos – o advogado Julio Braz sofreu complicações ligadas ao coração. Desde então, cresceu ao lado da mãe e de seus amigos artistas. Conviveu com figuras como Dias Gomes e Grande Otelo. E as histórias que embalavam seu sono eram, além de contos de fadas, sagas políticas e reais. “Fidel Castro era um super-herói para ela”, lembra a mãe, que, nessa época, foi diversas vezes para o Festival de Cinema de Havana, em Cuba. Em uma das viagens, levou a filha, e Fidel quis conhecê-la. “Ele a pegou no colo, ela ficou mexendo na barba dele. Depois, andaram de mãos dadas. De um lado Fidel, e, do outro, Gabriel García Márquez.”
“Emendei trabalhos. Me separei, fiquei um tempo só, depois comecei a namorar... Precisava parar um pouco, ver se estava tudo bem”