Kramer vs Kramer

Tpm

por Tania Menai

Há implicânciazinhas conhecidas como Turquia e Grécia, França e Inglaterra, Rio e São Paulo, Nova York e Los Angeles – o ser humano é meio infantil, fazer o quê? Há também guerras não-declaradas, como a do Rio de Janeiro. E implicâncias não-declaradas como a turma do East Side e a do West Side, em Manhattan.

Por partes: a ilha é dividida em Leste (East) e Oeste (West) pela avenida que a corta bem no meio, a Quinta Avenida. Tudo que é pra um lado é East, tudo que é pra outro é West – inclusive a numeração dos prédio começa do ponto zero a partir daí. Só que a divisão é mais do que numérica. É ideológica. Na parte sul da ilha o problema não existe, mas na parte norte, onde o East e West são divididos pelo Central Park, a coisa fica complicada.

Sabe-se que no East moram magnatas do “old money”, filantropos de famílias tradicionais, daquelas em que as mulheres se definem como “ladies who lunch” – mulherada altamente maquiada que quando tem muito o que fazer, significa que foi almoçar com as amigas. Aquelas, dos cartoons da New Yorker, saca? Esse povo mora, normalmente, entre a Quinta e Park Avenue. Depois disso, vive gente financeiramente normal (para padrões nova-iorquinos). Há também muita gente de banco e médicos vivendo por ali, devido à proximidade de bancos e consultórios concentrados na Park Avenue. Linha de metrô, só uma – ruim para quem precisa, e indiferente para as madames e seus poodles. E não conta pra ninguém: mas se tem alguém que vota no Bush em Nova York, é lá que essa pessoa mora.

Aí tem a galera do West – também com dinheiro, mas um povo que prefere calça caqui e camiseta. São escritores bem sucedidos, gente que circula nos meios culturais, muitos casais jovens empurrando um milhão de carrinhos de bebê. Fica próximo à Columbia University, tem três linhas de metrô, o número de sinagogas equipara-se a o número de igrejas em Salvador e a livraria fica aberta até meia-noite. Inclusive, morar hoje no West Side é mais caro que no East, onde os apartamentos caíram de preço por não ser mais considerado um bairro “hip”.

A briga é silenciosa e feia. A escolha do bairro, é sabido, quase define a sua personalidade. Por isso, cruzar o parque para jantar num restaurante do ouuuutro lado, nem pensar. Também é mais fácil namorar alguém de fora da cidade do que alguém que mora “crosstown” – isso porque há mais chances de o cônjuge de fora se mudar pro seu lado, do que um Montecchio do East virar um Capuleto do West. Melhor evitar suicídios.

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